Entre seu trabalho com o Pink Floyd e em carreira solo, Roger Waters produziu uma discografia variada e com peças de grande importância. No meio de tudo isso, a revista Classic Rock resolveu escolher um trabalho do músico que deve ser evitado — e, de fato, é algo bem diferente do que estamos acostumados a ouvir dele.

Na verdade, nenhum dos álbuns solo de Waters e nem mesmo os 12 que ele gravou com o Pink Floyd foram escolhidos. A citação da revista vai para uma ópera lançada pelo artista em 2005: “Ça Ira”.

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A peça teve seu libreto escrito por Étienne e Nadine Roda-Gil, que sugeriram a Roger que compusesse a parte musical em 1987. A versão em inglês foi feita em 1989.

A ópera dividiu opiniões e foi considerada simplista demais pela crítica, além de ter a parte lírica muito descritiva, o que dificultaria sua execução em um teatro. Já a Classic Rock, em texto assinado por Hugh Fielder e David Quantick, disse o seguinte:

“Compor uma ópera clássica foi uma ação corajosa de Waters. Ele tinha suas razões para fazer isso: a dinâmica da ópera não está a milhões de quilômetros dos instintos progressivos do próprio Waters, e o tema da peça – a Revolução Francesa – tem diversos paralelos com suas próprias obsessões contemporâneas.

Mas o fato é que ópera, como rock progressivo, é tanto uma moda quanto um estilo musical, e é melhor definida por aqueles que foram seus pioneiros. Waters fez o reconhecível trabalho de recriar uma ópera clássica que é mais forte em atmosfera do que em árias que você pode cantar no chuveiro. Mas realmente, se você quer ouvir uma ópera, é melhor ouvir algo de (Giacomo) Puccini.”

A ópera de Roger Waters

A versão inicial de “Ça Ira” agradou ao presidente francês da época, François Mitterand, que pediu para a Ópera de Paris fazer a montagem do espetáculo em comemoração ao bicentenário da Revolução Francesa. Não deu certo. Em 2005, o normalmente verborrágico Waters declarou à Mojo:

“Ela (a ópera) afundou em chauvinismo francês. A ideia de um baixista inglês de um grupo pop criar algo que eles poderiam usar em sua celebração incomodou os gauleses.”

Esquecida por anos, a ópera fez sua estreia apenas em 2005, quando também foi lançada como álbum. “Ça Ira” teve montagens na Itália, Polônia, Ucrânia, Países Baixos, Suécia, Estados Unidos e duas vezes no Brasil. A saber:

  • A primeira em 2008, com três execuções no Teatro Amazonas, em Manaus, como parte do Festival Amazonas de Ópera;
  • A segunda em 2013, com quatro performances no Theatro Municipal de São Paulo.

Roger Waters sabia que ter composto uma ópera dividiria opiniões. Em 2005, afirmou, também à Mojo:

“Eu não tenho ideia de quantas pessoas (a ópera) vai atrair. De jeito nenhum vai atrair as pessoas da mesma forma de ‘The Dark Side of the Moon’ (álbum clássico do Pink Floyd de 1973). É algo diferente. Eu gostaria de dizer que não me importo, mas obviamente me importo.”

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