Apesar de tudo, daí para cá, houve dois grandes factos novos na política nacional: a declaração de João Cotrim Figueiredo sobre estar disponível para ser candidato a Belém; e alguma indefinição nas sondagens, com a descida evidente de Gouveia e Melo nas intenções de voto. A teórica fragmentação de votos à direita pode deixar tudo ainda mais em aberto e torna qualquer candidatura — sobretudo de alguém com a notoriedade de Moreira — mais apetecível. Sobretudo porque as próximas presidenciais serão, ao que tudo indica, decididas à segunda volta.

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Mas nem estes argumentos convencem os potenciais rivais do presidente da Câmara do Porto e nem isso justifica uma mudança de opinião tão profunda de abril até aqui. Aposta: tudo não deverá passar de um último ato de um autarca em fim de ciclo a querer manter-se na crista da onda. No limite, e mesmo que Rui Moreira quisesse de facto avançar, contrapõem as mesmas fontes, seria sempre uma candidatura a aparecer relativamente tarde, com poucas hipóteses de organizar uma estrutura e de reunir os apoios necessários — no espaço do centro e centro-direita, o habitat natural de Moreira, as personalidades mais destacadas já se foram distribuindo pelas candidaturas de Henrique Gouveia e Melo, Luís Marques Mendes e até de António José Seguro.

No mesmo sentido, e admitindo que Moreira até avança, isso não altera as contas de Mendes, Ventura e Cotrim. Entre os homens do antigo líder social-democrata existe a convicção de que Moreira beliscaria a candidatura de Gouveia e Melo — e não a de Mendes. Os mais próximos de Ventura descartam por completo a hipótese de apoiar Moreira — mesmo depois de Moreira ter tido o cuidado de dizer que os eleitores do Chega “não têm lepra” — porque olham para esta protocandidatura como um não-assunto. E Cotrim Figueiredo, figura próxima do autarca, não se vai deixar condicionar em função desse tabu: Moreira é uma variável irrelevante para a equação do eurodeputado liberal.

Excluída a candidatura de Moreira, o espaço da direita deverá ser disputado entre Gouveia e Melo, Mendes, Cotrim e o candidato apoiado pelo Chega — que pode ou não ser André Ventura, sendo que ainda não descartou a hipótese, mas tem jurado a pés juntos que está empenhadíssimo em ser líder da oposição com a ambição de se sentar na cadeira de primeiro-ministro. Mesmo a hipótese de Paulo Portas entrar na corrida — o antigo vice-primeiro-ministro nunca desfez o tabu — é vista neste momento como meramente académica.

A declaração de António Lobo Xavier a favor de Mendes (ele que é próximo de Portas) está a ser interpretado com um sinal evidente de que o CDS já não tem margem para apoiar outra candidatura que não a de Marques Mendes. A ele se juntaram esta quinta-feira Diogo Feio e Teresa Caeiro. Resta saber o que faria Melo se Moreira de facto avançasse: o CDS esteve sempre ao lado do ainda presidente da Câmara do Porto.