Sendo uma “oportunidade de sonho” é, no entanto, uma cidade “onde a maioria nem pode sonhar em viver”.

Estas citações acompanham o vídeo de Bordalo II que, no seu mais recente trabalho, colocou a capital portuguesa à venda.


Conhecido e reconhecido pelas obras provocantes, de sátira social, o artista plástico instalou esta quinta-feira o anúncio “Lisboa à venda” em protesto contra a especulação imobiliária.

O anúncio, entretanto retirado do local pwlas autoridades, destaca um número de telefone que pertence à Plataforma Habitar Lisboa, o departamento municipal responsável pelos concursos de apoio à renda e arrendamento acessível.


A instalação de Bordalo II imita os anúncios habituais de imobiliárias e foi colocada no Cais das Colunas, Terreiro do Paço. 


Conhecido como “a porta nobre de entrada em Lisboa”, ou “um local emblemático para apreciar o pôr-do-sol sobre o Rio Tejo”, o Cais das Colunas ficou historicamente ligado ao desembarque de inúmeras figuras de destaque, entre as quais, a rainha Isabel II de Inglaterra, em 1957.


Para “vender” Lisboa, Bordalo II diz que a cidade está “inserida numa zona premium da Península Ibérica, dispõe de vista deslumbrante sobre o rio Tejo e fácil acesso a restaurantes e comércio deluxe.”


Nos restaurantes mais turísticos do Terreiro do Paço um café pode custar mais de 2 euros, dependendo do tipo de estabelecimento e da localização específica dentro do Terreiro do Paço.


É “ideal para quem quer disfrutar de ambiente vibrante, cosmopolita e gentrificado.”


Problema… em Lisboa “a maioria nem pode sonhar em viver”.


[…] «Outra vez te revejo — Lisboa e Tejo e

tudo —,
Transeunte inútil de ti e de mim,
Estrangeiro aqui como em toda a parte,


Casual na vida como na alma […]»

Excerto do Poema: “Lisbon Revisited” (1926)
por Fernando Pessoa