O Governo está preocupado com o agravamento das condições meteorológicas previstas para sexta-feira, 15 de Agosto — fala mesmo num “quadro raro” propício a incêndios — e, por isso, a ministra da Administração Interna, Maria Lúcia Amaral, vai fazer uma comunicação ao país às 18h45 desta quinta-feira, a partir da sede da Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil (ANEPC). Mas às críticas de quem questiona onde tem andado o Governo, numa altura em que o país atravessa há mais de 15 dias uma onda de incêndios florestais, Maria Lúcia Amaral responde que quem decide precisa de “tranquilidade e sossego”.
“Há horas de tanta gravidade, mas de tanta gravidade, em que o que está em causa é tão grave e tão profundo e é tão complexo que todo o país tem de compreender que quem tem a responsabilidade da decisão precisa de tranquilidade e de sossego para poder, em nome de todos, fazer o melhor”, disse a ministra, em entrevista à Rádio Renascença, respondendo às críticas de silêncio do Governo e garantindo que tem estado a trabalhar para “fazer o melhor”.
Sobre o dia de amanhã — e como já tinham alertado na semana passada os especialistas na área e na quarta-feira voltou a dizer o presidente da República —, Maria Lúcia Amaral diz que “há condições particularmente severas no dia 15 e a severidade é, para estes efeitos, máxima, porque implica o risco de tempestades secas e o risco dos chamados ventos convexos”. E é clara nos riscos: “foram os dois factores que em 2017 foram mais decisivos e mais determinantes para o fogo incontrolável que se gerou” em Pedrógão Grande. Na altura, morreram 66 pessoas nesses incêndios.
Recorde-se que o Governo decidiu na passada terça-feira prolongar situação de alerta em Portugal até sexta-feira, dia 15 de Agosto, devido ao elevado risco de incêndio.
A ministra explica que “a situação de alerta, por si só, aumenta o nível de patrulhamento durante a noite e, portanto, impede que haja mais inícios de fogo”, como aliás tem estado a suceder, realçando que “há, de facto, uma coincidência que pode ser medida como uma relação de causa-efeito entre os períodos de vigência da situação da alerta e a redução do número de ignições” durante a noite.
“Temos um quadro, que é um quadro raro, que eu me lembro foi repetido há 20 e tal anos, 2003 e depois 2005, nós vamos com 22 dias de onda de calor absolutamente anormal que não dá tréguas e 22 dias de grandes incêndios que não deram tréguas”, descreveu a governante na entrevista, garantindo que a disponibilidade dos bombeiros portugueses “continua a ser total”, apesar do “cansaço”.
Sobre ainda não ter sido pedida ajuda ao Mecanismo Europeu de Protecção Civil, facto que tem sido criticado pelo PS, a ministra da Administração Interna revela que Portugal pediu ajuda a Espanha “há muito pouco tempo”, mas que os países vizinhos também enfrentam condições severas (em Espanha já morreram três pessoas nos fogos) e não têm disponibilidade para enviar ajuda.
“A Espanha nunca nos faltou e neste momento a Espanha disse, não contem connosco porque nós não conseguimos. E a França, que normalmente tem toda a disponibilidade, eles próprios estão a braços, sabemos nós, com situações domésticas terríveis”, sublinhou Maria Lúcia Amaral, afirmando que “as decisões políticas têm de ser especialmente ponderadas”.
Já em relação às críticas que se têm ouvido no terreno por parte dos autarcas que estão a enfrentar os fogos, Maria Lúcia Amaral diz compreender “perfeitamente essa necessidade e essa indignação” e garantiu que o Governo está a fazer “tudo, mas tudo, não tendo meios ilimitados” para “não trair as responsabilidades dos autarcas”.