O primeiro contato do fotojornalista Daniel Kramer com Bob Dylan foi em 1964, ao assistir um programa televisivo em que o cantor e compositor se apresentava. De seu apartamento do Brooklyn, Kramer decidiu acompanhar com sua câmera o artista de folk.
À revista Time, em 2012, Kramer relembrou que Dylan o cativou com a mensagem de “indignação social” de “The Lonesome Death of Hattie Carol“, canção que fala do assassinato de uma mulher negra por um jovem branco e rico no interior dos Estados Unidos.
Entre 1964 e 1965, Kramer tirou cerca de 1500 fotografias de Dylan. Nas imagens, o artista de 23 anos vive um momento decisivo da carreira –a transição entre estrela do folk, que tocava com seu violão acústico, à músico pop e símbolo da contracultura americana.
Sessenta anos depois, um acervo com trinta dessas fotos –são cópias vintage, todas primeira tiragem, em gelatina de prata– estão em Buenos Aires e pertencem ao diretor da The Music Photo Gallery, Sebastián Alderete. O conjunto foi avaliado em US$ 900 mil (cerca de R$ 4,9 milhões) por Jeff Rosenheim, curador de fotografia do Museu Metropolitan, em Nova York.
“Nenhum outro fotógrafo teve tanto acesso a Dylan naquela época. Roland Barthes escreveu que a fotografia sempre trata do passado. Eu prefiro dizer que as fotos de Kramer sobre Dylan tratam do futuro, do que está por vir. Porque mostram seu potencial e o apresentam como o ser humano estranho que todos sabemos que ele é”, afirmou a curadora Gail Buckland ao La Nación.
Algumas fotografias foram publicadas em um livro de Kramer em 1968, e depois na edição “Bob Dylan: A Year and a Day”, da Taschen. Duas das fotos inclusive foram capas de importantes álbuns de Dylan: “Bringing it All Back Home” e “Highway 61 Revisited“, ambos de 1965.
“Quando essas fotos foram feitas, Kramer já era um mestre em seu ofício, enquanto Dylan estava aperfeiçoando o seu. Eles estabeleceram uma conexão única, que permitiu às gerações futuras entenderem sua personalidade, vitalidade e foco”, afirmou Buckland.
Alderete descobriu o acervo de Kramer por meio de David Walker, um dos principais colecionadores de itens e fotografias relacionados a Bob Dylan. Alderete então viajou a Nova York para localizar as imagens, só com o número de telefone do fotógrafo.
Depois de muita insistência, Kramer concordou em recebê-lo. “No fim, ele me recebeu em seu apartamento a duas quadras do Central Park porque eu o lembrava dele mesmo com Dylan naquela época”, afirmou ao jornal La Nación. Kramer morreu em 2024, em Nova York.
Agora, Alderete busca posicionar a coleção por meio de uma aquisição institucional ou pelo leilão que a Sotheby’s dedicará a Dylan, em 2026. Elas já foram exibidas na feira de arte Photo London, onde ele trabalhou com a curadora Gail Buckland.