O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta segunda-feira o destacamento de 800 militares da Guarda Nacional para a capital norte-americana e a colocação da polícia de Washington sob controlo federal, alegando a necessidade de travar uma “onda de criminalidade”, apesar de as estatísticas indicarem que a criminalidade violenta atingiu, em 2024, o nível mais baixo dos últimos 30 anos.

“Estou a destacar a Guarda Nacional para ajudar a restabelecer a lei, a ordem e a segurança pública em Washington, D.C.”, afirmou Trump na Casa Branca, acompanhado pelo secretário da Defesa, Pete Hegseth, e pela procuradora-geral, Pam Bondi. “A nossa capital foi tomada por gangs violentos e criminosos sedentos de sangue.”

O anúncio insere-se na estratégia de Trump para intervir em cidades governadas por democratas, utilizando poderes executivos sobre matérias tradicionalmente de competência local. O Presidente republicano tem mostrado especial interesse em reforçar o controlo federal sobre Washington, rejeitando críticas de que estaria a “fabricar” uma crise para expandir os seus poderes numa cidade maioritariamente democrata.

Nos últimos dias, centenas de agentes de mais de uma dezena de agências federais — incluindo o FBI, ICE, DEA e ATF — foram destacados para várias zonas da cidade. Trump afirmou que, “se necessário”, enviará também militares das Forças Armadas, e Hegseth disse estar preparado para requisitar mais efectivos da Guarda Nacional de fora de Washington. Bondi ficará responsável pela supervisão da polícia local.

Ao justificar a decisão, Trump descreveu Washington como um cenário de violência descontrolada, algo contestado pela presidente da câmara, Muriel Bowser, que afirmou que a cidade “não está a registar um aumento da criminalidade” e recordou que, no ano passado, os crimes violentos caíram para o valor mais baixo em mais de três décadas.

De acordo com a polícia local, a criminalidade violenta diminuiu 26% nos primeiros sete meses de 2025, após uma queda de 35% em 2024, e a criminalidade geral registou uma redução de 7%.

Trump intensifica retórica

Na última semana, Trump reforçou o discurso, sugerindo que poderá retirar a autonomia local à cidade e implementar uma administração federal plena. O distrito de Columbia, criado em 1790, é regido pelo Home Rule Act, que atribui a autoridade final ao Congresso, mas permite a eleição de um presidente da câmara e de um conselho municipal. Trump afirmou na semana passada que advogados estão a analisar formas de revogar a lei, o que exigiria a aprovação do Congresso.


Para assumir o controlo da Polícia Metropolitana, Trump invocou uma disposição da lei que autoriza o Presidente a usar temporariamente a força policial em “condições especiais de emergência”. Declarou, assim, uma “emergência de segurança pública” na cidade.

Paradoxalmente, a própria Agência Federal de Gestão de Emergências (FEMA) da Administração Trump está a cortar financiamento à segurança da região da capital nacional — que inclui Washington, bem como cidades próximas em Maryland e na Virgínia —, com menos 20 milhões de dólares este ano, o que representa uma redução de 44% face a 2024.

O envio da Guarda Nacional já tinha sido usado por Trump noutras ocasiões, como em Los Angeles, em Junho, quando enviou 5000 militares em resposta a protestos contra operações de imigração da sua Administração. A decisão foi contestada por autoridades estaduais e locais, que a consideraram desnecessária e provocatória.

Um julgamento federal começou nesta segunda-feira em São Francisco para determinar se a Administração Trump violou a lei ao destacar a Guarda Nacional e os Marines sem a aprovação do governador democrata Gavin Newsom.

Ao contrário do que sucede nos estados, onde os governadores têm poder sobre a activação da Guarda Nacional, o Presidente detém autoridade directa sobre os 2700 militares desta força no distrito de Columbia. Militares da Guarda Nacional foram já enviados para Washington em diversas ocasiões, incluindo durante o ataque de 6 de Janeiro de 2021 ao Capitólio por apoiantes de Trump.

No seu primeiro mandato, em 2020, Trump utilizou a Guarda Nacional para reprimir manifestações, na maioria pacíficas, contra a violência policial após o assassínio de George Floyd — uma decisão criticada por líderes dos direitos civis e contestada por Bowser.

Por lei, as Forças Armadas dos EUA estão, em geral, proibidas de participar directamente em actividades de policiamento interno.

Desde a década de 1980, Trump tem usado o tema da criminalidade, em particular a juvenil, como arma política. Um dos episódios mais polémicos ocorreu em 1989, quando defendeu a pena de morte num caso em Nova Iorque que envolveu cinco jovens negros e latinos posteriormente ilibados de violação e agressão.

O grupo, conhecido como os “Central Park Five”, processou Trump por difamação depois de este ter afirmado, num debate presidencial no ano passado, que os acusados tinham confessado o crime, uma declaração falsa.