Tem mais de 45 anos e tem preocupações ambientais? Mas o que tem feito para proteger o ambiente? Embora 96% dos portugueses nesta faixa etária se digam preocupados com as alterações climáticas e com os desafios ambientais, um terço admite não adoptar qualquer comportamento sustentável no dia-a-dia, revela um estudo do Iscte – Instituto Universitário de Lisboa.

Separar o lixo, poupar água quando faz limpeza, ou reaproveitar sacos de plástico são as medidas básicas que estes cidadãos dizem fazer. Mas, se questionados sobre a frequência destes comportamentos na semana anterior, 38% dizem não ter reutilizado sacos, 42% admitem ter falhado na separação do lixo, 43% reconhecem nem sempre ter poupado água, e 64% ter adquirido produtos que não são amigos do ambiente.

“Justificam o desfasamento entre as acções do dia-a-dia com a percepção de que os seus comportamentos individuais estão limitados por obstáculos a nível financeiro e estrutural”, explicou Sandra Godinho, do Centro de Investigação e Intervenção Social do Iscte, que realizou o estudo Take Action for Future Generations, juntamente com Margarida Garrido.

As restrições financeiras são citadas por 39% dos inquiridos. “Pode ser o custo acrescido dos produtos definidos como mais sustentáveis, ou a instalação de painéis solares e o isolamento térmico das casas”, exemplifica Sandra Godinho.

A inexistência ou desadequação de infra-estruturas, como a rede de transportes públicos ou os sistemas de recolha e valorização de resíduos, é citada por 33% dos entrevistados. Mencionam ainda a insuficiência de políticas ambientais e de outros apoios do Estado (30%), a falta de informação (18%) e a incapacidade das empresas em apresentar novas soluções (17%).

Como superar a inacção

“Muitos dizem não adoptar mais comportamentos favoráveis ao ambiente no dia-a-dia por falta de apoio. Acreditam que o Governo e as empresas devem tomar a dianteira”, explicou Sandra Godinho.

Perceber de onde vem essa sensação de falta de poder dos cidadãos não é a meta do estudo, financiado pela Fundação “la Caixa”. “O objectivo é perceber que estratégias usar para reduzir este desfasamento entre intenção e acção”, frisou a investigadora do Iscte.

Esta faixa etária representa mais de 50% da população, e é influente: “São líderes dos seus agregados familiares, estão em cargos de poder”, salientou Sandra Godinho.

Mas apenas 20% dos residentes em Portugal põe espontaneamente o ambiente no topo das suas preocupações. A pobreza e o desemprego, a política internacional (conflitos) e o crime e a violência vêm primeiro.

No entanto, se questionados directamente sobre uma lista de desafios ambientais, 96% mostram-se preocupados, ou muito preocupados. A falta de água está no topo (87%), a poluição do ar reúne 82%, tal como o esgotamento dos recursos naturais.

“Apesar de serem questões importantes, têm muito pouco reconhecimento. Há a necessidade de diversificar e dar mais informação sobre as ameaças reais que representam os problemas ambientais”, adiantou Sandra Godinho. “É importante fazer campanhas de sensibilização e comunicação dirigidas para este segmento da população”, salientou.

Isso pode passar por “representar melhor esta faixa etária nas campanhas de sensibilização, e dar mais exemplos de comportamentos favoráveis, chamando a atenção para que esses comportamentos, muitas vezes, permitem reduzir custos e não incrementá-los”, como investir na reutilização, afirmou Sandra Godinho.