Fxquadro / adobe.stock.comA crise do “homem literário” tem sido assunto na imprensa norte-americana nos últimos meses.Fxquadro / adobe.stock.com

Uma turma de amigas reúne-se uma vez por mês para conversar sobre um livro de ficção. Nada de excepcional. Se você é mulher e gosta de ler, é provável que já tenha participado de um grupo de leitura desse tipo. Mas experimente trocar “amigas” por “amigos homens” e a própria frase começa a soar como ficção.

Não me entendam mal. Tenho muitos amigos que são grandes leitores (a maioria deles, pensando bem, relacionados profissionalmente com a literatura de alguma forma), mas nenhum, que eu saiba, costuma discutir livros de ficção com seus camaradas. Discutir não por qualquer motivação prática (uma prova, por exemplo) ou compromisso de trabalho, mas pelo simples prazer de ouvir o que outros homens têm a dizer sobre uma história que acabaram de ler.

A crise do “homem literário” tem sido assunto na imprensa norte-americana nos últimos meses. Fato: mulheres lêem mais. Já se disse que a goleada pode chegar a 8×2, ou seja, mulheres seriam responsáveis por 80% das compras de livros de ficção nos Estados Unidos. Um levantamento mais confiável aponta que 50% das mulheres norte-americanas leram pelo menos um romance ou conto no ano que passou, contra 33% dos homens. Nas oficinas de literatura, elas também levam vantagem, respondendo por cerca de 60% das inscrições em cursos de formação de escritores — um desequilíbrio que já é visível inclusive na lista dos livros mais vendidos. Em 2004, dava empate. Em 2025, 75% dos best-sellers de ficção são assinados por mulheres.

Alguns dias atrás, a colunista Maureen Dowd, do New York Times, escreveu que achou a coisa mais sexy do mundo quando um homem que ela conhecia contou que estava lendo os romances de Jane Austen. Te entendo, amiga. Ver um homem absorto na leitura de algo que não seja o feed da rede social ou a seção de esportes do jornal tem lá seu apelo erótico — principalmente porque vem se tornando raro. (Não por acaso, há um perfil no Instagram dedicado exatamente a essa preferência feminina: “Hot dudes reading” ou “bonitões lendo”. Fica a dica.).

Toda essa conversa sobre o quanto os homens andam lendo ou deixando de ler parece estar relacionada a uma discussão mais ampla sobre a crise da subjetividade masculina. Enquanto os mais velhos penam para se situar em um mundo em que as piadas de vestiário saíram de moda e o papel de provedor perdeu relevância, os mais novos sofrem para encontrar modelos masculinos que despertem o melhor que existe neles — e não o mais abjeto (misoginia, radicalismo, violência).

Em ambos os casos, bons livros (e bons amigos) podem ajudar. Se os homens, bonitões ou não, pelo menos derem uma chance.