Visto da Lapa, tendo os Arcos como uma espécie de guia para o olhar, o corredor de grandes prédios ao longo da Avenida República do Chile se impõe na paisagem. Dois deles roubam a cena: a Catedral Metropolitana de São Sebastião e o edifício sede da Petrobras. As duas joias modernistas, erguidas quase simultaneamente entre o fim dos anos 1960 e meados da década seguinte, passam por reformas estruturais — pela primeira vez em cerca de 50 anos de existência. Mudanças nas fachadas, que no caso da Catedral incluem a presença de operários em rapel, têm chamado a atenção de quem passa pela região.
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O aspecto atual do prédio que virou uma espécie de símbolo da gigante do petróleo brasileiro causa surpresa. Com os andares vazios, sem mobília ou divisórias, e livre dos elementos que compõem sua fachada, especialmente o conjunto de brise-soleils em alumínio que imprime marca única ao seu visual, o Edise — forma abreviada para edifício sede, como é conhecido — parece outro. A impressão que se tem é de que está ainda em construção. As enormes colunas que atravessam a estrutura de alto a abaixo, antes visíveis apenas nos enormes vãos abertos — outra marca de estilo do imóvel — agora podem ser vistas por inteiro.
— Recentemente fui ao Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU-RJ), no 23º andar do antigo prédio do BNH, ali do lado, e quando olhei pela janela disse: “Caramba”. Causa surpresa. É um prédio de arquitetura marcante, é natural que as pessoas fiquem curiosas ao perceber essas mudanças — comenta a arquiteta e urbanista Marcela Abla, presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil no Rio (IAB-RJ).
Ícones do modernismo em obras
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Catedral Metropolitana e edifício sede da Petrobras passam por obras estruturais — Foto: Márcia Foletto
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Sem brise. Colunas e andares vazios à mostra no edifício sede da Petrobras — Foto: Márcia Foletto
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Campanário e sinos da Catedral também são recuperados — Foto: Márcia Foletto
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Estrelas do pedaço. Vitrais estão passando por amplo processo de recuperação na Catedral Metropolitana — Foto: Márcia Foletto
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Obras na Catedral acontecem na área externa e interna — Foto: Márcia Foletto
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Tudo aparente no prédio da Petrobras — Foto: Márcia Foletto
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Reforma na Catedral inclui intervenção inédita no interior do templo — Foto: Márcia Foletto
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Rapel na obra da Catedral Metropolitana — Foto: Márcia Foletto
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Edifício da Petrobras em obras — Foto: Júlia Aguiar
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Edifício da Petrobras em obras — Foto: Júlia Aguiar
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Catedral Metropolitana e edifício da Petrobras vistos da Lapa — Foto: Luis Alberto / 20.07.1973
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Catedral Metropolitana e edifício sede da Petrobras ainda em obras — Foto: Luiz Pinto/ 12.01.1973
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Catedral Metropolitana e edifício sede da Petrobras passam por ampla reforma no Rio
A história do Edise tem raízes no instituto hoje presidido por Marcela. O projeto arrojado do prédio surgiu como parte de um concurso nacional promovido em 1967 pelo então IAB da Guanabara. O certame recebeu mais de 200 inscrições e foi vencido pelo “Grupo do Paraná”, formado pelos arquitetos José Maria Gandolfi, Abrão Anis Assad, José Sanchotene, Luiz Forte Netto, Roberto Luiz Gandolfi e Vicente de Castro Neto.
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Embora mais visíveis que nunca, as obras no prédio da Petrobras foram anunciadas e começaram para valer em 2021. Após uma interrupção, foram retomadas no ano passado e só devem ficar prontas em setembro de 2027. A empreitada — orçada em pouco mais de R$ 1,3 bi —, a cargo da empresa Engemon Comércio e Serviços Técnicos Ltda, inclui elaboração de projeto executivo, construção, montagem e desmontagem, comissionamento e suporte a pré-operação, operação assistida do projeto de revitalização do Edise e do seu edifício garagem, o Gedise, além do fornecimento de bens.
Em nota, a Petrobras informa que os trabalhos visam a uma revitalização estrutural do edifício “devido ao desgaste natural decorrente dos 50 anos de uso, bem como a adequação a normas de segurança predial”. A fase atual do trabalho, segue a nota, contempla “a remoção dos elementos da fachada existente, que serão substituídos por novos, mantendo a arquitetura original do edifício e de seus jardins” que levam a assinatura de Burle Marx.
Atravessando a Avenida República do Paraguai, a vizinha — e igualmente icônica — Catedral Metropolitana, projetada pelo arquiteto Edgar de Oliveira Fonseca, segue em ritmo frenético e inédito de obras. Os trabalhos, iniciados em novembro do ano passado, e custeados pelo governo do estado, são avaliados em cerca de R$ 70 milhões.
Sede da Petrobras e Catedral Metropolitana: reformas completas a R$1,3 bilhão e R$ 70 milhões respectivamente — Foto: Márcia Foletto
A expectativa é que tudo esteja estalando de novo no ano que vem, bem a tempo de três celebrações importantes para a Arquidiocese do Rio: os 450 anos da criação da Prelazia do Rio de Janeiro, ocorrida apenas dez anos após a fundação da cidade; os 350 anos da elevação à condição de Diocese e os 50 anos da sagração, em novembro de 1976, pelo cardeal dom Eugenio Sales, do altar-mor da então novíssima Catedral Metropolitana.
— Estamos realizando uma limpeza completa da estrutura, com lavadoras de alta pressão de última geração para remover toda a poluição e impurezas do concreto aparente. Também estamos fazendo prospecções para identificar pontos deteriorados, tanto do concreto quanto das armaduras metálicas. Após essa etapa, fazemos a recuperação, para só então aplicar um revestimento especial — explica o técnico em edificações Graziane de Luca, da SD Engenharia, empresa responsável pela obra.
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O trabalho mobiliza operários especializados em rapel tanto na parte de fora quanto por dentro, onde o desafio, dada a inclinação negativa, é ainda maior. É a primeira vez que essa intervenção é feita na parte interna: tanto que operários têm encontrado resíduos deixados ainda na época da construção. O sistema de drenagem das águas de chuva também foi revisto, assim como o campanário e os sinos, que estão sendo reformados e logo voltarão a badalar alto.
A grande estrela do pedaço, no entanto, é silenciosa. Mas brilha forte. Os vitrais montados em concreto armado — os maiores do mundo nesse segmento — passam por minucioso processo de restauração. É trabalho à beça: são 2.040 blocos retangulares nos quais 102 mil pedaços de vidro colorido com 20 milímetros de espessura foram alocados para formar desenhos dos quatro imensos painéis alinhados aos pontos cardeais.
‘Ver essa restauração acontecendo é a realização de um sonho’, diz o vitralista Cláudio Sacramento — Foto: Márcia Foletto
Vida devotada aos vitrais
Encarregado do trabalho, o vitralista Cláudio Sacramento acompanha tudo com gosto. Ainda jovem, na Pastoral do Menor, chegou à catedral e foi levado por dom Eugenio Sales até o artesão Paulo César Ribeiro de Oliveira, encarregado dos vitrais à época. Aprendeu com ele o ofício e, após sua morte, o substituiu.
— Agradeço a essa casa que me acolheu. Eu tinha meu pai ausente e aqui ganhei meu sustento, minha profissão e o reconhecimento que tenho hoje como artista. É a minha casa. Ver essa restauração acontecendo é a realização de um sonho — conta Cláudio.
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Embora icônicos, os dois prédios nunca foram unanimidades — assim como o próprio modernismo e suas variantes.
— Críticas estéticas sempre aparecem, mas essas obras são respostas arquitetônicas coerentes com seu tempo e sua função. Rompem com uma forma tradicional de se projetar, e isso acaba causando certa estranheza — diz a arquiteta e urbanista Michelle Beatrice, vice-presidente do CAU-RJ.