Avião An-24 falhou uma aterragem na Rússia, depois desapareceu do radar e a seguir foram encontrados destroços numa encosta, na zona de Amur. Iam quase 50 pessoas a bordo. Trata-se de um avião “concebido para operar em pistas não preparadas” – e este tipo de aparelho chegou a ser feito na fábrica da Antonov, perto de Kiev, agora só mesmo na China. “Duvido que venhamos a saber exatamente o que aconteceu”

“Um avião extremamente resistente, muito sólido, mas agora muito, muito antiquado.” O aparelho, um avião de passageiros An-24, antigo e que até já tinha estado envolvido num acidente há seis anos, despenhou-se esta quinta-feira na região oriental de Amur, na Rússia, com 46 pessoas a bordo – 40 passageiros e seis tripulantes. “Infelizmente temos mais um acidente de aviação este ano, já são vários”, afirma o comandante José Correia Guedes, sublinhando que, mais uma vez, “não parece haver sobreviventes”.

“Estamos a falar de um avião muito antigo, este avião tem 49 anos, fará 50 no próximo ano, desde que foi produzido. É um avião concebido nos anos 50, começou a voar em 1960 – este exemplar foi produzido em 1976.” Segundo José Correia Guedes, estes “são aviões extremamente sólidos, foram concebidos para operar em pistas não preparadas, pistas de terra batida, no interior da Rússia e da África, que é um tipo de operação muito difícil”. “É um avião que descola e aterra em distâncias muito curtas, um avião STOL [Short Take-off and Landing], como se diz em gira aeronáutica.”

Não é um aparelho “muito económico, razão pela qual não se vendeu muito no Ocidente, mas vendeu-se muito na Rússia” e nos países próximos da Rússia. Estes aviões eram feitos na fábrica da Antonov, perto de Kiev, na Ucrânia. Mas agora são fabricados apenas na China, sob licença. “Fabricaram-se cerca de 1.100 exemplares, muitos deles ainda estão por aí a voar”, diz José Correia Guedes.

“Duvido que venhamos a saber exatamente o que aconteceu”

“Este avião [ANn-24], em particular, esteve envolvido num acidente em 2018, há quase sete anos, em que, depois de aterrar, bateu com uma asa num posto de iluminação e danificou seriamente a asa. Estas coisas nunca fazem bem aos aviões, portanto isto requer depois uma inspeção. Obviamente não estou a sugerir que haja uma relação entre uma coisa e o acidente, mas é de certeza algo para o qual os investigadores vão olhar”, alerta. “Estes aviões têm gravadores de voz e gravadores de parâmetros, as chamadas caixas negras. Portanto, acredito que vai ser possível saber o que aconteceu ao avião”, explica o comandante. 

“Dado tratar-se de um avião já muito antigo, e dada a guerra que existe neste momento na Ucrânia, tem havido grande dificuldade em encontrar peças sobressalentes para estes aviões, de maneira que também não me surpreenderia que houvesse aqui um problema de manutenção”, afirma o comandante José Correia Guedes.

“Segundo as testemunhas, o acidente ocorreu em condições de baixa visibilidade, portanto estamos a falar numa área remota da Rússia, já perto da fronteira com a China. E sabemos que o avião não reportou a posição de navegação – o que devia ter feito, devia ter comunicado à torre de controle. Desapareceu dos radares imediatamente.” Depois apareceram destroços numa colina perto do aeroporto. José Correia Guedes sublinha que esta é “uma zona muito montanhosa”, perto da cidade de Tunda, na região de Amur. As autoridades dizem que até a mobilização dos meios para a zona do acidente está a ser muito difícil, porque é  uma zona de muito difícil acesso, diz a agência de notícias TAS.

De acordo com as primeiras declarações das autoridades russas, percebe-se que a investigação vai seguir duas linhas principais: a falha no aparelho ou eventualmente um erro humano. O comandante José Correia Guedes confirma que esse é o procedimento habitual: “O piloto é o elo mais fraco no meio disto tudo. Mas obviamente que as circunstâncias permitem pensar nessa possibilidade. Má visibilidade, terreno montanhoso, uma área difícil de operar. E depois problemas técnicos.”

De qualquer forma, o comandante tem dúvidas de que alguma vez cheguemos a saber o que de facto aconteceu. “A Rússia nunca foi um país muito aberto a partilhar com o resto do mundo aquilo que se passa. Eu duvido que venhamos a saber exatamente o que aconteceu com este acidente. As autoridades russas foram aquilo que muito bem entenderam, mas receio que não tenham interesse em partilhar o que quer que seja que tenha acontecido.”