Empresas que permitem a pessoas desempregadas fingir que trabalham estão a tornar-se cada vez mais comuns na China. Estes serviços são procurados, sobretudo, por jovens que sentem vergonha de admitir às famílias que não têm emprego, numa altura em que a taxa de desemprego jovem no país estava nos 14,5% em Junho, segundo a Trading Economics, uma plataforma online que fornece informações económicas e financeiras.

Os pacotes variam de acordo com a empresa e com o valor pago. Incluem, geralmente, escritórios totalmente equipados, com computadores, internet, salas de reuniões, áreas de convívio e, em alguns casos, almoço e snacks. Os preços rondam os quatro e os sete euros por dia, podendo aumentar se forem incluídos serviços adicionais, como sessões fotográficas em cadeiras de pele para simular cargos de chefia.

O fenómeno já chegou a várias cidades, como Shenzhen, Xangai, Nanjing, Wuhan, Chengdu e Kunming, num país onde os jovens se têm deparado com elevados índices de desemprego nos últimos anos. Muitos dos clientes aproveitam os espaços para procurar emprego ou lançar os seus próprios negócios, encarando-os como uma transição para o mercado de trabalho, enquanto outros recorrem ao serviço para manter uma rotina semelhante à de um trabalhador.

Entre os utilizadores está Shui Zhou, de 30 anos, desempregado desde 2024, quando o seu negócio no sector da alimentação faliu. “Estou muito feliz. É como se estivéssemos a trabalhar juntos”, afirma Zhou à BBC. Chega entre as 8h e as 9h e, por vezes, só sai às 23h, simulando horas extras. Envia fotografias do escritório à família e diz sentir-se mais tranquilo apesar de continuar desempregado.


Em Dongguan, o proprietário da Pretend To Work Company, de 30 anos, contou à emissora britânica que se viu desempregado durante a pandemia de covid-19. “Eu estava muito deprimido e um pouco autodestrutivo”, disse Feiyu, pseudónimo usado pelo empresário. Em Abril deste ano, começou a promover o serviço e, em apenas um mês, o espaço já estava cheio. “Não estou a vender um posto de trabalho, mas sim a dignidade de não ser uma pessoa inútil”, diz.

Segundo Feiyu, 40% dos clientes são recém-formados que pretendem, assim, conseguir ter provas de uma experiência de estágio. Os restantes são, em grande parte, freelancers e nómadas digitais com cerca de 30 anos.

Texto editado por Amanda Ribeiro