Oscar, Globo de Ouro, Urso de Prata no Festival de Berlim, prêmios de melhor direção e ator em Cannes e de melhor roteiro em Veneza… O clima foi de orgulho e celebração no cinema brasileiro no último ano. E aproveitando as festas de seu centenário, o GLOBO decidiu unir as comemorações e convidar mais de 100 cineastas brasileiros para uma missão: escolher os melhores filmes nacionais do século XXI.
O ambiente especial do GLOBO traz a lista completa dos 50 melhores filmes brasileiros do período, com informações sobre cada obra e depoimentos de votantes, além da possibilidade do leitor criar seu próprio ranking. Confira no link abaixo:
- Os 50 melhores filmes brasileiros do século XXI: confira os longas selecionados por diretores, monte a sua lista e compartilhe
De realizadores consagrados como Fernando Meirelles, Anna Muylaert, Bruno Barreto, Heitor Dhalia, Karim Aïnouz, Vicente Amorim, Jorge Furtado e Petra Costa, a atores com trabalhos na direção como Antonio Pitanga, Lázaro Ramos, Selton Mello, Leandra Leal e Caio Blat. De veteranos como Daniela Thomas, Helena Solberg, Ivan Cardoso, Joel Zito Araújo, Walter Carvalho e Zelito Vianna a mais jovens como Gabriel Martins, Glenda Nicácio, Maria Clara Escobar, Matheus Souza e Yasmin Thayná. Os cineastas encaminharam suas listas dos dez longas-metragens nacionais favoritos lançados no século, sem ordem de preferência. Votações concluídas, informações computadas e cruzadas, chegou-se a uma seleção final.
A missão não foi nada fácil. Entre janeiro de 2000 e junho de 2025, nada menos que 2.579 longas tiveram lançamento comercial nas salas de cinema do Brasil, segundo dados do site Filme B. A vasta quantidade e qualidade das produções dificultaram o trabalho dos votantes. “Selecionei filmes que me impactaram. Provavelmente, se tiver que fazer isso de novo as opções irão variar”, escreveu Fernando Meirelles ao enviar sua lista. Quem também sofreu foi Marcos Jorge, que afirmou: “Tarefa difícil essa. Foi um sacrifício limar filmes excelentes e imperdíveis da lista.” Já Rosane Svartman preferiu se ausentar da votação e brincou: “Vou panicar se tiver que fazer essa lista”.
Johnny Massaro foi reflexo da dificuldade da escolha. “Aff, isso é muito difícil”, se divertiu o ator e diretor que editou sua lista quatro vezes antes de chegar na versão final. Já a diretora Sabrina Fidalgo pediu um prazo maior para fazer o dever de casa e quis assistir a alguns filmes que ainda não tinha visto. A lista completa com os 117 realizadores que participaram da votação está disponível no site do GLOBO.
Clássico moderno indicado a quatro estatuetas do Oscar, “Cidade de Deus” (2002) foi o escolhido como o melhor filme nacional do século XXI pelos diretores brasileiros. O drama de Fernando Meirelles, com codireção de Kátia Lund, foi citado em mais de 50% dos votos. Adaptação de romance homônimo de Paulo Lins, o filme impulsionou as carreiras do roteirista Bráulio Mantovani, do montador (e hoje diretor) Daniel Rezende, do diretor de fotografia César Charlone e de muitos atores, como Alexandre Rodrigues, Leandro Firmino, Douglas Silva, Roberta Rodrigues, Alice Braga, Seu Jorge, dentre outros.
Cena do filme ‘Cidade de Deus’ — Foto: Reprodução
— Com direção e montagem impecáveis, atuações marcantes e uma brasilidade pulsante, “Cidade de Deus” atravessou fronteiras e transformou a forma como o cinema brasileiro é visto no mundo — destaca Carlos Saldanha, diretor conhecido pelo trabalho nas animações “Rio” (2011) e “A era do gelo” (2002), e que assistiu ao longa de Meirelles em Nova York. — Foi uma experiência inesquecível. A sala estava lotada de brasileiros e estrangeiros, e as reações foram unânimes. Todos saímos emocionados, impactados e orgulhosos da força desse filme.
O oscarizado “Ainda estou aqui”, de Walter Salles, ficou com a medalha de prata na votação. O Original Globoplay estrelado por Fernanda Torres e inspirado em livro de Marcelo Rubens Paiva sobre o desaparecimento de seu pai durante a ditadura militar levou 5,8 milhões de pessoas às salas de cinema do país, sendo o filme mais visto pós-pandemia. E também encantou os colegas de profissão de Salles.
— “Ainda estou aqui” é um filme que coloca a história e a emoção que provoca acima de tudo. Não tem firulas, é sóbrio, elegante, e abre espaço para os atores brilharem. Um filme maduro de quem sabe onde pisa — afirma Fernando Meirelles. — Além disso, é o filme certo na hora certa. Lembra a quem tem menos de 50 anos e andou pedindo intervenção militar o que significa ser privado de democracia.
Fernanda Torres em cena de “Ainda estou aqui” — Foto: Reprodução
De comédias populares como “Saneamento Básico, o filme” (2007) e “O auto da compadecida” (2000) a obras cultuadas como “Que horas ela volta?” (2015) e “Marte um” (2022), sem esquecer de documentários como “Serras da desordem” (2006) e “Martírio” (2016), a seleção comprova a potência do nosso cinema.
Eduardo Coutinho, com “Edifício Master” (2002) e “Jogo de cena” (2007), é o único realizador com dois filmes no top 10, enquanto que Karim Aïnouz foi o com maior número de participações na seleção. O cineasta cearense tem nada menos que quatro obras entre as 50 melhores: “Madame Satã” (2002), “O céu de Suely” (2006) , “A vida invisível” (2019) e “Viajo porque preciso,volto porque te amo” (2009), codirigido por Marcelo Gomes, que também está na lista com “Cinema, aspirinas e urubus” (2005). Salles, com “Ainda estou aqui” e “Abril despedaçado” (2001), Kleber Mendonça Filho, com “O som ao redor” (2012), “Aquarius” (2016) e “Bacurau” (2019), Adirley Queirós, com “Branco sai, preto fica” (2014) e “Mato seco em chamas” (2022), José Padilha, com “Ônibus 174” (2002) e “Tropa de elite” (2007), André Novais Oliveira, com “Ela volta na quinta” (2015) e “Temporada” (2018) e a dupla Juliana Rojas e Marco Dutra, com “Trabalhar cansa” (2011) e “As boas maneiras” (2017), também tiveram mais de uma menção na lista.
Karim Aïnouz em praia do Ceará que serve de locação para ‘Motel destino’ — Foto: Divulgação / Jarbas Oliveira
A lista dos 50 melhores filmes brasileiros do século XXI (confira os dez primeiros abaixo e a lista completa aqui) conta com produções de quase todos os anos do período, incluindo 2025, representado por “Homem com H”, cinebiografia de Ney Matogrosso por Esmir Filho, que ficou na 50ª posição. O ano com maior número de obras na lista é 2007, com um total de seis menções: “Jogo de cena”, “Tropa de elite”, “Santiago”, de João Moreira Salles, “Estômago”, de Marcos Jorge, “Saneamento básico, o filme”, de Jorge Furtado, e “Mutum”, de Sandra Kogut.
Ainda que a seleção apresente uma representatividade e diversidade maior do que a imaginada em outros períodos do cinema nacional, a votação ainda reflete uma cinematografia que ainda é majoritariamente realizada por homens brancos. Ao todo, entre direções e codireções, são 13 obras realizadas por mulheres, incluindo duas no top 10: “Que horas ela volta?” (2015), de Anna Muylaert, e “Bicho de sete cabeças” (2000), de Laís Bodanzky. A presença feminina foi de 26% na lista final e de aproximadamente 40% no corpo de votantes. Já os filmes com realizadores negros formam apenas 8% da lista, com só um entre os dez primeiros, “Marte um” (2022), de Gabriel Martins. Diretores negros compõem cerca de 12% dos eleitores.
‘Marte um’, de Gabriel Martins — Foto: Divulgação
A seleção reflete também a maior descentralização do cinema nacional nas últimas décadas. Ainda que São Paulo seja o local com o maior número de realizadores presentes no top 50, com 11 cineastas nascidos no estado, há de se destacar a presença de oito realizadores de Pernambuco, seis de Minas Gerais e do Rio de Janeiro, três do Ceará e do Distrito Federal e nomes de Goiás, Bahia, Paraná e Rio Grande do Sul.
- ‘Cidade de Deus’ Fernando Meirelles (2002)
- ‘Ainda estou aqui’ Walter Salles (2024)
- ‘O som ao redor’ Kleber Mendonça Filho (2012)
- ‘Que horas ela volta?’ Anna Muylaert (2015)
- ‘Edifício Master’ Eduardo Coutinho (2002)
- ‘Madame Satã’ Karim Aïnouz (2002)
- ‘Jogo de cena’ Eduardo Coutinho (2007)
- ‘Cinema, aspirinas e urubus’ Marcelo Gomes (2005)
- ‘Marte um’ Gabriel Martins (2022)
- ‘Bicho de sete cabeças’ Laís Bodanzky (2000)