A influência da Faculdade de Direito de Lisboa (FDL) vai tendo cada vez mais peso na vida interna do Partido Socialista. Peso esse que se fez sentir na escolha de André Moz Caldas para candidato do PS à presidência da Assembleia Municipal de Lisboa nas próximas autárquicas e que mereceu aprovação unânime nas estruturas do PS da capital, juntamente com as restantes listas de candidatos às autárquicas de outubro próximo.

E a verdade é que Moz Caldas não foi a primeira escolha do partido e da cabeça de lista à Câmara da capital, Alexandra Leitão, também ela da Faculdade de Direito (FDL) da Universidade Clássica de Lisboa.

O antigo ministro Pedro Siza Vieira era o preferido tanto da direção nacional como das estruturas locais do partido, e da própria candidata, mas manifestou-se indisponível para sequer pensar sobre o convite. E Mário Centeno, que ainda chegou a ser sondado, mas o facto de ainda continuar ligado ao Banco de Portugal quando as candidaturas forem entregues (até 18 de agosto) afastou em definitivo qualquer hipótese.

Uma das grandes surpresas destas listas é não incluírem Pedro Costa, o filho do ex-líder socialista, antigo primeiro-ministro e atual presidente do Conselho Europeu recusou concorrer ao Seixal. E apesar de o antigo presidente da Junta de Freguesia de Campo de Ourique ter mostrado disponibilidade para integrar a equipa de Alexandra Leitão para a autarquia lisboeta, nem sequer foi tido em conta pela candidata em nome de uma renovação socialista e numa tentativa de reconquistar a Câmara a Carlos Moedas, apurou o Nascer do SOL. Um afastamento que não surpreendeu os socialistas ouvidos pelo nosso jornal. «Não basta mostrar disponibilidade e foi isso que ele fez e agora vem comentar por que é que não foi escolhido», atiram os seus adversários, enquando outros lamentam a exclusão.

André Moz Caldas tirou o curso na Faculdade de Direito e é assistente convidado da FDL desde 2012, lecionando disciplinas como Direito Romano, História do Direito, Filosofia do Direito e Sociologia do Direito. O antigo secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros foi o responsável por coordenar o programa de Alexandra Leitão e já tinha sido coordenador das moções com que o atual líder do partido, José Luís Carneiro, concorreu às eleições internas do PS.

A sua integração nas listas à corrida da Câmara de Lisboa vem intensificar o peso da FDL no partido. Alexandra Leitão também é professora na faculdade, assim como Pedro Delgado Alves – escolhido por Carlos César para líder interino do grupo parlamentar, mas que acabou por ser substituído por Eurico Brilhante Dias, após a vitória de José Luís Carneiro, e foi cabeça de lista por Coimbra nas últimas legislativas de maio, sendo uma voz ativa nos Media.

É certo que o peso da Faculdade de Direito na vida interna do PS não é nova. No passado, nomes de ex-alunos como António Ramalho Eanes, Mário Soares, Jorge Sampaio e António Costa engrossaram esta lista, reforçando a ligação da instituição ao PS, dando à faculdade estatuto de incubadora de elite política portuguesa.

Mas a verdade é que coincide com a perda de peso político do ISEG – onde Francisco César, Pedro Nuno Santos e Duarte Cordeiro tiraram o seu curso – e, acima de tudo, do ISCTE- Instituto Universitário de Lisboa, que conta com nomes como dos ex-ministros socialistas Mariana Vieira da Silva, Helena Carreiras, Pedro Adão e Silva ou Ana Catarina Mendes. Também António José Seguro, Augusto Santos Silva, Maria de Lurdes Rodrigues e Paulo Pedroso surgem na lista de ex-alunos do ISCTE.

Aliás, vários membros da Iniciativa Liberal chegaram a questionar se o ISCTE funcionava como «um satélite do PS» devido à forte presença de ex-governantes socialistas em posições de destaque na universidade.
Fontes ouvidas pelo nosso jornal sublinham que, «tal como acontece com a Faculdade de Direito e com o ISCTE, também a Universidade do Minho tem uma estreita ligação com o PSD e, em, todos os casos, representam castas de proteção mais do que ideológicas».

Pressão para ganhar
Voltemos às listas para as autárquicas que foram aprovadas por unanimidade (com apenas a abstenção de uma Junta de Freguesia em 60, mas sem votos contra). Para a vereação, Alexandra Leitão escolheu Sérgio Cintra, do secretariado da Federação da Área Urbana de Lisboa do PS e que conta no seu curriculum com a passagem por instituições como a Gebalis (empresa municipal) e a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, ou Carla Madeira, que sai da presidência da junta de freguesia da Misericórdia, onde não podia recandidatar-se. «São dois nomes que são conhecidos por terem atividade no terreno e muito focados na área social», diz fonte socialista ao Nascer do SOL. A somar a esta lista, há que contar ainda com Pedro Anastácio, atual vereador na autarquia lisboeta, Paulo Pais, Maria Begonha, ex-deputada, Manuel Neves, presidente da JS-FAUL, Ricardo Marcos, Lia Ferreira e Vasco Franco. Já em relação aos parceiros de coligação, surgem Carlos Teixeira (Livre), Carolina Serrão (BE), Patrícia Robalo (Livre) e António Morgado (PAN).

Recorde-se que Alexandra Leitão foi anunciada oficialmente pelo Partido Socialista como candidata à Câmara de Lisboa em janeiro de 2025, uma escolha destacada por Pedro Nuno Santos como sinal de uma «aposta forte» e valorizando o perfil de «realização e concretização».

Nessa altura, a candidata teceu duras críticas ao atual presidente da Câmara, Carlos Moedas, defendendo que «Lisboa precisa de uma liderança real, que decida em diálogo, não de cenários fabricados ou de mera propaganda», acrescentando que da sua parte podiam contar com um «debate político transparente, honesto e consequente».

Com vista a reconquistar a autarquia, o PS ensaiou uma grande coligação de esquerda que inclui quase todos os partidos à sua esquerda (Livre, BE e PAN). De fora fica a CDU volta a apostar em João Ferreira, com o atual vereador a defender que «o voto no PS foi utilizado para viabilizar todas as opções de Carlos Moedas».

Uma coligação que levou Carlos Moedas a acenar como uma tentativa de «radicalizar» a política municipal, afirmando que representa uma ameaça à moderação que considera essencial para a cidade. Em várias declarações, o atual autarca tem dito que os lisboetas terão de escolher entre a «moderação assertiva» que propõe e o «radicalismo do contra», salientando que a candidatura de Alexandra Leitão não tem como objetivo mudar a cidade, mas derrubar o atual presidente.

Pesadas derrotas na área metropolitana
Tal como o Nascer do SOL avançou, só o autarca de Loures, Ricardo Leão, parece estar de pedra e cal entre os candidatos socialistas para as próximas eleições autárquicas, uma vez que será o único que terá uma vitória esmagadora de acordo com as sondagens disponíveis no próprio partido. Fonte socialista refere que «a maior alegria do PS vai ser Loures» quando o autarca vencer com maioria absoluta.

«Na área metropolitana de Lisboa, o PS vai passar para terceiro em Cascais, com Nuno Piteira Lopes a ganhar, e com o Chega a ficar em segundo. Também em Sintra vai ficar em terceiro lugar havendo ainda dúvidas de quem sairá vencedor, se Marco Almeida ou se Rita Matias. O PS vai ficar muito mal em Oeiras, vai perder Lisboa, vai ganhar na Amadora e vai ganhar em Odivelas na linha de água. Só em Loures é que o PS irá superar todos os resultados», prognosticou a mesma fonte partidária.