No momento em que os Estados Unidos e Israel retiraram as equipas de negociação do Catar, após o fracasso no entendimento para um novo cessar-fogo, Donald Trump declarou que o Hamas não quer qualquer acordo.


“O Hamas basicamente não quer chegar a um acordo. Penso que quer morrer. E isto é muito, muito grave”, realçou Trump, em declarações aos jornalistas, pouco antes de partir numa viagem à Escócia.

“Retiraram-se de Gaza, retiraram-se das negociações, e é uma pena”, lamentou o presidente dos Estados Unidos.


“Quando restavam entre 10 a 20 reféns, eu disse: não creio que o Hamas queira fazer um acordo agora, porque aí ficará sem proteção. O que vai acontecer, penso eu, é que Israel vai apanhá-los a todos”, acrescentou.

Em causa está uma proposta dos EUA para um cessar-fogo de 60 dias. Durante essa trégua, decorreria a libertação pelo Hamas de dez reféns israelitas vivos e a entrega de corpos de outros 18 em troca de prisioneiros palestinianos mantidos em prisões israelitas.

Cinquenta reféns ainda estão detidos em Gaza, dos quais pelo menos 20 acredita-se que estarão vivos.

“Dizem não se sentirem nem mortos nem vivos”
Enquanto os ataques israelitas não dão tréguas à população palestiniana de Gaza, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, criticou a falta de “humanidade” e de “compaixão” demonstrada perante o sofrimento dos palestinianos na Faixa de Gaza.

Nesta sexta-feira, numa intervenção por videoconferência durante a Assembleia Geral da Amnistia Internacional, organização de defesa e promoção dos Direitos Humanos com sede em Londres, Guterres alertou para o facto de a região atravessar não só uma crise humanitária, mas também “uma crise moral que desafia a consciência mundial”.

“Desde o início, condenei repetidamente os horríveis ataques do Hamas de 07 de outubro [de 2023]. Mas nada pode justificar a explosão de mortes e destruição que temos testemunhado desde então. A dimensão e o alcance ultrapassam tudo o que vimos na história recente“, afirmou o secretário-geral da ONU.



“Não consigo explicar o nível de indiferença e inação que vemos por parte de demasiadas pessoas na comunidade internacional. A falta de compaixão. A falta de verdade. A falta de humanidade”
, sublinhou.

Na mesma intervenção, Guterres recorreu à ironia para lembrar que as crianças dizem em Gaza que “querem ir para o paraíso”, porque lá, “pelo menos, dizem elas, há comida”.

“Não se trata apenas de uma crise humanitária. É uma crise moral que desafia a consciência mundial. Continuaremos a falar sempre que for possível. Mas as palavras não alimentam crianças famintas”, frisou.

O secretário-geral descreveu ainda as condições em que operam os “heroicos” trabalhadores humanitários da ONU, que continuam a fazer o seu trabalho “em circunstâncias inimagináveis”.





“Muitos estão tão anestesiados e exaustos que dizem não se sentirem nem mortos nem vivos”,
relata.


“Participamos em videochamadas com os nossos próprios humanitários que estão a morrer à fome diante dos nossos olhos”, acrescentou.


Guterres denunciou também a morte de “mais de mil palestinianos, abatidos quando tentavam procurar comida” desde 27 de maio, data em que começou a operar a Fundação Humanitária de Gaza (GHF), uma entidade apoiada por Israel e pelos Estados Unidos com a qual a ONU se recusa a colaborar.


“Precisamos de ação, de um cessar-fogo imediato e permanente, da libertação imediata e incondicional de todos os reféns, de acesso humanitário imediato e sem entraves”, apelou o representante, assegurando que, em caso de cessar-fogo, a ONU está preparada para aumentar “substancialmente” as operações humanitárias. 


Num novo balanço do conflito, divulgado na quinta-feira, o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, informou que registou 59.587 mortos e 143.498 feridos.



Na contagem incluem-se pelo menos 115 mortos por fome ou subnutrição desde o início da ofensiva israelita, em outubro de 2023.
A guerra em curso em Gaza foi desencadeada pelos ataques liderados pelo grupo extremista palestiniano Hamas em 7 de outubro de 2023 no sul de Israel, que causaram cerca de 1.200 mortos e mais de duas centenas de reféns.

A retaliação de Israel, que também impôs um bloqueio à entrega de ajuda humanitária, provocou igualmente a destruição de quase todas as infraestruturas de Gaza e a deslocação forçada de centenas de milhares de pessoas.

Decisão francesa sobre reconhecimento do Estado palestiniano: “O que ele diz não interessa”


Entretanto, França anunciou que irá reconhecer o Estado da Palestina em setembro. Questionado sobre o assunto, Trump desvalorizou as declarações do homólogo francês, Emmanuel Macron.

Essa posição da França “não tem muito peso. O que ele [Macron] diz não interessa. É uma pessoa muito boa, gosto dele, mas a declaração não tem muito peso“, comentou o presidente norte-americano.

Logo na quinta-feira, o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, já se tinha demarcado do plano da França argumentando que esse gesto “serve apenas à propaganda do Hamas”.


“Os Estados Unidos rejeitam veementemente o plano de Emmanuel Macron de reconhecer um Estado palestiniano na Assembleia-geral da ONU”, deixou claro Rubio, em comunicado.



c/Lusa