A lista de financiadores do PSD no ano em que Marques Mendes chegou à liderança do partido revela os nomes de uma ex-secretária e uma ex-colaboradora nomeadas pelo próprio para trabalharem consigo no governo
A investigação à contratação até agora nunca revelada de Marques Mendes por uma empresa de construção civil, com uma avença de 5 mil euros por mês, entre 2010 e 2016, levou a TVI/CNN Portugal a pesquisar um outro nome que o acompanhou no contrato inicial assinado com a Alberto Couto Alves, SGPS.
No mesmo dia em que Marques Mendes assinou com a construtora para fazer consultoria durante cinco anos, também a sua secretária pessoal – que o acompanhava há pelo menos duas décadas, em vários governos – foi contratada pela mesma construtora para serviços de secretariado em Lisboa, incluindo a realização de reuniões e tratamento de documentação, numa contratação aparentemente lógica tendo em conta que já trabalhava, noutras funções privadas, com o agora candidato presidencial.
A pesquisa sobre a secretária detetou, porém, um facto estranho: a lista oficial de donativos do PSD em 2005 – ano em que Marques Mendes foi eleito líder do partido – indica o nome de Francisca Lima como uma das financiadoras dos social-democratas, com um donativo de 8 mil euros.
Secretária sublinha que tem cinco filhos
A secretária de Marques Mendes, à época nomeada como funcionária do grupo parlamentar, surge entre os 30 maiores doadores do PSD numa longa lista com mais de 600 nomes, a esmagadora maioria donativos muitíssimo mais pequenos.
Contactada, Francisca Lima nega completamente que alguma vez tenha doado dinheiro ao PSD, admitindo-se estupefacta com aquilo que a TVI/CNN Portugal lhe revelou, mas confirmando que o nome completo e o número de contribuinte são os seus.
A antiga secretária de Marques Mendes admite como hipótese que alguém tenha usado os seus dados, pois sempre esteve muito longe de ter dinheiro para um donativo deste género, sublinhando que tem cinco filhos.
Usar o nome de outra pessoa num donativo partidário arrisca-se a ser crime, podendo ser uma forma de esconder financiamentos proibidos. A lei é muito clara: donativos de montantes mais elevados, como este, têm de ser feitos por algum meio bancário para ser possível confirmar a origem.
Outra ex-colaboradora deu 9 mil euros
A lista de doadores do PSD de 2005 tem outro nome que corresponde ao de uma antiga colaboradora de Marques Mendes no anterior governo – também agraciada com um louvor do próprio, publicado em Diário da República –, que surge na lista com uma doação ainda mais elevada (9 mil euros).
Ao contrário da ex-secretária Francisca Lima, neste caso a própria Clara Costa confirma que doou mesmo 9 mil euros ao partido, explicando que é do mesmo município de Marques Mendes, conhecem-se há muito tempo e são amigos.
Na altura, o maior donativo permitido por lei rondava os 9.300 euros e muito poucos andavam próximos destes montantes.
A lista oficial de doadores do PSD permite perceber que ambos os donativos – da ex-secretária e da ex-colaboradora – terão sido registados na mesma altura pois têm uma referência numérica quase idêntica (H0011 e H0012).
Contactado pela TVI/CNN Portugal, ao telefone, o agora candidato presidencial diz que desconhecia por completo que os nomes das suas antigas colaboradoras constavam na lista de doadores no ano em que foi eleito líder dos sociais-democratas.