Nas últimas semanas, houve um aumento no número de pessoas que tentam chegar a Ceuta, com mais de 50 crianças a atravessarem a nado desde Marrocos apenas no dia 26 de julho.

Na última tentativa, na manhã de sábado, dezenas de pessoas foram
intercetadas enquanto tentavam entrar no enclave. Sete crianças chegaram
à costa, e foram entregues às autoridades regionais.

Cerca de 100 migrantes tentaram entrar, aproveitando as condições de nevoeiro, que dificultam a localização de pessoas”, afirmou um porta-voz da delegação do governo central espanhol em Ceuta, ao jornal britânico The Guardian.

“Mas não conseguiram, porque as forças de segurança marroquinas e a Guardia Civil espanhola, em colaboração com barcos de resgate, impediram-nas de chegar a Ceuta”, acrescentou.Os dois enclaves espanhóis na costa mediterrânica de
Marrocos, Ceuta e Melilha, partilham as únicas fronteiras terrestres da
União Europeia com África. Os enclaves sofrem esporadicamente ondas de
tentativas de travessia por migrantes que tentam chegar à Europa.

Os migrantes que fazem a travessia a nado podem ser facilmente detidos quando são poucos, por isso tentam ir em grande número em dias de nevoeiro ou durante a noite. Os são intercetados são devolvidos imediatamente a Marrocos.


Normalmente, as pessoas precisam nadar desde a costa marroquina, nas correntes traiçoeiras do estreito de Gibraltar, para chegar até às longas cercas fronteiriças que se projetam no mar, isolando o enclave de Ceuta do território marroquino.

No mês passado, Juan Jesús Rivas, o presidente da cidade autónoma, disse que Ceuta estava “totalmente sobrecarregada” com o número de jovens migrantes que acolhia e apelou a outras regiões espanholas para que acolhessem algumas das crianças.

“Somos um território que compreende 20 quilómetros quadrados dos 500 mil quilómetros quadrados que compõem toda a Espanha, mas acolhemos três por cento dos menores”, afirmou na altura Rivas ao jornal espanhol El País.

“Quem não percebe que esta é uma situação insustentável? A situação em Ceuta é de colapso e isso representa um risco muito grave no que diz respeito ao acolhimento de menores e à cidade como um todo”, frisou.

No final de julho, Alberto Gaitán, porta-voz do governo de Ceuta, disse que o enclave estava a acolher 528 menores estrangeiros, quando oficialmente só tinha capacidade para 27.

Gaitán salientou que já estavam em vigor planos de contingência para enviar as crianças para outras regiões espanholas.



“Entre 2021 e 2024, cerca de 450 menores — aos quais devemos acrescentar outros 80 devido ao reagrupamento familiar em diferentes partes de Espanha — foram realojados noutras regiões autónomas”, explicou.

Para Gaitán, “isso mostra que outras regiões, independentemente da sua orientação política, estão dispostas a ajudar e demonstraram que podem ajudar a aliviar Ceuta”.



Há quatro meses, os deputados espanhóis aprovaram um decreto para redistribuir os 4.400 menores estrangeiros nas Ilhas Canárias, Ceuta e Melilha, outro enclave espanhol no norte de África, por outras regiões.

O decreto, apresentado pelo governo socialista e seus aliados no Parlamento espanhol, foi criticado pelo Partido Popular (PP), conservador, como “arbitrário e injusto”.

O partido de extrema-direita Vox também votou contra, dizendo que abria “as portas para homens em idade militar que não estão a fugir de nenhuma guerra e que vêm de culturas opostas”.

Em julho, as regiões lideradas pelo PP boicotaram uma reunião sobre a redistribuição das crianças.De acordo com a Organização Internacional para as Migrações da ONU, 572
pessoas morreram ou desapareceram no ano passado ao tentar chegar a
Espanha a partir do norte de África, enquanto 155 pessoas perderam a
vida até agora este ano, sete delas crianças.

Um egípcio de 23 anos foi resgatado do Mediterrâneo há algumas semanas, depois de tentar chegar a Espanha a partir de Marrocos usando um colete insuflável e barbatanas. Em 2021, um menino foi visto a flutuar em garrafas de plástico vazias na sua tentativa de chegar a Ceuta.