Um remédio oral de uso diário utilizado no tratamento de câncer no cérebro foi aprovado na segunda-feira (11) pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). O vorasidenibe, comercializado como Voranigo, bloqueia o crescimento de células tumorais. Até então, as opções de tratamento eram limitadas à cirurgia, radioterapia e quimioterapia.
O acesso dos pacientes ao medicamento, entretanto, pode demorar, especialmente no SUS (Sistema Único de Saúde), segundo especialistas ouvidos pela Folha.
Isso porque, após a aprovação pela Anvisa, é preciso que a ANS (Agência Nacional de Saúde) incorpore o medicamento ao seu rol, o que exige aprovação do sistema. Já para o SUS, o remédio precisa passar por uma comissão que avalia eficácia, segurança, indicação e preço, além de realizar consultas públicas.
Disponibilizado pela farmacêutica francesa Servier, que atua no Brasil e em cerca de 140 países, o vorasidenibe é indicado para pacientes a partir dos 12 anos com tipos específicos de glioma —tumor que se desenvolve no cérebro ou na medula espinhal e pode surgir de diferentes tipos de células gliais, que dão suporte ao sistema nervoso central.
A indicação é para pacientes acometidos com gliomas chamados astrocitomas ou oligodendrogliomas, de baixo grau (grau 2), com mutações na enzima IDH 1 ou 2, e que já foram submetidos a procedimento cirúrgico e não tiveram indicação de radioterapia ou quimioterapia imediata.
Nesses casos, o Voranigo bloqueia as enzimas IDH 1 e IDH 2 mutadas, responsáveis pela produção de substâncias que estimulam o crescimento de células tumorais.
A aprovação pela Anvisa se deu em razão de resultados positivos do ensaio clínico, que indicou uma redução de 61% no risco de progressão da doença, associada a atraso no crescimento tumoral e redução do volume do tumor.
“Esses resultados demonstram a contribuição para aumentar o tempo até a necessidade de futuras intervenções terapêuticas, preservando a qualidade de vida dos pacientes”, disse a farmacêutica em nota.
Segundo Gustavo Matos, oncologista clinico do Hospital Sírio-Libanês em Brasília e especialista em tumores no cérebro, as opções de tratamento antes da aprovação do novo remédio consistiam em radioterapia e quimioterapia, após a tentativa de remoção máxima do glioma por meio de cirurgia.
Cuide-se
“São tratamentos já bem estabelecidos há aproximadamente 20 anos, e ainda usados, mas os gliomas vinham sem grandes evoluções positivas no seu tratamento desde então”, disse.
Matos afirma que o remédio apresenta efeitos colaterais muito leves em comparação aos tratamentos convencionais, mas ressalta que ainda é difícil dizer se a radioterapia e quimioterapia serão substituídas.
“O que sabemos é que o vorasidenibe diminui a taxa de crescimento do tumor a ponto de adiar a necessidade de outros tratamentos, como cirurgias, radioterapia e a quimioterapia. A pessoa que o usa terá menos comprometimento de qualidade de vida pelos tratamentos que até então eram um padrão”, disse.
Apesar da aprovação pela Anvisa, o remédio não será imediatamente disponibilizado para a população.
“Agora ele vai passar pela fase de precificação. E por ser via oral, a cobertura vai depender muito de cada plano de saúde, diferente de medicamentos endovenosos, que têm cobertura obrigatória pelas operadoras”, explica Gustavo Schvartsman, oncologista do Einstein Hospital Israelita.
Além disso, a incorporação do medicamento ao rol de procedimentos obrigatórios dos planos de saúde precisa ser avaliada pela ANS para que seu uso seja sistematicamente autorizado. Caso contrário, muitos pacientes vão ter que judicializar para conseguir obter o remédio.
Se o medicamento for para o SUS, ele precisa passar pela Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS), o que pode tornar o acesso ainda mais distante, segundo Schvartsman.
“Sendo um medicamento novo e de alto custo, a recomendação pela Conitec para incorporação pode levar bastante tempo.”