Henrique Gouveia e Melo tem reafirmado repetidamente a sua independência face aos partidos, embora se faça rodear de elementos bem acostumados à máquina partidária, além de ter como mandatário nacional Rui Rio, ex-líder do PSD. A cerca de um mês das eleições, uma sondagem da Pitagórica para o JN, TSF, TVI e CNN mostra que a maioria dos inquiridos (51%) afirma não perceber qual é o seu posicionamento político. Essa falta de clareza é mais evidente entre os eleitores dos 35 aos 44 anos (58%), entre os que têm rendimentos mais elevados (55%) e entre quem votou na AD nas últimas eleições legislativas (55%).
A sondagem, realizada entre 11 e 19 de Dezembro através de 1000 entrevistas telefónicas e com uma margem de erro de cerca de 3,16% para um nível de confiança de 95,5%, reflecte já o impacto dos debates televisivos, que terminam esta segunda-feira
Apenas 13% consideram que o candidato manteve sempre a mesma posição ideológica, percepção mais frequente entre os eleitores mais velhos e entre os votantes socialistas (19%). Por outro lado, 10% entendem que o almirante tem vindo a deslocar-se para a esquerda, leitura particularmente expressiva entre os eleitores do Chega (17%).
Desde o início dos debates televisivos, que terminaram esta segunda-feira precisamente com um frente a frente entre Gouveia e Melo e Luís Marques Mendes, o almirante na reserva foi o mais penalizado, tendo caído para 4.º lugar nas intenções de voto para as eleições presidenciais de 18 de Janeiro, com 15%, acumulando uma perda de quase 13 pontos percentuais desde Outubro.
Mendes e Seguro empatam na segunda volta; Ventura perde em todos os cenários
A mesma sondagem mostra ainda que, num cenário de segunda volta entre Luís Marques Mendes e António José Seguro, regista-se um empate rigoroso: 41% para cada um, com uma percentagem reduzida de indecisos. O resultado reflecte uma inversão de tendências observadas nos meses anteriores, com o social-democrata a perder algum fôlego e o socialista a reforçar a sua posição.
Apesar do empate global, a disputa esconde clivagens profundas entre eleitorados. Mendes surge mais forte entre os eleitores mais jovens, de menores rendimentos e nas regiões do Norte e Centro, enquanto Seguro lidera entre os mais velhos, os eleitores de rendimentos mais elevados e nas áreas de Lisboa e do Sul. O voto partidário mantém-se previsível: eleitores do PS concentram-se em Seguro e os da AD em Mendes.
Nos restantes cenários de segunda volta, tanto Mendes como Seguro vencem Gouveia e Melo com margens confortáveis, confirmando a perda de terreno do almirante face às sondagens de Outubro. João Cotrim Figueiredo entra pela primeira vez nestes exercícios e revela competitividade, protagonizando empates técnicos frente a Gouveia e Melo e a Seguro, mas ficando claramente atrás de Marques Mendes.
Um ponto comum a todos os cenários é o desempenho de André Ventura. Apesar de surgir bem posicionado para a primeira volta, o líder do Chega é derrotado por larga margem por qualquer um dos outros candidatos num eventual confronto final, incluindo por Cotrim Figueiredo. A nova sondagem confirma, assim, que a fragmentação da primeira volta contrasta com uma segunda volta claramente desfavorável a Ventura.