Foto: Reprodução/Internet
Continuando a falar sobre o livro de Roger Scruton, às vezes beira o inacreditável, a forma como as falácias progressistas são propagadas e endossadas por aqueles que se sentem no direito de imaginar e rogar para si o dever de “construir” um futuro melhor para a humanidade: nada mais grotesco e prepotente do que acreditar ser o dono de uma solução maravilhosa – lembrando que os homens, não só perseguem há milênios, mas, pela própria experiência cotidiana, percebem que não há possibilidade de uma solução única, mágica, mas justamente agora, uma “mente brilhante” teve a capacidade de elaborar uma teoria esplêndida e resolutiva de todos os problemas passados, presentes e futuros. Mais incrível ainda é como são reiteradamente os mesmos argumentos, vez ou outra adornados com alguns requintes de modernismo sofisticado, mas sempre lastreados na “reinvenção” do homem .
O que não passa despercebido por Scruton são os eixos dos argumentos propalados a torto e a direito, sob a tutela de muitos intelectuais que bradam a defesa do povo, quando na verdade, olhando para os resultados práticos, aumentam cada vez mais aquilo que eles juram combater: a desigualdade, a pobreza e principalmente o ódio ao próximo. Interessante, porém, é quando esses intelectuais têm suas teses e teorias confrontadas com a realidade, se apressam para lançar e se esconderem atrás de subterfúgios genéricos: “foi uma fatalidade”, “esse fato é exceção à regra”, ou um dos piores, “quem fez, não fez certo, de acordo com o que fulano de tal ensinou”, mostrando apenas mais uma face do seu autoritarismo subcutâneo, já que, se ele tivesse o poder, com certeza faria você se dobrar ao seu “gosto”. A realidade é que esse “intelectual” produz uma imensa generalidade, que como Scruton ensina falando acerca da Falácia da Utopia, não pode em nenhuma circunstância ser confrontada, uma vez que impossível ser realizada. Assim, como no plano abstrato das ideias a teoria sempre funciona, os progressistas utilizam a imaginação como trunfo. E como diz Thomas Sowell, “quando as pessoas querem o impossível, apenas os mentirosos podem satisfazê-las”.
Dostoiévski já dizia no seu livro Demônios, ainda no século XIX, quando então a Rússia já era uma país socialista, a forma como os “ progressistas” dos tempos modernos faziam seu trabalho de subversão intelectual, esparramados pela sociedade – aqui necessito fazer um adendo sobre a Rússia pré ditadura comunista e sobre os métodos utilizados pelos totalitários: cria-se um “ambiente” propício para domínio, e se a Rússia não era socialista politicamente, foi, ao menos “espiritualmente”, já que, antes de se tornar um estado Socialista, é necessário que pessoas sejam socialistas antes, principalmente sem que estas saibam; é como fazer um bolo, em que não se faz a massa sem quebrar os ovos antes.
Muitas pessoas defendem uma revolução sem saber ao certo o que isso quer dizer, sendo apenas guiadas pelas mentes que “pensam”. O problema é que quando grande parte da população adota, ou melhor, incorpora os ideais progressistas e socialistas subconscientemente, é quase inevitável uma ruptura com a ordem antecedente. Esse é, então, o objetivo principal dos ungidos, de Sowell: a confecção do clima, do ambiente, em suma, de um estado de alma social propício para a aceitação passiva absoluta.
No livro de Boris Pasternak, Doutor Jivago, em que o autor russo narra o ambiente soviético pré e pós revolução russa de 1917, fica bem nítida a forma como as pessoas foram jogadas num redemoinho de ideias abstratas sem terem a consciência de que estavam caminhando à passos largos para um estado totalitário.
O que Scruton faz, de certo modo, é mostrar a raiz e os desdobramentos das falácias que eram e são utilizadas pela esquerda, exatamente para infundir esse “sentimento comum de culpa” nas pessoas, de que o país está em declínio por causa de seu espírito, e como esses argumentos são sempre promessas vazias.
O problema é que o que antes demandava décadas, hoje, com o auxílio da internet e das redes sociais, ficou muito mais fácil de alcançar um número muito maior de pessoas em menos tempo, porém, na mesma proporção, aumentaram-se exponencialmente a dificuldade de controle das narrativas, e por isso há esse imenso lobby, uma reiterada insistência, sobre a regulação das mídias: notadamente, os que querem o controle, sob a justificativa de proporcionar um melhor debate de ideias, querem justamente o cerceamento delas, para que possam, assim, implantar seus ideais. O autor britânico ensina então, se tornando a ideia central desta obra, que uma dose de pessimismo sobre essas ideias revolucionárias e inovadoras, é sempre salutar e é capaz de evitar desastres humanos que demorariam décadas para serem revertidos.
As Vantagens do Pessimismo, Roger Scruton.
*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.