França está a braços com um fogo que em apenas dois dias se transformou no maior incêndio florestal do país desde 1949. Alimentadas por ventos fortes e vegetação seca, as chamas já consumiram uma área maior do que a de Paris.
O fogo deflagrou esta terça-feira à tarde no departamento de Aude, no sul do país, a menos de 100 quilómetros da fronteira com Espanha. Em 48 horas consumiu 17 mil hectares e afetou várias localidades do maciço das Corbières, uma área montanhosa conhecida pelas suas vinhas e aldeias pitorescas, chegando a obrigar ao encerramento temporário da A9, uma das principais autoestradas a ligar França e Espanha, devido ao fumo — que, inclusive, era visível a partir do espaço esta quarta-feira.
Depuis mardi, l’Aude est touchée par un très violent incendie, dont le panache de fumée est visible depuis l’espace. ⬇️
???? Ces 2 prochains jours, le danger de feu reste élevé sur plusieurs départements du sud de la France, selon la Météo des forêts : https://t.co/McwufCGXaC pic.twitter.com/NdhO9H2XVX
— Météo-France (@meteofrance) August 6, 2025
Depois da progressão infernal da chamas nos últimos dois dias, a situação começou a acalmar, fruto da alteração das condições meteorológicas, com o vento seco a soprar do norte a ser substituído por um vento marítimo mais fresco, trazendo consigo humidade.
Em declarações à BFM TV, o coronel Christophe Magny, um dos responsáveis pela operação de combate ao fogo, confirmou esta quinta-feira que o incêndio começou a “progredir mais lentamente”, mas ainda “não está controlado”, particularmente devido à dificuldade de acesso a algumas das áreas. Magny, porém, diz esperar conter o fogo até ao final do dia, sendo necessário redobrar esforços nas frentes avaliadas em 90 quilómetros de extensão.
Segundo a imprensa francesa, há cerca de 2100 operacionais mobilizados para combater este incêndio, apoiados por 500 veículos e por elementos da gendarmaria e do exército. O dispositivo terrestre está a ser apoiado por vários meios aéreos como Canadairs, Dash-8 e helicópteros, mas esse apoio tem sido considerado insuficiente — as chamas estão a provocar um incómodo indireto a Emmanuel Macron, que prometeu em 2022 uma renovação da frota de Canadairs que nunca chegou.
Fruto deste incêndio, pelo menos uma pessoa morreu, uma mulher sexagenária encontrada em sua casa em Saint-Laurent-de-la-Cabrerisse, noticiou o Le Figaro. Segundo a presidente do departamento de Aude, Hélène Sandragné, há também a registar 13 feridos — 11 bombeiros e dois civis, sendo que dois estão em estado grave — e três pessoas foram dadas como desaparecidas. O departamento contabiliza também 36 casas destruídas ou afetadas, assim como 40 carros.
A perigosidade do fogo obrigou a rápidas operações de evacuação, tendo sido “criados dezassete centros de alojamento temporário em 17 municípios para as noites de quarta-feira e quinta-feira, 6 e 7 de agosto, com uma capacidade total de 1.759 lugares”, lê-se no comunicado citado pelo Le Monde.
Ainda não se sabe em concreto o que causou este incêndio, que deflagrou perto da aldeia de La Ribaute, mas a ministra da Transição Ecológica, Agnès Pannier-Runacher, já justificou o que propiciou o seu avanço. “É consequência das alterações climáticas, da seca na região e da situação climática do nosso país”, afirmou esta manhã à Franceinfo. O seu ministério publicou uma nota em igual sentido, destacando que este fogo consumiu em 24 horas o que normalmente arde durante um ano inteiro em França.
O primeiro-ministro francês, François Bayrou, que esteve no local esta quarta-feira, alinhou pela mesma bitola, descrevendo o incêndio como “uma catástrofe de uma dimensão sem precedentes” e “relacionado com as alterações climáticas e a seca”.
O sul de França tem sido particularmente fustigado por incêndios florestais nos últimos anos, algo agravado pelo agravamento das condições de seca e pela remoção das vinhas, que costumavam ajudar a travar o avanço das chamas. Este, de resto, nem sequer foi o primeiro incêndio grave a ocorrer na região de Aude este ano: em julho, um outro em Narbonne obrigou à atuação de 1050 bombeiros.
Apesar das melhorias meteorológicas desta quinta-feira, as autoridades mantêm-se alerta, em particular porque vem aí uma nova vaga de calor a afetar o sul do país a partir de sexta-feira.