Exige respeito pessoal, institucional, diplomático e comercial. Isto não é só sobre a guerra de tarifas

O aumento das tarifas dos EUA sobre os produtos brasileiros, agora em 50%, não mexe com a determinação de Luiz Inácio Lula da Silva. A “humilhação” de negociar com Donald Trump (quando Trump não aparenta querer) não está em agenda. “O dia em que a minha intuição me disser que Trump quer falar, eu não hesito em ligar-lhe. Mas hoje não quer. E eu não me vou humilhar”, disse o Presidente brasileiro, desde a residência oficial em Brasília, em entrevista à Reuters

A relação entre Brasil e EUA atingiu, nas palavras de Lula, um “fundo de poço” histórico, num momento em que Trump condiciona o fim das tarifas à interrupção do processo contra Jair Bolsonaro, ex-presidente acusado de tentar reverter as eleições de 2022. Lula, à Reuters, e sem rodeios, apelida Bolsonaro “traidor da pátria” e defende que a justiça brasileira, ao contrário do que pensa Trump, não se submete a “pressões externas”.

“O Supremo Tribunal não liga ao que Trump diz, nem deve ligar”, sublinha. Recorda ainda a intervenção norte-americana no golpe militar de 1964 e rejeita a ideia de que os EUA possam ditar regras a um país soberano como o Brasil. “É inaceitável.”

Lula mantém as portas abertas a contactos ministeriais com Washington, mas garante que o Governo brasileiro aposta sobretudo em medidas internas para mitigar o impacto económico, sempre “com responsabilidade fiscal”. Além disso, está a preparar uma resposta coordenada com os BRICS, iniciando conversações com Índia e China, numa clara demonstração de que o Brasil procura alternativas à hegemonia americana.

No horizonte está também uma nova política nacional para os minerais estratégicos do país, vistos como “soberania nacional”, numa tentativa de valorizar recursos que até agora têm sido exportados com pouco retorno económico.

Lula da Silva não nutre ressentimentos pessoais contra Trump mas condena as humilhações públicas que o presidente americano infligiu a líderes estrangeiros noutras ocasiões. “Um presidente não pode humilhar outro. Eu respeito todos e exijo respeito.”