Trabalho de investigação, que permitiu identificar a PEX39 como um novo fator essencial na biogénese peroxissomal, foi recentemente publicado na prestigiada revista Nature Cell Biology.
Equipa integra investigadores do i3S e do ICBAS e trabalhou em colaboração com cientistas dos EUA e da Alemanha.
Uma equipa de investigação do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S) e do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto (ICBAS) identificou recentemente a PEX39 como um novo fator essencial na biogénese peroxissomal (peroxina), particularmente na importação de proteínas para a matriz do peroxissoma. A descoberta desta nova peroxina humana, a primeira desde há 20 anos, foi recentemente publicada na prestigiada revista Nature Cell Biology.
O genoma humano codifica cerca de 20 mil proteínas, mas para quase 10% destas proteínas não existe qualquer tipo de informação relativamente à sua função. Até recentemente, era este o caso da proteína C6ORF226 humana. Investigadores do i3S e do ICBAS, em colaboração com parceiros internacionais, descobriram que esta proteína participa na importação de proteínas para a matriz dos peroxissomas. Estes organelos, essenciais para a saúde e desenvolvimento do ser humano, estão envolvidos na oxidação de ácidos gordos e na síntese de lípidos da mielina e ácidos biliares. Dado o seu papel na formação dos peroxissomas, esta proteína foi batizada pelos investigadores como peroxina 39 ou PEX39.
A caracterização bioquímica / funcional da PEX39 humana foi realizada pelo investigador pós-doutorado Tony Rodrigues, co-primeiro autor, e outros membros do grupo «Organelle Biogenesis & Function», liderado por Jorge Azevedo, investigador no i3S e professor no ICBAS. Estes investigadores demonstraram que a PEX39 se liga com elevada afinidade a uma outra peroxina já conhecida, a PEX7, ajudando-a a reconhecer no citosol proteínas que serão endereçadas para o interior dos peroxissomas.
Os investigadores portugueses colaboraram com uma vasta equipa internacional, em particular com Walter Chen, co-primeiro autor, investigador pós-doutorado no laboratório de Ralph DeBerardinis, co-autor sénior e professor no Southwestern Medical Center da Universidade do Texas, EUA, e Daniel Wendscheck, co-primeiro autor, doutorando no laboratório de Bettina Warscheid, co-autora sénior e professora no Departamento de Bioquímica da Universidade de Würzburg, Alemanha.
Segundo o investigador Tony Rodrigues, o domínio funcional que caracteriza a PEX39 foi conservado ao longo da evolução, encontrando-se em leveduras, plantas, invertebrados e mamíferos, e fornece novos dados sobre a forma como a maquinaria de importação de proteínas para o peroxissoma evoluiu. Interessantemente, em plantas e em alguns outros organismos, o domínio PEX39 não existe como uma proteína autónoma. É, antes, parte integrante de uma outra peroxina já bem conhecida, a PEX14, um componente membranar da maquinaria de translocação proteica do peroxissoma. Aliás, segundo Jorge Azevedo, esta observação foi o primeiro grande indício de que a C6ORF226 seria, de facto, uma nova peroxina, estando na origem deste trabalho.
A descoberta desta nova peroxina humana por esta equipa de investigação internacional interrompe uma pausa de mais de 20 anos na identificação de novos componentes da maquinaria de biogénese peroxisomal.