“Estou a enviar a Guarda Nacional para ajudar a restabelecer a lei, a ordem e a segurança pública em Washington D.C.”, anunciou Trump numa conferência de imprensa na Casa Branca, acompanhado por responsáveis governamentais, incluindo o secretário da Defesa, Pete Hegseth, e a procuradora-geral, Pam Bondi.
Para além disso, o presidente norte-americano anunciou ainda que iria colocar o departamento de polícia de Washington sob controlo federal para combater o que chamou de uma “onda de ilegalidade”.
“A nossa capital foi tomada por gangues violentos e criminosos bárbaros”, declarou. “Isto tornou-se uma situação de completa e total ilegalidade, e vamos livrar-nos das bairros de lata”, acrescentou. As descrições de Trump sobre o que se passa em Washington contrastam com os números oficiais, que mostram que os crimes violentos na capital norte-americana atingiriam o nível mais baixo em 30 anos em 2024.
Trump prometeu ainda tomar medidas para combater os sem-abrigo e a degradação na capital. “Tornou-se uma situação de anarquia completa e total”, disse.
No domingo, Trump já tinha prometido que ia apresentar um plano para combater o crime em Washington e disse que as pessoas em situação de sem-abrigo têm de “se mudar imediatamente” da capital.
O presidente republicano também prometeu que a sua iniciativa não se limitaria a Washington, onde decretou o estado de emergência. “Isto vai mais longe. Estamos a começar de forma muito forte [em Washington] e vamos limpar isto rapidamente”, afiançou.
Trump ameaçou ainda enviar as Forças Armadas dos EUA “se necessário” e Hegseth disse estar preparado para convocar tropas adicionais da Guarda Nacional de fora de Washington.
Ataque a cidades democratas
Há várias semanas que Trump tem vindo a ameaçar reforçar o combate ao crime em Washington e na última semana intensificou a sua retórica, sugerindo que poderia tentar retirar a autonomia local à cidade e implementar uma tomada federal completa.
Ao contrário dos 50 Estados norte-americanos, o Distrito de Columbia (Washington D.C.) rege-se por um regime especial com o governo federal que limita a sua autonomia. A capital opera ao abrigo da Lei de Autonomia, que concede ao Congresso a autoridade máxima, mas permite aos residentes eleger um presidente da Câmara e um conselho municipal.
A Lei de Autonomia de 1973 permite ao presidente assumir o controlo da polícia da cidade durante 48 horas se “determinar a existência de condições especiais de natureza de emergência”, o que exige a utilização do departamento para fins federais.
Esta segunda-feira, Trump disse estar a declarar uma “emergência de segurança pública” em Washington.
O anúncio de Trump é o seu mais recente esforço para atingir cidades sob bandeira democrata, exercendo o poder executivo em questões tradicionalmente locais.
Recentemente, em junho, o presidente norte-americano já tinha mobilizado a Guarda Nacional na Califórnia contra a opinião do governador democrata Gavin Newsom, alegando que queria repor a ordem em Los Angeles após protestos contra as detenções de imigrantes por parte da Agência Federal de Imigração e Alfândega (ICE).
No caso de Washington, Trump usou o argumento de estar a combater o que chama de “onda de ilegalidade” na cidade. A presidente da Câmara democrata de Washington, Muriel Bowser, refutou as afirmações de Trump, afirmando que a cidade “não está a passar por um pico de criminalidade”, citando as conclusões de relatórios oficiais que mostram que a criminalidade violenta atingiu o seu nível mais baixo em mais de três décadas. Nos primeiros sete meses de 2025, os crimes violentos caíram 26%, após uma queda de 35% em 2024, e a criminalidade geral caiu 7%, de acordo com o departamento de polícia da cidade.
Desde a década de 1980 que Trump utiliza o crime como ferramenta política. Um dos casos mais controversos foi o seu apelo, em 1989, à pena de morte no caso que ficou conhecido como “Os cinco do Central Park”, que envolveu cinco adolescentes negros e latinos posteriormente exonerados da acusação de violar e espancar uma mulher no famoso parque em Nova Iorque.
c/agências