No penúltimo frente-a-frente da ronda de 28 debates entre candidatos às eleições presidenciais, Catarina Martins e Jorge Pinto passaram metade do tempo a discutir a União Europeia. O candidato apoiado pelo Livre pôs o tema em cima da mesa, dizendo que a posição que tem sobre a Europa é uma “divergência clara” face à candidatura da ex-líder do Bloco de Esquerda. De resto, os dois candidatos a Belém defenderam-se dos apelos ao voto útil em António José Seguro.

O debate abriu com o moderador, Vítor Gonçalves, a questionar Catarina Martins e Jorge Pinto sobre o que distingue as suas candidaturas. A candidata apoiada pelo Bloco de Esquerda disse preferir falar sobre a sua candidatura, considerando que tem o “conhecimento” do país e a “experiência” necessária para o cargo de Presidente da República.

Já Jorge Pinto, embora assinalando os “pontos de convergência” entre ambos, apontou uma “divergência clara”: o “papel de Portugal nas instituições europeias e o papel da própria União Europeia a nível global”.

Declarando-se como um “europeísta crítico convicto”, o deputado do Livre lembrou que Catarina Martins, enquanto líder do Bloco de Esquerda, já defendeu que o “projecto europeu está condenado“, enquanto a sua candidatura acredita que o futuro de Portugal “passa pelo projecto europeu”, que deve ser um “pólo distintivo” face a “líderes autoritários” como Donald Trump ou Vladimir Putin.

Catarina Martins respondeu que a unidade europeia “não existe”, “é uma disputa política”, e que Portugal deve ser um dos “construtores da União Europeia” e não um mero “espectador”. A antiga coordenadora do Bloco de Esquerda especificou que foi crítica da União quando esta se “preparava para fazer sanções a Portugal”. “Nesses momentos, é preciso defender Portugal”, argumentou.

Jorge Pinto acusou a bloquista de ter defendido, na sequência do “Brexit”, um referendo à saída de Portugal na União e garantiu: “Da mesma maneira que não desisti do Portugal quando tínhamos Pedro Passos Coelho à frente do país, não vou desistir da União Europeia porque, sim, é um jogo de forças, mas aquilo que é errado é a esquerda abdicar de entrar nesse jogo de forças.”

A candidata apoiada pelo BE retorquiu que o que propôs foi um referendo sobre o tratado orçamental. “Sobre a Europa e sobre os líderes autoritários, eu concordo que é preciso ter um projecto de democracia na Europa que se afasta completamente dos líderes autoritários. O que não desconheço é que os líderes autoritários também estão sentados no Conselho Europeu”, disse, referindo-se a Viktor Orbán (Hungria) e a Giorgia Meloni (Itália).

Jorge Pinto desafiou a bloquista a pronunciar-se sobre a comunidade europeia de defesa – que o Livre defende -, assinalando que a Europa não precisa de gastar mais em Defesa, mas de gastar melhor. Catarina Martins respondeu que tem proposto que haja uma “cooperação” que traga segurança à Europa, garantindo “autonomia” face aos Estados Unidos da América.

Depois da discussão europeia, Catarina Martins e Jorge Pinto foram questionados sobre se estariam disponíveis para desistir das suas candidaturas para apoiar a de António José Seguro, que surge mais bem posicionado nas sondagens. O candidato apoiado pelo Livre assinalou que a “principal razão para votar em alguém não pode ser porque ele é o que está melhor nas sondagens” e Catarina Martins defendeu que existe uma “proximidade clara” entre Seguro e Luís Marques Mendes. A “escolha do mal menor só tem feito com que o mal maior cresça”, atirou.

Sobre qual seria o perfil que adoptariam se chegassem a Belém, Catarina Martins disse que seria uma presidente “interventiva, no sentido de dar voz ao país” – distinguindo-se do perfil de Marcelo Rebelo de Sousa, que, acusou, foi interventivo no “jogo partidário”. “Seguramente” estaria muito presente no país, disse. Também Jorge Pinto disse não querer ser a “magistratura da influência, mas a magistratura da mobilização”, sendo um presidente “presente” e no “terreno”, mas sem a comunicação social. A “causa” que levaria para Belém seria a “defesa intransigente da Constituição”, assegurou. Catarina Martins seria uma presidente “contra o abandono do país e, por isso, seja capaz de tornar a democracia mais forte”.