AMOR POR ACASO || Lara nunca acreditou em amor à primeira vista – até conhecer João
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Quando Lara marcou uma semana de férias no final do ano de 2023 num surf camp em Sidi Ifni, uma pequena cidade costeira situada no sul de Marrocos, não imaginou que seria ali que iria encontrar o amor.
De mochila às escolas e acompanhada por dois amigos, aterrou em Marrocos no dia 26 de dezembro na esperança de encontrar boas ondas para surfar e estradas livres para deslizar de skate – as suas grandes paixões. “Ficámos num surf camp para termos orientação, porque íamos para um sítio completamente desconhecido, aquilo era no meio do nada, mesmo.”
Ao contrário de Taghzaout e Imsouane, destinos mais turísticos em Marrocos, Sidi Ifni “não é uma zona onde os surfistas costumam ir”. “É um sítio com muito menos turistas, muito diferente do habitual”, descreve, ela que já tinha estado num surf camp semelhante, mas na Galiza.
Naquele dia, João esperava um novo grupo de surfistas para acompanhar numa nova semana. Aos 26 anos, estava a trabalhar naquele surf camp “por acaso”. Um mês antes, em novembro, quando tinha tudo pronto para seguir para uma nova aventura na Nova Zelândia, surgiu a oportunidade de substituir um instrutor de surf naquele surf camp.
“Eu fui para lá [Sidi Ifni] no início de novembro. Inicialmente, ia para a Nova Zelândia mas acabei por ir substituir uma pessoa que à última hora não podia ir. Larguei tudo e fui para Marrocos.”
João sempre foi um espírito livre. Depois de trabalhar durante um ano como comissário de bordo em Espanha, resolveu fazer do surf um estilo de vida, deixando-se levar pelas ondas – fosse onde fosse. “Estava cansado de ter restrições horárias e tudo o mais e o surf abriu-me uma janela em que eu poderia fazer a minha própria gestão, ser quase um nómada.”
Do sul de Espanha viajou para o sul dos Países Baixos, onde começou a dar aulas de surf. Dos Países Baixos foi para as Canárias. Chegou a criar uma espécie de rotina sazonal. “Eu vivia o meu verão nos Países Baixos e o inverno entre as Canárias ou Marrocos. Ficava até maio num país e no final de maio arrancava para os Países Baixos até ao final de setembro, e andava sempre a trocar de um lado para o outro.”
João lembra-se que estava no rooftop do surf camp quando Lara chegou com os amigos, no final do dia. Como já era hábito, apresentou-se ao grupo e mostrou as instalações. Ficou surpreendido quando se apercebeu que estava diante de portugueses. “Nos anos que passei fora a dar aulas, era muito raro encontrar portugueses. E, por mero acaso, fui encontrar três portugueses no meio do nada em Marrocos.”
Lara viajou com dois amigos para uma pequena cidade costeira de Marrocos onde ficaram instalados num surf camp. Foi lá que conheceu João, o instrutor de surf que os acompanhou naquela semana. Cortesia Lara Carriço
Do primeiro olhar ao primeiro passo
Lara confessa que nunca acreditou no amor à primeira vista. Aos 22 anos, “não me imaginava ao lado de alguém”, conta. Mas ali, diante de João, bastou um olhar para o sentir. “Para mim, foi ao primeiro olhar. Desde o primeiro momento em que os nossos olhos se cruzaram, houve uma ligação impossível de ignorar.”
Nessa semana, passaram todos os dias juntos, ainda que em grupo. “Como instrutores, temos de acompanhá-los o dia todo”, explica João. “Eu também vivia no surf camp, o meu quarto era no mesmo edifício, portanto, convivia com eles todos os dias a toda a hora, desde o pequeno-almoço até ao jantar.”
Os dias eram passados no mar, a surfar, ou em terra, a explorar a cidade. À noite, depois do jantar, faziam atividades em grupo, como jenga. Pelo meio, cruzavam olhares e trocavam piadas.
“Desde o primeiro momento em que os nossos olhos se cruzaram, houve uma ligação impossível de ignorar”. Cortesia Lara Carriço
Lara sabia que o que sentia era mútuo, apesar de parecer que existia “uma barreira” entre eles. “Naquele ambiente, o João sempre manteve uma postura profissional e eu sentia sempre que havia ali uma barreira entre nós, mesmo havendo algumas brincadeiras e troca de olhares.”
Resolveu então dar o primeiro passo. Numa dessas noites, procurou-o. “Eu sabia que ele estava no andar de baixo, mas não sabia dele. E mandei-lhe uma mensagem a perguntar se, em vez de jogar jenga, podíamos ir ver as estrelas. Foi uma coisa assim do género. Ele já tinha comentado connosco que gostava de ver as estrelas ali e eu mandei-lhe essa tacada”, recorda, entre risos.
Nessa noite, foi a primeira vez que ficaram sozinhos – sem o grupo, sem jenga. Só eles e o céu estrelado.
Entretanto, sem que nenhum dos dois desse conta, a semana chegou ao fim. “Eu vim embora no dia 2 de janeiro e pensei que o João tinha sido um capítulo bonito em Marrocos e que tínhamos ficado por ali.”
Chegaram a prometer encontrar-se quando João decidisse voltar a Portugal, sabendo que isso não estava sequer nos planos do instrutor de surf. Depois de Marrocos, a ideia era voltar aos Países Baixos.
“Peguei em tudo o que tinha, despedi-me e vim diretamente para Lisboa”
Já com Lara em Portugal, continuaram a falar todos os dias. “Quando cheguei de Marrocos, disse logo à minha mãe: ‘mãe, conheci uma pessoa’”, recorda. “Fazíamos videochamadas e trocávamos mensagens todos os dias, reservávamos sempre algum tempo ao final do dia para falarmos.”
“Começámos a sentir mais saudades um do outro e foi então que pensei: ‘porque não?’”, conta João. “E arrisquei. Peguei em tudo o que tinha, despedi-me e vim diretamente para Lisboa.”
Ao fim de três semanas separados, reencontraram-se no aeroporto de Lisboa. “Inicialmente era para ser surpresa, mas comprei bilhetes para o mês errado e depois tive de comprar outros e acabei por lhe contar. E ela foi buscar-me ao aeroporto.”
“Lembro-me perfeitamente de o ver e parecer que já não o via há imenso tempo. Parecia que estava a voltar a conhecê-lo.”
Ambos confessam que não tinham nada programado. “Eu não fazia ideia onde é que isto ia dar”, admite Lara. “Sabia apenas que gostava dele.”
Na primeira semana em Lisboa, João – que é do Norte – alugou um apartamento perto da Costa da Caparica, onde Lara dava aulas de surf. Depois, passou quase quatro meses num quarto arrendado na escola de surf onde Lara trabalha. “Como ela trabalhava num surf camp que tinha uma surf house, aluguei lá um quarto durante quatro meses e inclusive comecei a trabalhar lá.”
Lara e João partilham o mesmo espírito aventureiro. “Temos os mesmos gostos, a mesma paixão pelo surf. Sei que há quem diga que não é bom termos os mesmos gostos em comum mas, para mim, só faz sentido ter ao meu lado alguém que me entenda, que tenha o mesmo pensamento que eu e que goste de fazer as mesmas coisas”, reflete Lara Carriço
Durante esse período, vários cenários estiveram em cima da mesa – Lara ainda equacionou viajar para os Países Baixos com João, mas logo desistiu da ideia. “Eu não sou capaz de largar assim tudo, ir para um sítio completamente novo e começar do zero, ia custar-me bastante”, confessa.
“Então o João acabou por ficar aqui por mim. Deixou de ir para os Países Baixos, para as Canárias, onde quer que fosse, e ficou cá comigo.”
“Nunca pensei encontrar alguém”, admite João. “Com o estilo de vida que eu levava, era muito complicado. Estava sempre em sítios diferentes e era muito difícil conseguir estabilizar com alguém, seja com amigos, seja com namoradas. A Lara foi a única pessoa que me levou a abdicar de tudo aquilo que conquistei até aquela altura.”
Quatro meses depois daquele reencontro no aeroporto de Lisboa, João e Lara mudaram-se para uma casa, onde estão a viver juntos desde então.
No futuro, esperam abrir uma escola de surf em conjunto. Afinal, foi a paixão por este desporto que os juntou “por acaso”. “Estamos a construir, dia após dia, uma história que começou num lugar improvável, mas que tem tudo para durar uma vida inteira.”
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