Foi uma simples publicação nas redes sociais, mas Mohamed Salah sabia que não precisava de mais para chegar ao mundo inteiro. Nos últimos dias, o avançado do Liverpool tornou-se protagonista ao questionar a UEFA sobre os contornos da morte de Suleiman Al-Obeid, conhecido como “Pelé palestiniano” — reuniu mais de um milhão de likes, notícias em praticamente todo o lado e o apoio de figuras como Jeremy Corbyn e Gary Lineker.
Tudo começou quando a Associação Palestiniana de Futebol anunciou a morte de Suleiman Al-Obeid, internacional de 41 anos que terá sido vítima de um ataque israelita enquanto aguardava ajuda humanitária no sul da Faixa de Gaza. Pouco depois, também nas redes sociais, a UEFA limitou-se a partilhar uma fotografia do jogador, acrescentando a indicação de que era “um talento que deu esperança a inúmeras crianças, até no momento mais sombrio”.
The former Palestine national team player, Suleiman Al-Obaid, was killed in an Israeli strike targeting civilians waiting for humanitarian aid in the southern Gaza Strip.https://t.co/BWTmJThzeC pic.twitter.com/3qrIMksO2H
— Palestine Football Association (@Palestine_fa) August 6, 2025
Em resposta, Mohamed Salah perguntou várias coisas à UEFA: “Podem dizer-nos como é que ele morreu, onde e porquê?”, escreveu o avançado egípcio, que tem sido uma das vozes mais prementes do futebol internacional a pedir um cessar-fogo no conflito, defendendo que a ajuda humanitária deve entrar em Gaza “imediatamente” e descrevendo a situação como “um massacre”.
Pelo meio, porém, perdeu-se a história de Suleiman Al-Obeid. Nascido em março de 1984 em Gaza, o avançado estreou-se na Premier League local em 2007 com o Khadamat Al-Shatea, mudando-se para o Markaz Shabab Al-Amari da Cisjordânia dois anos depois. Foi campeão em 2011 e, ao fim de quatro temporadas, voltou a Gaza: foi o melhor marcador do Campeonato em três épocas consecutivas, entre 2016 e 2018, representando Gaza SC e novamente o Al-Shatea, do qual ainda era oficialmente membro do plantel em 2023 e quanto o conflito israelo-palestiniano reacendeu.
Pai de cinco filhos, foi internacional pela Palestina em 24 ocasiões, marcando dois golos, e foi capitão tanto da seleção como de todos os clubes por que passou. Ao longo da carreira, marcou mais de 100 golos e conquistou a alcunha de “Pelé palestiniano” pela facilidade que tinha na finalização e a qualidade que demonstrava com a bola nos pés. Em setembro de 2023, cerca de um mês antes do ataque do Hamas, disse numa entrevista que ainda não pensava em terminar a carreira, recordando que continuava a ser titular mesmo com mudanças de treinador.
Can you tell us how he died, where, and why? https://t.co/W7HCyVVtBE
— Mohamed Salah (@MoSalah) August 9, 2025
Apesar de a UEFA não se ter pronunciado publicamente depois das críticas de Salah, a Associação Palestiniana de Futebol partilhou uma declaração enviada pessoalmente por Aleksander Ceferin. Aí, o presidente da organização expressou condolências pela morte de Suleiman Al-Obeid e vincou que “a alegria, o talento e o orgulho podem florescer apesar do sofrimento”, acrescentando que “o talento e a dedicação” do jogador ao desporto “deram às crianças de Gaza, e não só, a esperança de um futuro melhor”.
De acordo com a Associação Palestiniana de Futebol, 325 jogadores, dirigentes, árbitros, treinadores e outros funcionários de clubes de futebol já morreram desde o início do conflito. 288 instalações desportivas já foram destruídas tanto na Faixa de Gaza como na Cisjordânia. Depois de Moyin al-Maghribi e Mohammed Barakat, que morreram em janeiro e março do ano passado, Suleiman al-Obeid é o terceiro internacional pela Palestina a morrer durante ataques de Israel.
De recordar que, apesar de a Palestina ser um Estado observador não-membro da Assembleia-Geral da ONU, a seleção nacional palestiniana é reconhecida pela FIFA desde 1998. A equipa disputou as últimas três Taças da Ásia, assim como as últimas três Taças Árabes, mas nunca conseguiu qualificar-se para o Campeonato do Mundo.