O sul-coreano Hong Sang-soo roda rápido, leve e barato, e não é para admirar que na altura em que As Aventuras de uma Viajante pela Coreia do Sul chega aos nossos cinemas, o realizador já tenha mais dois filmes feitos, By the Stream (2024) e What Does that Nature Says to You (2025) e estreados em festivais, e um outro em pós-produção, At the Middle of Life. As acentuadas idiossincrasias do gesto e do discurso cinematográfico de Sang-soo conferem-lhe um forte perfil de “autor”, o que o torna muito considerado no Ocidente e costuma garantir-lhe boa crítica e premiações regulares no circuito dos festivais internacionais (esta fita teve o Grande Prémio do Júri no Festival de Berlim de 2024). Mas o seu cinema económico, verboso e casual tem também os seus céticos, entre eles o autor destas linhas.

[Veja o “trailer” de “As Aventuras de uma Viajante pela Coreia do Sul”:]

As Aventuras de uma Viajante pela Coreia do Sul (um título equívoco, já que o filme não sai de Seul) é a terceira colaboração entre o prolífero Hong Sang-soo e Isabelle Huppert, depois de Noutro País (2012) e La Caméra de Claire (2017), e aqui ela interpreta Iris, que é mais um ponto de interrogação do que uma personagem. Não nos é dito quem é Iris nem como chegou a Seul. Apenas que gosta de tocar (mal) pífaro nos parques, e que dá aulas de francês sem nunca ter sido professora, tendo no entanto um método de ensino próprio que é tão heterodoxo como duvidoso em termos de resultados. Só sabemos realmente que se farta de beber makgeolli, uma popular bebida alcoólica sul-coreana, e que partilha o apartamento do jovem Inguk, um aspirante a escritor, que a viu num parque (a tocar pífaro) e a acolheu em casa.

[Veja Isabelle Huppert falar sobre o filme:]

Sang-soo, que gosta de filmar sem argumento, apenas com notas e pedaços de diálogo, é um realizador de inação, da conversa corriqueira e do verbo miúdo, da interação dramática mínima e ordeira, e do completo despojamento narrativo. Em As Aventuras de uma Viajante pela Coreia do Sul, ele filma Iris primeiro com uma jovem aluna, a seguir em casa de outra, uma mulher da classe média alta e empresária, que põe algumas dúvidas ao seu método de ensino do francês, mas acaba, juntamente com o marido, a beber makgeolli e a conversar com ela, indo depois passear para um parque. As coisas animam um pouco quando a mãe de Inguk o visita de surpresa, fica agastada com a presença de Iris e tem uma discussão com o filho por causa dela, mas daí não vem nada ao mundo, muito menos ao filme.

[Veja uma sequência do filme:]

Tudo considerado, As Aventuras de uma Viajante pela Coreia do Sul é um filme tão familiarmente ténue, aleatório, impermanente e gasoso como os anteriores de Hang Sang-soo, por onde borboleteia a Iris de Isabelle Huppert, que tanto pode ser uma vigarista simpática, uma aventureira errante ou até uma figura sobrenatural, uma espécie de fada ou espírito da natureza, mas para o caso tanto faz. Haverá sempre alguém para detetar preciosas subtilezas emocionais e importantes complexidades psicológicas em As Aventuras de uma Viajante pela Coreia do Sul, mas continuo convencido que estão mais nos olhos de quem vê o filme do que propriamente nele. E que Hang Sang-soo é colossalmente sobrevalorizado, um cineasta trivial, vaporoso e raso, que tomam por distinto, substancial e profundo.