Os automóveis e seus componentes têm a pender sobre o setor uma tarifa acima de 25%, com a promessa de descer para os 15%. Mas a ordem que corta esse direito ainda não foi assinada. E até que isso aconteça mantêm-se as tarifas anteriores.

A Reuters noticiava esta quarta-feira que a União Europeia ainda teria de esperar alguns dias até que a ordem fosse assinada.

José Couto, presidente da Associação de Fabricantes para a Indústria Automóvel (AFIA), explica ao Observador que há cerca de 5% de exportações diretas de componentes para os Estados Unidos, principalmente ligados à borracha, como pneus. Mas o impacto maior não deverá advir daí, mas das exportações europeias para os Estados Unidos com incorporação nacional. Esse volume a AFIA não conhece a dimensão, mas está a promover uma avaliação. Certo é que, como diz José Couto, todos os carros construídos na Europa têm um ou mais componentes portugueses. O que deixa antecipar algum impacto.

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Ainda que o setor possa vir a ter uma tarifa mais baixa do que a praticada até agora, José Couto critica o conformismo que tem apontado para os 15% como menos mau. “Quem vai pagar são as empresas europeias que terão de diminuir os preços, as margens ou aumentar a produtividade, o que não se consegue de um dia para o outro”. Para o responsável da AFIA, “não há margem para absorver os 15%”.

O Governo reuniu novamente esta quinta-feira com cerca de 30 associações representativas dos setores automóvel, elétrico e eletrónico, cerâmica, mármores, granitos, cortiça, farmacêutica, bioindústria, metalomecânica, fileira florestal, químicos, plásticos, têxtil, vestuário, calçado e confederações. Ao Observador, a APCOR (Associação da Cortiça) recusou comentar o tema por aguardar informação mais detalhada, nomeadamente o que vai acontecer ao setor da cortiça que espera taxa zero. Ao Expresso, admitiu que a situação parece bem encaminhada. Até esta quinta-feira, quando os 15% entraram em vigor, não havia qualquer exceção para a cortiça.

No comunicado das contas semestrais, a Corticeira Amorim — que também não quis falar ao Observador — indicou já algum impacto pelas tarifas. “A atividade da Corticeira Amorim em 2025 continuou a ser condicionada por um contexto de mercado desafiante, marcado por elevada incerteza, decorrente de tensões geopolíticas e de profundas alterações ao nível do comércio internacional”, indicou, então, acrescentando estar a assistir a uma “política de compras mais cautelosa por parte dos nossos clientes”.

Outro setor exposto é o farmacêutico, que exporta mais de mil milhões de euros para os Estados Unidos. Mas Joaquim Cunha, da Health Cluster Portugal, admite que este é um segmento com especificidades, até porque, se para alguns setores poder-se-á tentar alternativas, na “saúde não é fácil”. E por isso admite-se algumas isenções que não são, neste momento, conhecidas. Nomeadamente ao nível dos medicamentos as alternativas podem, até, não existir.

Em comunicado, o Ministério da Economia garante que “todas as medidas que foram anunciadas estão a ser executadas e algumas até foram antecipadas, como o calendário de avisos para ações coletivas de internacionalização, com abertura a 31 de julho”. “Estamos a ajudar as empresas a diversificarem os mercados para os quais exportam”, diz-se no comunicado, atribuindo a citação a Manuel Castro Almeida. O Governo, indica ainda, “acompanhará de perto os desenvolvimentos do acordo dos EUA com a União Europeia, antecipando os problemas e ajustando soluções, sempre em diálogo com os empresários e as suas associações representativas”.

Mas os empresários são os primeiros a lembrar que as negociações são com a Comissão Europeia, havendo pouca margem para o Governo, que só tem margem para eventualmente avançar com apoios às empresas em caso de necessidade. E é isso que o Executivo garante estar a ser feito.