Wim Wenders nasceu em Düsseldorf, a 14 de agosto de 1945 — o que quer dizer que amanhã celebra o seu 80º aniversário. A sua filmografia envolve um curioso paradoxo. Por um lado, identificamo-lo como uma figura indissociável de uma certa “nova vaga” germânica dos anos 60/70, ele que em 1972 assinou A Angústia do Guarda-Redes no Momento do Penalty, um dos títulos resultante da sua colaboração com Peter Handke; ao mesmo tempo, por outro lado, há no seu trabalho um incansável desejo de viagem, para sempre cristalizado em Paris, Texas (1984), filme que, junto de muitos cinéfilos, lhe deu o estatuto de “autor de culto”.
A partir de amanhã, precisamente, no cinema Nimas, a Medeia Filmes propõe uma revisitação de seis filmes de Wenders que poderão definir uma espécie de “núcleo duro” da sua trajetória. Não são exatamente revelações, já que, felizmente, o mercado português sempre acolheu as suas produções: lembremos os exemplos recentes de Dias Perfeitos e Anselm – O Som do Tempo, uma ficção e um documentário, ambos revelados no Festival de Cannes de 2023. Estamos perante momentos emblemáticos de uma visão em que a pluralidade geográfica decorre de um novo mapa cultural em que as fronteiras se diluem nas emoções vividas e, por assim dizer, transportadas pelas personagens.
Destaquemos, por isso, neste ciclo que se prolonga até 1 de setembro, a presença de um dos objetos mais radicais de Wenders, dos mais incompreendidos ou, pelo menos, dos menos vistos. Chama-se Até ao Fim do Mundo (1991) e funciona como uma verdadeira fábula moderna centrada num conjunto de personagens a viver um nomadismo reforçado pela descoberta das novas tecnologias, em particular dos poderes sedutores e perturbantes da Realidade Virtual. Escusado será sublinhar que o seu simbolismo não se perdeu, antes se reforçou. Ponto importante: difundido em várias montagens “abreviadas”, o filme será mostrado na versão do autor (com a duração de 287 minutos).
Resultante de uma coprodução Alemanha/França/Austrália/EUA, Até ao Fim do Mundo é, literalmente, um dos títulos mais internacionais de Wenders, desde logo graças a um elenco que inclui Solveig Dommartin, William Hurt, Sam Neill, Rudiger Vögler, Jeanne Moreau e Max von Sydow. O seu espírito cumpre-se também através de uma fascinante panóplia de lugares, de Veneza a Sydney, passando por Berlim, Paris e Portugal (com uma cena no interior do Eden, na Praça dos Restauradores, em Lisboa, para lembrar aos mais distraídos que já houve ali um cinema…).