A ministra da Saúde, Ana Paula Martins, solicitou à Inspecção-Geral das Actividades em Saúde (IGAS) a abertura de um processo de inquérito ao caso de uma jovem grávida que teve o parto numa rua do Carregado, no concelho de Alenquer, na segunda-feira de manhã. A Ordem dos Médicos diz que “esta situação é inadmissível e é fundamental perceber exactamente em que circunstâncias ocorreu”.
“O procedimento foi já determinado pelo inspector-geral das Actividades em Saúde para investigar os factos relativos à assistência prestada pela Linha SNS 24 e pelo Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU), no momento da ocorrência, bem como à assistência prestada pela Unidade Local de Saúde do Estuário do Tejo à grávida”, refere o Ministério da Saúde em comunicado. A mulher de 28 anos estava grávida de 40 semanas e cinco dias. Segundo a imprensa local, a jovem era seguida no Centro de Saúde de Alenquer e no Hospital de Vila Franca de Xira e teria pedido para ser encaminhada para a Maternidade Alfredo da Costa. Um pedido que não terá sido aceite, por esta unidade ter muitas grávidas em fim de tempo.
Contactado pela agência Lusa, o Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) afirmou que a Central 112 encaminhou a chamada de socorro, tendo a mesma sido atendida pelo CODU às 10h29.
“Durante a triagem da situação, foi possível perceber que o parto já teria ocorrido”, adianta o INEM numa resposta escrita.
O CODU activou para o local uma ambulância dos Bombeiros Voluntários de Alenquer, às 10h33, e a Viatura Médica de Emergência e Reanimação (VMER) de Torres Vedras, às 10h37, dado que a VMER de Vila Franca de Xira estava empenhada noutra ocorrência.
Segundo o INEM, a mãe e a bebé foram transportadas para o Hospital de Santarém, com acompanhamento do médico da VMER.
O caso foi noticiado pelo Correio da Manhã, que relatou que a mulher de 28 anos e grávida de 40 semanas e cinco dias teve o bebé numa rua do Carregado, com a ajuda dos pais. Seria uma grávida de risco por não ter um rim.
A mãe da jovem ligou para a Linha SNS 24 a pedir uma ambulância, mas a indicação terá sido para ir de carro para o hospital. Ligou depois para o 112, mas terão demorado a atender a chamada. O parto acabou por acontecer na rua da pastelaria aonde tinha ido.
“Quando chegámos ao local, o bebé já tinha nascido”
O comandante dos bombeiros de Alenquer, Daniel Ribeiro, disse à Lusa que a corporação recebeu uma chamada do CODU, tendo saído uma ambulância para a ocorrência pelas 10h30 e chegado ao local pelas 10h38.
“Quando chegámos ao local, o bebé já tinha nascido. Nunca esteve em causa a assistência”, assegurou, sublinhando que a mãe e o recém-nascido foram avaliados e “estavam bem”.
Ao se aperceberem de um furo no pneu, os bombeiros pediram uma segunda ambulância, que chegou ao local pelas 10h44. “Ficámos à espera da VMER de Torres Vedras, que chegou pelas 11h15”, adiantou, tendo mãe e filho sido transportados para o Hospital de Santarém pelas 11h20.
Tudo isto se passou perto da Junta de Freguesia do Carregado, numa zona residencial e de comércio. Aparentemente, a grávida estaria a tomar o pequeno-almoço numa pastelaria com os pais quando começou com dores e lhe rebentaram as águas, contou à Lusa uma moradora.
Ana, moradora na rua onde ocorreu o parto, contou que passava pouco depois das 10h00, quando começou a ouvir gritos de uma mulher a dizer “Não quero, não quero”.
Disse que foi à janela ver o que se passava e viu uma mulher de costas, com o que lhe pareceu ser sangue no vestido, junto de um casal, que eram os pais e que acabaram por fazer o parto. O pai da mulher estava a ampará-la, enquanto a mãe estava ao telefone. A mulher, em trabalho de parto, deitou-se junto a um pequeno muro e, cerca das 10h30, nascia uma menina.
No local, acumularam-se muitos populares, e um cabeleireiro local deu toalhas para ajudar no parto. Ana estava à janela quando uma enfermeira, que entretanto chegou ao local, lhe perguntou se tinha molas da roupa para fazerem o corte do cordão umbilical, tendo-lhas dado de imediato.
Ordem dos Médicos pede esclarecimentos
Em comunicado, a Ordem dos Médicos anunciou que pediu esclarecimentos ao Ministério da Saúde, à Direcção Executiva do SNS e ao INEM, com “o objectivo de apurar em detalhe as circunstâncias que conduziram a este desfecho e de avaliar eventuais falhas ou necessidades de melhoria no acesso e na capacidade de resposta da Linha SNS 24 e dos serviços de saúde”.
“Esta situação é inadmissível e é fundamental perceber exactamente em que circunstâncias ocorreu. O propósito da Ordem dos Médicos é garantir que, no futuro, situações semelhantes possam ser prevenidas”, afirmou o bastonário da Ordem dos Médicos, citado no comunicado.
Carlos Cortes reforçou que “a segurança e a dignidade das pessoas, das grávidas e seus filhos têm de estar sempre em primeiro lugar”.
A Ordem reafirma o seu empenho em “assegurar a qualidade dos cuidados”, comprometendo-se a “promover soluções que garantam cuidados seguros, atempados e humanizados para todos, prevenindo que ocorrências desta natureza se repitam, independentemente das causas”.
Texto actualizado com informação da Ordem dos Médicos