A reunião tinha sido marcada pelas Finanças na segunda-feira ao final da tarde, sendo que o timing não foi por acaso. Mário Centeno tinha uma viagem marcada para o dia seguinte para Frankfurt, de forma a participar em mais uma reunião do Conselho de Governadores do Banco Central Europeu — onde seria tomada uma importante decisão de política monetária relacionada com uma pausa na descida dos juros da taxa diretora (conhecida esta quinta-feira).
Joaquim Miranda Sarmento queria que Mário Centeno fosse para a reunião já com a ideia clara de que o seu mandato tinha chegado ao final. E foi isso que aconteceu.
À despedida da conversa com o ministro das Finanças, o ainda governador foi enigmático e terá dito que tinha acabado de ficar “livre” — algo que repetiu esta sexta-feira na entrevista à RTP e que remete para o seu futuro eventualmente político.
Chegado a Frankfurt para o governing council, Centeno terá pedido a Christine Lagarde um encontro após a reunião do principal órgão de decisão do BCE para comunicar-lhe a sua saída do Banco de Portugal. A presidente do BCE terá contactado Montenegro posteriormente para se inteirar do processo, antes de a decisão ser oficializada.
O Observador confirmou junto de fontes conhecedoras do processo que Lagarde contactou, efetivamente, Montenegro esta semana, mas fontes do Governo português recusam confirmar ou revelar o conteúdo da conversa.
O Governo de Luís Montenegro terá igualmente informado o órgão liderado por Lagarde e responsável pela política monetária da zona euro de toda a investigação que tinha sido publicada pelo Observador sobre a nova sede do Banco de Portugal, tendo enviado a respetiva informação para o BCE. O Executivo terá igualmente informado o BCE de que tinha dúvidas sobre o processo e que iria determinar uma auditoria a cargo da Inspeção-Geral de Finanças.
Quando estes contactos entre Frankfurt e Lisboa se verificaram já o Governo tinha o nome do sucessor fechado: seria Álvaro Santos Pereira, o atual economista-chefe da OCDE.
O ex-ministro da Economia do Governo de Passos Coelho não foi a primeira escolha do Governo. Tal como o jornal Eco noticiou, e o Observador confirmou, Joaquim Miranda Sarmento, devidamente concertado com o primeiro-ministro Luís Montenegro, tinha uma ‘short list’ de vários nomes que tinham, entre si, um ponto comum — serem quase todos ‘estrangeirados’ ou estarem fora do país há vários anos.
O primeiro da lista era Ricardo Reis, professor da London School of Economics que terá sido efetivamente convidado, tal como Vítor Gaspar, Sérgio Rebelo e Luís Cabral. Todos recusaram o convite, por diferentes razões.
Vítor Gaspar, por exemplo, pretende reformar-se e não estava disponível. Mesmo depois de várias démarches de várias figuras políticas e não políticas, o ex-ministro das Finanças recusou. Mas recusou à Vítor Gaspar. Fontes próximas do processo garantem que Gaspar pediu quatro horas para pensar e no minuto exato em que as quatro horas se completavam, recusou gentilmente o convite.