No universo das celebridades, há quem prefira manter em segredo o uso de esteroides anabolizantes, mesmo apresentando ganhos musculares expressivos em períodos muito curtos, algumas vezes inferiores a dois meses. Por outro lado, há famosos que admitem o consumo dessas substâncias e relatam as complicações enfrentadas. Esse debate reacende discussões importantes sobre os perigos associados ao uso de anabolizantes, lembrando que não há forma segura de utilizá-los.
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Segundo a ginecologista Patricia Magier, formada pela Universidade Federal Fluminense (UFF), “o uso em doses suprafisiológicas traz muito risco à saúde. O uso prolongado pode causar a supressão do eixo hormonal, alteração no fígado e rins, aumentar o risco cardiovascular, manifestações de queda de cabelo, acne, engrossamento da voz, mudança de humor”.
Para as mulheres, a especialista destaca a possibilidade de virilização, que inclui aumento do clitóris, alteração da voz, queda de cabelo e características masculinas. Ela ressalta ainda que “essa é uma prática que não tem relação com a reposição hormonal chamada de fisiológica.”
A médica esclarece que existe confusão entre o uso de anabolizantes e a reposição hormonal feita com hormônio bioidêntico.
— A reposição hormonal é feita em pacientes que estão na menopausa, com insuficiência de determinado hormônio depois dos 40 anos. O objetivo é devolver aquilo que a paciente não está conseguindo produzir. Já o uso de esteroides anabolizantes em doses suprafisiológicas, acima do que é considerado o ideal para cada pessoa, é usado principalmente com finalidade estética e tem todos esses efeitos colaterais — explica.
Quatro efeitos colaterais pouco discutidos
Comprometimento da fertilidade
O uso de esteroides pode diminuir as chances de gravidez. — Essas substâncias são versões sintéticas da testosterona, o hormônio masculino, e quando utilizadas em doses elevadas causam desequilíbrio no eixo hormonal feminino — diz o médico Rodrigo Rosa. Segundo ele, os anabolizantes inibem hormônios como FSH e LH, responsáveis pela ovulação, podendo levar à anovulação e à ausência de menstruação por meses ou anos.
— Esse quadro pode ser reversível em alguns casos, mas o risco de danos duradouros aumenta conforme o tempo e a dose do uso — afirma. Além disso, os óvulos podem sofrer alterações, os ovários podem desenvolver cistos e o endométrio pode ser afetado, comprometendo a saúde reprodutiva. Para mulheres que desejam engravidar após o uso, é essencial avaliar a reserva ovariana e o funcionamento do ciclo, e com o suporte adequado, a função reprodutiva pode ser recuperada.
Aumento permanente do clitóris
— A hipertrofia do clitóris é um efeito pouco falado, mas bastante comum, especialmente com o uso inadequado de implantes e ‘chips’ hormonais — destaca o ginecologista Igor Padovesi, especialista em cirurgias íntimas. O crescimento pode causar desconforto, principalmente durante relações sexuais, quando o órgão se torna ainda maior.
Ele pontua que mulheres com voz mais grossa por uso de andrógenos geralmente apresentam essa alteração. Os hormônios androgênicos, como testosterona, gestrinona, oxandrolona e estanozolol, estimulam esse crescimento em graus variados. A única forma definitiva de reduzir o volume é por meio da clitoroplastia, cirurgia que remove parte do tecido esponjoso responsável pelo aumento, sem afetar a sensibilidade, pois preserva os nervos essenciais da região.
De acordo com o dermatologista Abdo Salomão Jr., membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia, hormônios sintéticos similares à testosterona podem acelerar a alopecia androgenética em pessoas predispostas.
— Esses hormônios causam afinamento e encurtamento dos fios, processo chamado miniaturização — esclarece. Para tratar, além de suspender o uso, procedimentos como Evolla, Megaderme Duo e laser Pro Collagen podem estimular o crescimento capilar, facilitando a aplicação de medicamentos via drug-delivery, técnica que usa canais abertos na pele para melhorar a absorção e fortalecer os fios. A farmacêutica Patrícia França, da Biotec, acrescenta que suplementos como Exsynutriment, que nutrem os folículos com silício e colágeno, ajudam a fortalecer e aumentar a resistência dos cabelos.
Complicações cirúrgicas
O cirurgião plástico Carlos Manfrim, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, explica que os anabolizantes modificam a composição corporal, diminuindo gordura e aumentando massa muscular, o que pode afetar os resultados de cirurgias estéticas.
— Em pacientes com próteses mamárias localizadas acima do músculo, a atrofia do tecido adiposo pode deixar a prótese muito próxima da pele, causando ondulações chamadas rippling — descreve.
Para corrigir, pode ser necessária uma nova cirurgia que reposicione a prótese abaixo do músculo, técnica que Dr. Manfrim chama de HC BRA, onde parte da cápsula da prótese é usada para melhor sustentação e ajuste da pele, evitando deformidades.