O espaço foi muito mais do que um snack-bar, restaurante ou bar. Chegou a ser o grande ponto de encontro dos turistas nacionais, e não só, que estavam no Sotavento algarvio. Era também uma espécie de central de informações, onde se podia saber qual a festa da noite, como arranjar convites para a zona VIP, que táxis havia disponíveis – os TVDE estavam a muitos anos de surgirem -, qual a possibilidade de arranjar uma casa para pernoitar uma noite, onde tomar o pequeno-almoço por volta das seis da manhã, ou procurar comida para levar para o barco ancorado na marina. Ou ainda para jantar fora de horas, bem como ver rostos conhecidos – foram muitos os que foram à procura de encontrar o ídolo da sua vida. O rosto dessa central de ‘facilitamento’, chamemos-lhe assim, era Paulo Tong, mais conhecido por Paulo China. Foi ele que teve primeiro uma esplanada perto daquela que veio a ficar conhecida como 7 Café ou 7 Figo, e que convidou o então craque do Barcelona para juntarem os dois espaços e transformarem a marina de Vilamoura.

«O 7, e antes a esplanada do China, sempre foi o local onde eu dava apoio às pessoas que precisavam de gelo, precisavam disto, precisavam daquilo. Nessa altura, o ponto de encontro de todas essas famílias era a esplanada, que antes era a esplanada Clube Náutico/ Paulo China».

O ponto de encontro
O sócio de Luís Figo explica o passo seguinte. «Depois juntámos os dois espaços e fizemos o ‘7 Figo e China’. Nessa altura juntava-se a nata da nata. Era o ponto de encontro. Depois eu ‘mandava’ as pessoas para o amigo banheiro (risos) [leia-se Luís Evaristo, então na Casa do Castelo, em Albufeira, e depois no Sasha em Portimão, e de quem China é muito amigo], para a Trigonometria ou para o T-Clube, Locomia, Kadoc…», recorda Paulo China que não podia ficar sem bateria no telemóvel, pois as chamadas sucediam-se e eram muitos os que chegavam ao Algarve e lhe ligavam. «Estamos a falar desde presidentes de câmaras, Porto, Matosinhos e por aí fora, Fernando Gomes, Mário Almeida, Narciso Miranda, Santana Lopes, todos os ministros de Cavaco, entre os quais Fernando Nogueira, Silva Peneda. Havia os desportistas, os políticos e as famílias da área financeira, como Pedro Queiroz Pereira, os irmãos Nogueiras, os da RAR. Havia a nata do mundo das finanças».

Agora tudo terminou com a venda do espaço ao fundo imobiliário Arrow Global, o novo ‘dono’ de Vilamoura, mas deixemos a história da venda mais para o fim e vamos ao início do ‘casamento’ Paulo China/Luís Figo.

O empurrão de André Jordan
«O 7 foi a junção com a esplanada do Clube Náutico/China, que terá começado nos finais dos anos 70, início dos anos 80. Com a chegada do André Jordan, que foi dono de Vilamoura, eles tinham aquele património, o Clube Náutico, e venderam-nos o espaço. Até porque o Clube Náutico passou para o outro lado da marina, junto ao Manel do Peixe. Como não tinha dinheiro para comprar o espaço, convidei o Luís, que gostou da ideia. Fizemos a junção dos dois espaços em 1998, e durante o Mundial de Futebol em França, como Portugal não foi apurado, o Luís Figo viu os jogos da seleção com muitos amigos portugueses e não só. O Figo nessa altura estava no Barcelona e decidiu investir no Algarve. Ele já vinha para Vilamoura desde os tempos do Sporting. André Jordan, o guru de todos os tempos, gostava muito de desporto, nomeadamente de futebol, e gostou da ideia», começa por dizer Paulo China ao SOL.

Para quem não viveu esses tempos, diga-se que a marina de Vilamoura, em agosto, à noite, fazia lembrar o Metro em hora de ponta, com muitos a quererem ser vistos e outros a quererem ver. No meio de uma enorme multidão passeavam, a passo de caracol, carros de luxo, com os Ferrari à cabeça, mas havia centenas ou mesmo milhares de pessoas que passavam pelo 7 Café para tentar encontrar o craque ou algum dos seus colegas futebolistas.

Os promotores do bar
Paulo China era o operacional do negócio e Luís Figo o nome que dava ‘chama’ ao espaço. Desde muito cedo ligado ao mundo do futebol, China conheceu a velha geração de jogadores, como Shéu ou Eusébio, mas tornou-se uma espécie de porto de abrigo de muitos dos jogadores que surgiram depois de Portugal ter sido bi-campeão de sub-20, a geração de João Vieira Pinto, Paulo Madeira, Figo, Rui Costa, Fernando Couto ou o recentemente falecido Jorge Costa. «Havia o convívio entre as gerações do Carlos Manuel, do Diamantino com as gerações do Rui Costa, Figo e dos campeões de Riade. O ambiente era giro, saudável, estávamos na fase em que ninguém recusava um autógrafo, uma foto», acrescenta Paulo China.

Continuando nas memórias, em meados dos anos 90, Paulo China organizava um jogo de futebol entre os craques portugueses em férias com os amigos estrangeiros. Os primeiros jogos realizaram-se no então pelado do Estádio Municipal de Quarteira, em que entravam craques estrangeiros como Pepe Guardiola, Zenden, Phillipe Cocu, Paul Gascoigne, entre tantos outros. Terminado o jogo, seguia-se um opíparo jantar no D. Pedro, em Vilamoura. E eram esses craques todos, mais a colónia do Reino Unido, que frequentavam o 7 Figo, ou 7 Café – há diferentes nomes para o mesmo espaço.

«Havia muita gente anónima que ia lá à procura do Figo e das outras vedetas. O Luís, que jogava em Barcelona, levava os colegas da equipa para Vilamoura, e o Rui Costa também foi um grande promotor, trazendo vários colegas da Fiorentina, e depois do Milão. O Van Gaal e os jogadores holandeses passavam por lá, mas iam muito para Vale de Lobo, que era do van Gelder», adianta China. As paredes do 7 Figo espelhavam precisamente a vivência de Paulo China com os vários craques ao longo de décadas. O que irá fazer a esse espólio, China prefere outra ocasião para dizer de sua justiça.

Avôs, pais e filhos
A vida de Paulo China confunde-se, nos últimos 30 anos, com os espaços que liderou na restauração. Conheceu famílias inteiras, de avós a netos, e recorda que tinha de estar praticamente 24 horas disponível para resolver os vários problemas que os veraneantes iam passando. «Durante a manhã, eram os pais que apareciam, às vezes com os avós. À tarde encontravam-se todos, quando saíam da praia. Mas à noite quem ficava eram os filhos que se preparavam para a festa comendo o bifinho do Chinês e bebendo sangrias e shots de tequila – o 7 Café era um dos locais preferidos dos promotores das festas para entregarem os convites – até porque fechávamos mais tarde».

‘A vida é um sopro’
Sem problemas financeiros, quais as razões então para vender o mítico espaço ao fundo americano? «É preciso saber sair na hora certa. A vida é um sopro e é preciso aproveitá-la. Estou reformado, reformei-me aos 66, tenho 68 anos, e há 50 que comecei a lavar pratos e casas de banho, e acho que chegou a altura de ter mais tempo para a família e amigos. As minhas filhas formaram-se e não queriam continuar com o negócio, da parte do Figo a mesma coisa. Nós se não vendêssemos tínhamos que apostar numa renovação, investindo na imagem, e acho que também era a altura também de nós investirmos na imagem, pois apesar do 7 Café ser um nome conhecido, era preciso adaptarmo-nos às novas tendências. Foram muitos anos, foi uma grande escola de vida, de faculdade de conhecimento, tudo que aprendi foi nessa escola… Eu não tinha só que tratar do 7 Café, pois no final do dia não era só o restaurante, era mais tratar das pessoas, das famílias, disto e daquilo, tratar das entradas nas discotecas e por aí fora. Conheci Portugal todo, de uma ponta a outra, porque era um sítio de moda, não é?», termina Paulo China, o Chinês.