Uma vaga de descontentamento percorre a comunidade de utilizadores do YouTube em reacção a um novo sistema de verificação de idade baseado em inteligência artificial (IA). A controvérsia tem sido evidente nas redes sociais e já se materializou numa petição na plataforma Change.org que, no momento em que este artigo foi publicado, já se aproximava 70 mil assinaturas, unindo vozes que temem uma intrusão sem precedentes na privacidade.

O mecanismo da discórdia visa estimar a idade dos utilizadores através da análise de dados como o histórico de vídeos reproduzidos. Caso o algoritmo determine que um utilizador tem menos de 18 anos, impõe restrições como a desactivação de anúncios personalizados. Para reverter a decisão, é exigida a submissão de um documento de identificação, um cartão de crédito ou uma fotografia do rosto, um passo que muitos consideram excessivo. Recorde-se que este sistema do YouTube para verificação da idade está directamente relacionado com limitações de acesso para a crianças, que estão a ser impostas em alguns países, como aconteceu recentemente na Austrália.

As principais críticas, partilhadas por utilizadores e peritos em privacidade consultados pelo Ars Technica, centram-se na falta de transparência sobre o uso e armazenamento destes dados sensíveis. Gerfdas, o youtuber que deu início à petição, resumiu a principal preocupação: “Se o YouTube sofrer uma violação de segurança, os nomes, as identificações e os rostos das pessoas podem acabar nas mãos erradas”. A questão fundamental, para muitos, é por que motivo uma IA deve vigiar os hábitos de todos os utilizadores para policiar o acesso de menores, uma responsabilidade que consideram ser parental.

Sistema pode confundir adultos por crianças

Acrescem ainda as dúvidas sobre a fiabilidade da tecnologia. Peritos apontam para margens de erro significativas que podem afectar directamente utilizadores adultos cujos interesses — seja, por exemplo, por razões de nostalgia, conforto ou condições como o autismo — possam ser interpretados pela IA como “infantis”. Este facto levanta problemas de acesso e de estigma. Para outros grupos, o anonimato é uma ferramenta de segurança, e a exigência de identificação para reverter uma decisão errada do sistema pode até representar um perigo real.

Até ao momento, o YouTube não emitiu uma reacção oficial à polémica. No entanto, os signatários da petição mostram-se determinados, enquadrando a questão como uma batalha mais vasta. “Isto é sobre liberdade digital”, afirma o texto da petição, alertando que a normalização de tais sistemas de vigilância representa um risco para uma internet livre e aberta.