2009

Aos 16 anos, Tyler Gregory Okonma, miúdo reconhecido nas ruas de Hawthorne, Sul da Califórnia, como um ciclista de BMX com aptidão musical, desafia um punhado de vizinhos a compor canções, curtas metragens e palermice generalizada, entretanto intitulados de Odd Future Wolf Gang Kill Them All — Wolf Gang para os amigos, Odd Future para os outros. Dois anos depois, em 2009, os Odd Future lançam no site do coletivo o álbum de estreia de Tyler, The Creator: Bastard.

O mal-amado primeiro álbum, espírito de mixtape, sombrio e minimalista, está desaparecido das principais plataformas de streaming — há quem diga que foi retirado por direitos de autor não autorizados, outros defendem que, provavelmente com razão, o músico decidiu apagar este enxurro de ordinarice. Tyler encarna um terapeuta, “Dr. TC”, numa voz modulada, ainda mais grave, que guia as alarvidades que ocorrem na então mente adolescente do músico: relatos de homicídios, consumo de cocaína em igrejas, tentativas de suicídio e a violação consecutiva de mulheres. A sebenta segue os ensinamentos de Eminem à risca, mais excesso, mais choque, a esticar a corda, até arrebentar.

O choque é a linguagem confortável para destapar uma ausência dilacerante: “My father’s dead, well, I don’t know, we’ll never fucking meet/ I cut my wrist and play piano ’cause I’m so depressed”, versa em Bastard. Criado pela mãe, Tyler fomentou um ódio e fascínio pela figura paterna ausente, um emigrante nigeriano que, até hoje, se desconhece o nome. Em compensação, formou uma nova família, os Wolf Gang, um misto de Wu-Tang Clan e Jackass; primeiro, chegaram os amigos de infância, e depois, outros pequenos génios, desde Earl Sweatshirt a Frank Ocean, mas a alcateia tinha um líder evidente: Tyler, o bastardo.

2011

O terramoto de Yonkers, primeiro single de Goblin, registou réplicas violentas na estreia televisiva de Tyler e companhia: ao lado de Hodgy Beats, mascarados de balaclava, gritam, correm e uivam, possuídos pelo invejável demónio da juventude. Naquela noite, empoderados pelo sintetizador e batida claustrofóbica, os Odd Future entraram pela nossa casa adentro, aos pontapés.