Mesmo sem se conhecer ainda a decisão do Major-general Isidro de Morais Pereira, Henrique Gouveia e Melo sabe que não é o único militar na corrida a Belém. O tenente-coronel Pedro Tinoco de Faria lançou a sua candidatura presidencial que tem como lemas: “Não ser o Presidente de todos”. O militar aposentado de 63 anos está confiante na recolha das assinaturas necessárias e diz que passará nos próximos tempos em por todas as capitais de distrito do país para recolher apoios.
Pedro Tinoco de Faria formou-se na Academia Militar e esteve 25 anos no Exército com passagem pelo Regimento dos Comandos, antes de fundar e liderar projetos na área da inteligência emocional. Como militar esteve destacado em vários cenários de conflito na Bósnia, no Kosovo, em Timor Leste e no Afeganistão, em representação da NATO e da ONU. A defesa dos guardas prisionais, agentes da polícia e outros membros das forças de segurança é uma bandeira central da sua campanha presidencial. Tinoco de Faria denuncia as “narrativas políticas” que fazem destes profissionais “demónios” e afirma que as forças armadas foram “completamente desmanteladas e destruídas”, desde o 25 de Abril.
Ao Observador, Tinoco de Faria conta que está a preparar um manifesto onde está a reunir as principais ideias das sua candidatura, entre as quais a abertura de um processo de revisão constitucional que teria como objetivo fazer uma transição do sistema político português para um regime presidencialista. Esta revisão da Constituição — documento que acredita que se tornou um “texto dogmático” — para aumentar os poderes presidenciais procura dar ao regime maior estabilidade governativa. O candidato assinala que em mais de meio século de democracia apenas seis Governos chegaram ao fim dos quatro anos previsto, acrescentando que nos regimes Presidencialistas o número é mais elevado. O militar aposentado propõe uma revisão da lei eleitoral, para criar círculos eleitorais uninominais e que o Presidente tenha a possibilidade de decretar a realização de referendos.
Por agora, também já disse que se for eleito prescinde do salário de Presidente da República, que doará para a Liga dos Combatentes, tendo como objetivo financiar o repatriamento de soldados da guerra do Ultramar, que diz que ainda estão nas antigas colónias portuguesas. Pedro Tinoco de Faria afirma igualmente que é contra a imunidade parlamentar dos deputados da Assembleia da República e contra a imunidade presidencial, assinalando que essa condição deu uma proteção que impediu o escrutínio de Marcelo Rebelo de Sousa aquando do caso das gémeas.
Sobre o ainda Presidente, o militar revela que votou em Marcelo Rebelo de Sousa em 2016, mas afirma que o Presidente “não soube desaparecer” e “estragou tudo” no segundo mandato presidencial, perdendo “a noção do que é a sensatez”. Contribuíram para esta posição os comentários sobre as reparações histórias às ex-colónias portuguesas e a condecoração do Presidente a Amílcar Cabral, líder do movimento de independência da Guiné-Bissau e Cabo Verde, com a medalha da Ordem da Liberdade. O pai de Pedro era capitão paraquedista e morreu em combate na Guiné, durante a guerra do Ultramar. De acordo com o candidato presidencial, Cabral terá celebrado a morte do seu pai numa rádio guineense. Lembrando essa história, chama “traidor” a Marcelo e pergunta a razão para este não ter condecorado a sua mãe, que é viúva de guerra.
Pedro Tinoco de Faria manifesta o seu desagrado com a “anulação da História de Portugal” que considera ter apagado os períodos de “esplendor” do passado português e criado “uma demonização dos portugueses como criminosos nos seus períodos de descoberta e de expansão marítima”. Outras dos temas que dominam a narrativa do militar aposentado são a imigração que considera estar “descontrolada” e a dificuldade em dar condições aos jovens portugueses no território nacional. Pedro Tinoco de Faria critica também aquilo que considera ser um sistema que promove a “vitimização” dos criminosos e o “desprezo” pelas vítimas”. “O Presidente da República tem de ser a voz destas pessoas. Doa a quem doer. Fira a quem ferir”, disse num vídeo de apresentação da candidatura.
Pedro Tinoco de Faria critica a classe política portuguesa por ter feito pouco além de “espetáculo mediático” e acusa os anteriores Presidentes da República de não conseguirem “dissociar da vassalagem ao seu grupo político”. O militar também escreveu, em publicações nas suas redes sociais, que “a Revolução de Abril não trouxe liberdade, porque não trouxe educação” e que a “Constituição da República é um texto blindado para manter o povo calmo e ignorante, convencido de que sabe”. Nesse sentido, uma das suas propostas eleitorais é que a reintrodução do serviço militar obrigatório, mesmo que de curta duração para que todos os portugueses saibam “o que é o dever de defender a pátria”.
O militar é a favor da continuação da NATO, mas contra a criação de um Exército Europeu — uma das questões que assume como referendável. Contra a “vassalagem do federalismo europeu” e reclamando mais soberania para o país, o candidato diz que “deixámos de ter uma voz no mundo” e que, neste momento, “Portugal não é nada”. Pedro Tinoco de Faria também lembra a ideia do Quinto Império para dizer que “depois de termos de ter perdido o nosso império, resta-nos a ética”, defendendo que Portugal se pode refundar, numa altura em que considera que vivemos uma “crise ética e moral muito grande”.
O candidato revela que nas duas últimas eleições legislativas votou no Chega por entender que o partido “representa uma voz dissonante”. No entanto, diz que não pertence ao partido e que tem apoiantes de esquerda, de direita e até monárquicos, sem que se identificar com qualquer nenhuma dessas posições. “As ideologias não trazem pão para casa”, afirma. Pedro Tinoco de Faria assume que aceitaria um apoio partidário do Chega com “muita gratidão”, mas sabendo que “não há almoços grátis”, sublinha desde já que que “não tem nada para dar”.
O militar aposentado, que tem apostado numa campanha digital, explica por que é que não quer representar todos os portugueses. “Não me assiste essa hipocrisia partidária ou ideológica, não irei proteger criminosos de sangue ou delito comum, nem o nepotismo e clientelismo partidário, nem políticos que fazem da política um modo de vida e não de servir, nem corruptos, nem violadores, nem imigrantes que cometam crimes em Portugal ou venham tentar impor as suas religiões ou costumes…não, destes, não serei Presidente, nem indultos ou clemencias serão concedidas”, afirmou nas redes sociais.