Ramalho Eanes
Militares na linha da frente

As primeiras eleições presidenciais em democracia foram disputadas em junho de 1976 e, na senda da revolução de 1974, três dos principais candidatos eram militares, Ramalho Eanes, Otelo Saraiva de Carvalho e Pinheiro de Azevedo. O único civil nesta corrida eleitoral foi Octávio Pato, apoiado pelo PCP, que ficaria em quarto lugar nas urnas (com 7,5% dos votos), com o general António Ramalho Eanes a ganhar destacado (com 61,5%) e o major Otelo Saraiva de Carvalho em segundo lugar (com 16,4%).

O almirante Pinheiro de Azevedo foi o terceiro mais votado (14% dos votos), depois de ter passado os últimos dias da agitada campanha no hospital, na sequência de um ataque cardíaco sofrido pouco depois de uma conferência de imprensa no Porto.

A morte de Francisco Sá Carneiro e de Adelino Amaro da Costa a 4 de dezembro de 1980 marcou as presidenciais que viriam a ter lugar três dias depois, disputadas por Ramalho Eanes e Soares Carneiro. A Comissão Nacional de Eleições (CNE) decidiu que a situação decorrente da morte do primeiro-ministro não constituiu “fundamento legal para o adiamento do ato eleitoral” e este realizou-se como previsto a 7 de dezembro de 1980. O general foi reeleito presidente da República com 56,4% dos votos, ficando Soares Carneiro com 40,2%.

Mário Soares
Da divisão ao presidente de todos

A campanha eleitoral para as presidenciais de 1986 foi a mais longa até agora, dado que o presidente da República só seria escolhido na segunda volta (primeira e única vez que tal aconteceu), disputada por Mário Soares e Freitas do Amaral. No início da campanha, cinco candidatos estavam na linha de partida, todos civis, mas só quatro foram a votos a 26 de janeiro de 1986. Ângelo Veloso, candidato do PCP, desistiu a favor de Salgado Zenha, que foi apoiado também pelo PRD.

A primeira volta acabou por ser as primárias da Esquerda, disputadas pela independente Maria de Lurdes Pintasilgo, Salgado Zenha e Mário Soares, apoiado pelo PS, enquanto à Direita Freitas do Amaral congregava os apoios de PSD e CDS e surgia como o favorito.

Na campanha, Soares foi agredido na Marinha Grande num protesto com palavras de ordem contra os salários em atraso, um incidente que mais tarde seria considerado um ponto de viragem na candidatura. Na segunda volta, a Esquerda uniu-se para travar Freitas. A 16 de fevereiro de 1986, Mário Soares ganhou com 51,1% dos votos e Freitas do Amaral ficou com 48,8%, a menos de 140 mil votos.

Em 1991, Soares conseguiu quase 3,5 milhões de votos e seria eleito para um segundo mandato ultrapassando o recorde de 3,2 milhões de votos obtido por Ramalho Eanes quando foi reeleito em 1980.

Jorge Sampaio
O discurso do diálogo e da estabilidade

O socialista Jorge Sampaio sucedeu ao socialista Mário Soares no Palácio de Belém, em 1996, ano em que bateu, à Direita, Cavaco Silva. Após meses de tabu, Cavaco, primeiro-ministro durante dez anos, lançou-se na corrida presidencial de 1996 para defrontar Sampaio, numa campanha em que se falou do “Portugal católico”, de diálogo e de abrangência. Jerónimo de Sousa, apoiado pelo PCP, e Alberto Matos, da UDP, estiveram na linha de partida, mas não chegaram a ir a votos. Jorge Sampaio foi eleito à primeira volta com 53,91% dos votos e Cavaco ficou com 46,09% e esperou mais dez anos para chegar a Belém.

Jorge Sampaio foi reeleito presidente da República a 14 de janeiro de 2001, com uma elevada abstenção, após uma campanha contaminada pela polémica do uso de urânio empobrecido no Kosovo. Garcia Pereira, Ferreira do Amaral, Fernando Rosas, António Abreu e Jorge Sampaio surgiram por esta ordem no boletim de voto dessas presidenciais, as primeiras em que os emigrantes puderam votar. Sampaio tornou-se o terceiro presidente da República a ser reeleito (conseguiu 55,5 por cento dos votos).

Cavaco Silva
Bateu Soares e “tropeçou” no caso BPN

Cavaco Silva venceu as presidenciais de 2006, com os socialistas divididos, numa eleição em que reencontrou Mário Soares, o presidente com quem o antigo primeiro-ministro do PSD coabitou durante dez anos. Cavaco, Soares e Manuel Alegre foram os principais candidatos, com o primeiro a dramatizar a importância das eleições e os dois socialistas a disputarem o mesmo espaço.

Nas eleições disputadas a 22 de janeiro, Cavaco Silva foi eleito logo na primeira volta, ao alcançar 50,54%, Manuel Alegre surpreendeu em segundo lugar com 20,74% e Mário Soares surgiu apenas na terceira posição com 14,31%.

O caso BPN e os sinais crescentes de crise estiveram patentes na campanha para as presidenciais de janeiro de 2011, com Cavaco Silva a recandidatar-se, tendo como principal adversário o socialista Manuel Alegre. A crise foi outro assunto em destaque ao longo do período eleitoral.

A 23 de janeiro de 2011, Cavaco Silva foi reeleito com 52,95% dos votos, Alegre alcançou 19,76%, Fernando Nobre 14%, Francisco Lopes 7,14%, José Manuel Coelho 4,5% e Defensor Moura 1,5%.

Marcelo Rebelo de Sousa
Ensaiou com selfies presidência dos afetos

Marcelo Rebelo de Sousa fez duas campanhas pouco convencionais, ganhou as eleições presidenciais e em 2021 viu emergir as forças da extrema-direita e André Ventura. O ex-líder do PSD que, anos a fio, “entrou” pela televisão na casa dos portugueses como comentador político, ganhou as presidenciais de 2016 praticamente sozinho, sem cartazes nem comícios.

Numa eleição com número recorde de candidatos – dez – a Esquerda dividiu-se. E o PS, recém-chegado ao poder com o Governo de António Costa, não apoiou formalmente ninguém. No dia das eleições, em 24 de janeiro de 2016, o professor de Direito Constitucional teve mais de metade dos votos expressos (52%). Em 2021, sem surpresa, foi reeleito com 61%.