Descobertas de fósseis na Etiópia confirmam que as primeiras espécies do gênero Homo coexistiram com outras de hominídeos, como o Australopithecus, há cerca de 2,6 milhões de anos. Essas novas evidências preenchem uma lacuna no registro fóssil da evolução humana, mostrando que a evolução não foi linear, mas, sim, um processo mais complexo com várias espécies vivendo lado a lado e competindo por recursos, o que pode ter impulsionado o desenvolvimento de características do ser humano.
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Pesquisadores do Projeto de Pesquisa Ledi-Geraru (LGRP) encontraram na região de Ledi-Geraru, na Etiópia, fósseis raríssimos dos gêneros Homo e Australopithecus datados entre 2,78 e 2,59 milhões de anos atrás — um período crítico, mas pouco representado no registro fóssil africano. O estudo foi publicado na prestigiosa revista Nature nesta quarta-feira (13/8).
A área do Projeto de Pesquisa Ledi-Geraru (estrela amarela) está localizada na extensão norte dos sítios paleontológicos (círculos vermelhos) na depressão de Afar, região de Afar, Etiópia. Dentro da área do projeto Ledi-Geraru, os sítios fósseis de Lee Adoyta e Asboli estão localizados a aproximadamente 12,5 km de distância um do outro
(foto: Reprodução)
O achado é especialmente importante porque esse intervalo de tempo coincide com eventos decisivos: o surgimento dos primeiros humanos (Homo), o aparecimento de Paranthropus e o desaparecimento do famoso Australopithecus afarensis, espécie à qual pertence a célebre fóssil “Lucy”.
Os novos fósseis incluem dentes e fragmentos dentários bem preservados. Entre eles está o pré-molar LD 302-23, datado de 2,78 milhões de anos, atribuído ao gênero Homo, e molares de cerca de 2,59 milhões de anos que também pertencem a indivíduos humanos primitivos. Ao mesmo tempo, foram identificados fósseis de Australopithecus de 2,63 milhões de anos, indicando que as duas linhagens não apenas coexistiram, mas compartilharam o mesmo território por milhares de anos.
Dentição de hominídeos encontrada na Etiópia
(foto: Reprodução)
Essa convivência ocorreu em um ambiente mais seco e aberto, desafiando a ideia tradicional de que tais habitats estariam exclusivamente ligados ao surgimento do gênero Homo. “Essas descobertas nos mostram que o cenário evolutivo era muito mais complexo do que pensávamos. Não havia apenas uma linhagem avançando; várias espécies dividiam o mesmo espaço e provavelmente recursos semelhantes”, explicam os pesquisadores.
A análise geológica e a datação por métodos precisos confirmam que os sedimentos da região de Afar preservam registros desse período-chave. Isso coloca Ledi-Geraru como uma peça fundamental para reconstruir a linha do tempo da evolução humana.
O estudo também levanta a possibilidade de que alguns fósseis representem uma espécie de Australopithecus até então desconhecida pela ciência. Se confirmada, essa hipótese ampliará ainda mais a diversidade de hominíneos já existente antes de 2,5 milhões de anos atrás — um momento em que a África Oriental era um verdadeiro mosaico de espécies ancestrais humanas.
Formado em jornalismo no UniCeub, cursou ciência política na UnB com pós-graduação em Comunicação Política no Legislativo. É apresentador do programa CB.Poder, da TV Brasília