Tony Ramos lembrou a primeira cena de nu da TV brasileira que ele protagonizou em1977, na novela “O astro”, em plena ditadura militar. Com 76 anos de idade, 61 anos de carreira e 152 personagens, muitos deles cravados no imaginário popular, o artista deu entrevista à jornalista Maria Fortuna, no videocast ‘Conversa vai, conversa vem , e revelou o que diria se lhe pedissem que tirasse a roupa diante das câmera hoje. Também contou que se diverte com as piadas sobre ser muito peludo.

Você protagonizou o primeiro nu masculino, em “O astro”, em 1977, em plena ditadura militar quando a cena precisou ser negociada pelo diretor, Daniel Filho e pela autora, Janete Clair, com a censura. Como foi isso?

Um constrangimento absoluto. Aliás, eu não fiquei muito nu… tinha um casaco natural de caxemira me protegendo.

Tony Ramos — Foto: Leo Martins Tony Ramos — Foto: Leo Martins

Seus pelos… Ficaram arrepiados?

Ficaram nervosos (risos). O que não falta em mim é pelo, né? Agora, estão mais brancos… atrás, nem tanto. Não é confortável ficar nu entre os colegas. Lembro que falei: “Quem ri a mãe não é séria”. Todo mundo riu e relaxou. Essa profissão não admite voyerismo, precisa de cenas. Dois anos depois, em “Grande sertão, Veredas”, também fiquei nu. Não é esse aspecto da profissão que me atrai. Se falarem fica nu hoje, eu vou dizer: “Cara, olha para a minha cara, o tio não tem essa idade”. Tenho que convocar o bom senso de quem propõe uma cena assim. O Daniel (Filho) conversou muito comigo. O personagem fazia um voto a São Francisco de Assis, abria mão da fortuna da família…

O ator Tony Ramos e a jornalista Maria Fortuna no estúdio do Jornal OGLOBO — Foto: Leo Martins O ator Tony Ramos e a jornalista Maria Fortuna no estúdio do Jornal OGLOBO — Foto: Leo Martins

Essa brincadeira com o fato de você ser peludo te incomoda ou diverte?

Diverte. O “Casseta & Planeta” fazia uma coisa engraçada. Encenavam “Laços de Família”. Acho que o Reinaldo fazia a minha personagem… O Bussunda era a a Helena, e o Hélio de la Peña, a empregada que varria o chão e falava: “Pedi tanto para a dona Helena que evitasse o rala e rola aqui no quarto e olha quanto pelo”… Havia um saco de lixo enorme já com pelos, e ela enchendo o segundo saco. Isso não é engraçado? Eu ria de chorar. Um dia, Marcelo Madureira me chamou para fazer um número. Era a cena de uma exposição de móveis feitos com meus pelos. Eu ri desbragadamente e falei: “Vou querer 10%”. A cena foi ao ar. Isso é rir de si mesmo, é não se levar tão a sério, não se colocar no pedestal, não se tornar inatingível. Está tudo certo.