O tango, uma dança rítmica entre parceiros que melhora o equilíbrio e a coordenação, pode ajudar a aliviar os sintomas da doença de Parkinson. O canto em coral, que combina treinamento vocal e interação social, pode reduzir a depressão em indivíduos com demência. Foi demonstrado que a musicoterapia auxilia na recuperação do acidente vascular cerebral (AVC) ao melhorar os distúrbios da fala.

Muitas unidades de saúde na Alemanha incorporaram a musicoterapia para abordar problemas de saúde física e mental. “Existem boas evidências de eficácia”, disse o Dr. Lutz Neugebauer, Ph.D., presidente da German Music Therapy Society e um dos organizadores do 13º Congresso Europeu de Musicoterapia, com o tema “Bridges”, durante uma entrevista on-line à imprensa.

Ele observou que, desde a última vez que a Alemanha organizou um congresso internacional de musicoterapia em 1996, quase 9.000 artigos relacionados ao tema foram publicados no PubMed, entre os quais 1.500 estudos controlados randomizados e 360 revisões sistemáticas com metanálise.

As diretrizes clínicas da Alemanha sobre demência, que refletem recomendações médicas baseadas em evidências do mais alto nível, endossam a musicoterapia para aliviar sinais e sintomas como ansiedade, inquietação e apatia. A musicoterapia também está presente em 37 diretrizes clínicas nacionais na Alemanha, publicadas pela Association of Scientific Medical Societies, 29 das quais seguem o mais alto padrão do país para cuidados baseados em evidências.

“Existe uma variedade de evidências impressionante”, disse a Dra. Sabine C. Koch, Ph.D., professora de pesquisa empírica em arteterapia na Alanus University of Arts and Social Sciences, na Alemanha. Ela descreveu os quadros nos quais a musicoterapia pode complementar a psicoterapia ou farmacoterapia, aumentando sua eficácia.

Uma metanálise recente dos efeitos de intervenções que utilizam artes no tratamento de doenças não transmissíveis incluiu 150 revisões sistemáticas abrangendo 3.885 estudos controlados randomizados. “Os resultados respaldam particularmente a terapia com música e com dança”, disse a Dra. Sabine.

Os autores relataram efeitos pequenos a moderados para transtornos neurológicos (diferença média padronizada [DMP] = 0,40; intervalo de confiança [IC] de 95% de 0,30 a 0,50) e efeitos moderados para câncer (DMP = 0,52), doença cardiovascular (DMP = 0,52), transtornos mentais (DMP = 0,53) e doença respiratória crônica (DMP = 0,76). No entanto, a maioria dessas revisões tinha baixa qualidade metodológica. Ainda assim, os autores concluíram que “intervenções com uso de artes podem ser um complemento valioso aos tratamentos de primeira linha tradicionais”.

Benefícios clínicos

A musicoterapia tem sido bem estudada no contexto da dor crônica e do controle da dor em pacientes com câncer avançado. “O efeito geral é comparável ao dos opioides, mas sem efeitos colaterais indesejáveis”, explicou a Dra. Sabine. A musicoterapia também melhora o sono e ajuda a reduzir a fadiga, a ansiedade e a depressão.

Em recém-nascidos, a musicoterapia demonstrou melhorar a saturação de oxigênio, a frequência cardíaca e a respiratória, a duração do sono, a temperatura corporal e a pressão arterial sistólica e diastólica. Em bebês prematuros, a intervenção também ajuda no desenvolvimento de um cérebro funcional. Estudos mostraram efeitos positivos na função cardiorrespiratória, nas pontuações de dor, na saturação de oxigênio e na duração do sono, mesmo com música durante o sono.

“A musicoterapia ajuda essas crianças a reduzirem o estresse e a se recuperarem”, disse a Dra. Sabine.

O Dr. Lutz acrescentou que, em bebês prematuros, a musicoterapia também fortalece o vínculo entre pais e filhos, “um dos principais indicadores de melhor desenvolvimento após um início difícil na vida”. A musicoterapia ajuda no desenvolvimento da fala em crianças com atrasos no desenvolvimento.

“A musicoterapia é particularmente eficaz para adolescentes e adultos jovens que sofreram trauma, como violência doméstica, durante migrações ou guerras”, destacou o Dr. Lutz. “Ela permite a expressão além da palavra falada e transpõe barreiras linguísticas.” Ele acrescentou que a musicoterapia é frequentemente a abordagem de primeira escolha para indivíduos que lutam para se comunicar através da fala, inclusive aqueles com deficiências.

Oncologia e uso paliativo

A Dra. Sabine relatou que a musicoterapia mostrou benefícios significativos para pessoas com câncer, como redução da ansiedade, da depressão, da dor, da fadiga, da frequência cardíaca e da pressão arterial. “O efeito é forte e significativo”, disse ela, observando que os desfechos são comparáveis aos observados com a terapia cognitivo-comportamental.

A musicoterapia promove o relaxamento e reduz a fadiga durante o tratamento paliativo. “A musicoterapia é um tratamento eficaz com baixa taxa de desistência e melhora o bem-estar de pacientes terminais”, disse a Dra. Sabine. “No tratamento da depressão e da ansiedade, ela frequentemente corresponde à eficácia da terapia cognitivo-comportamental.”

Barreiras de acesso

De acordo com o Dr. Lutz, a musicoterapia é uma parte estabelecida dos cuidados hospitalares para ansiedade, depressão, transtornos por uso de substâncias químicas e consequências do isolamento social. No entanto, a musicoterapia permanece excluída dos reembolsos ambulatoriais dos planos de saúde.

“Isso precisa mudar urgentemente, particularmente entre grupos vulneráveis que dependem dessa terapia”, disse ele.

Apesar das fortes evidências científicas e da experiência clínica positiva, os apelos para estabelecer a musicoterapia como um serviço ambulatorial padrão ainda não foram abordados na esfera política, como observou o Dr. Lutz. Um relatório de 2011 elaborado por Christine Bergmann, ex-comissária para a investigação de abuso sexual infantil, pediu que a musicoterapia ambulatorial fosse coberta pelos planos de saúde.

Em 2019, o German Institute for Quality and Efficiency in Health Care relatou que o acesso ao tratamento ambulatorial continua desigual, e somente indivíduos de renda mais alta podem pagar por ele.

“Em um sistema de saúde que prioriza os cuidados ambulatoriais em vez dos hospitalares, o acesso à musicoterapia deve ser garantido para todos os pacientes, inclusive em ambientes ambulatoriais, e os planos de saúde devem ser obrigados a cobrir o custo”, enfatizou o Dr. Lutz.

Este conteúdo foi traduzido do Medscape em alemão