Tony Ramos não contou com a presença do pai biológico em sua criação. O ator ainda era um bebê quando sua mãe se separou, e foi criado por ela e pela avó materna em São Paulo. Tony falou ao GLOBO, em entrevista à jornalista Maria Fortuna no videocast ‘Conversa vai, conversa vem’ (no ar no Youtube) sobre como esse abandono o fez querer ser um pai mais presente para seus filhos, a advogada Andrea, e o médico Rodrigo.

Tony Ramos — Foto: Leo Martins Tony Ramos — Foto: Leo Martins

Quem não teve pai presente, sabe que o mundo não acaba, mas que isso marca. Como esse abandono parental te marcou?

Não diria abandono, é um pouco forte. Vivemos épocas melhores. Hoje, um casal se separa e faz questão, pelo bom senso, de preservar os filhos, manter a amizade. Para as crianças saberem que não há inimigos, apenas essa vida em comum que não deu certo. Imagina lá no final dos anos 1950. As pessoas se afastavam naturalmente, havia um bloqueio raro. Casais que se separavam não mantinham essa essa convivência. Me marcou a partir do momento em que fui descobrindo a vida. Algumas perguntas, até sobre sexo mesmo, a gente fica mais mais confortável ao fazer para um homem, no caso, o pai, na hora do jantar… Perguntas que fiz depois para tios, amigos, colegas. Mas tive o olhar dessas duas mulheres com muito vigor e amor.

Não ter tido a pai biológico perto te fez querer ser um pai mais presente para os seus filhos, Andrea e pro Rodrigo?

Sem dúvida. Mesmo não podendo ser tão presente como gostaria, ir nas reuniões de escola. Sempre estava no estúdio ou em externa, chegava à noite e pergunta à Lidiane: “Como foi a reunião?”. Andrea já falava: “Papai, sabemos que alguém tem que trabalhar nessa casa…”. Não sou totalmente em paz com isso, mas minha presença se fazia no leito de cada um. Esse presencial sempre existiu com afeto. Eu sou pai e não herói, apesar de ter feito a novela “Pai Herói”.

Acha que essa sua criação matriarcal te fez olhar com outros olhos o machismo ou se policiar?

Nunca me policiei porque nunca fui machista. Sei o que sou: macho, do gênero masculino. Macho, mas “chista” não. Nunca tive essa coisa da posse. Olhando nos seus olhos, te digo: nunca me corrigiram nesse sentido. Minha filha, minha companheira de mais de 50 anos (Lidiane Barbosa)… Se não, não teria durado tanto. Até pelo espírito libertário dela. Muita coisa devo, sim, a um olhar maior e não mesquinhamente machista sobre o papel de cada um de nós na sociedade. Vi minha mãe trabalhar em três lugares como professora, tinha uma avô viúva, que cuidava da casa. A vida foi essa e nunca tive problemas por causa disso. Mesmo sem ter o pai, até minha mãe casar de novo (com um professor).