Um dos enigmas mais famosos da criptografia contemporânea pode, enfim, ter seu desfecho revelado. Mas não para todos. Jim Sanborn, de 79 anos, artista responsável pela escultura Kryptos, instalada no pátio da sede da CIA, na Virgínia, nos Estados Unidos, decidiu leiloar a solução do quarto e último painel da obra, o único que permanece indecifrado desde 1990.

O leilão está marcado para 20 de novembro e será conduzido pela RR Auction, que estima um valor entre US$ 300 mil e US$ 500 mil (de R$ 1,6 milhão a R$ 2,7 milhões, na cotação atual) a para o lance. O pacote inclui o manuscrito original com o texto decifrado, documentos do processo de codificação e uma placa de cobre usada como “prova de conceito” durante a criação.

— O que posso dizer? Estou cansado disso — disse Sanborn, que pretende destinar parte da quantia a programas voltados para pessoas com deficiência e reservar outra parte para eventuais emergências de saúde.

Um quebra-cabeça em quatro atos

Inaugurada em 1990, Kryptos é formada por chapas curvas de cobre com letras recortadas à mão, integradas a elementos como madeira petrificada, água e pedras. O nome vem do grego kryptos, “escondido”, referência direta ao mundo da criptografia.

A obra é dividida em quatro painéis:

  • K1 contém uma mensagem com um erro proposital na palavra “illusion”, criado para confundir decifradores.
  • K2 revela as coordenadas da sede da CIA e menciona “W.W.”, referência a William Webster, ex-diretor da agência.
  • K3 parafraseia o relato do arqueólogo Howard Carter ao abrir a tumba de Tutancâmon.
  • K4, o menor de todos, segue sem solução. Apesar de pistas reveladas em 2010, 2014 e 2020, o conteúdo integral continua sendo um mistério.

Cansaço e sucessão do enigma

Ao longo dos anos, Sanborn foi alvo de milhares de tentativas de solução enviadas por curiosos e especialistas. Chegou a cobrar US$ 50 por resposta curta para filtrar as mensagens, mas admite que a obra se tornou um “incômodo persistente”.

O artista afirma esperar que o comprador mantenha o segredo e, se possível, assuma a tarefa de responder a novas tentativas enviadas pela comunidade de entusiastas.

— O valor está em conhecer o segredo e ser a única pessoa a detê-lo — afirmou Bobby Livingston, vice-presidente da RR Auction.

Mais do que uma obra de arte, Kryptos se tornou um símbolo da cultura criptográfica, citado por autores como Dan Brown em O Código Da Vinci e O Símbolo Perdido.

A venda do último segredo marca não apenas o possível fim de um enigma que intrigou gerações, mas também a transferência do “poder do conhecimento” para um único comprador, um privilégio pelo qual muitos estão dispostos a pagar caro.

Acima de tudo, Sanborn seguiu em frente. Produziu muitas obras menos famosas pelo mundo que transitam entre arte e ciência, incluindo um comentário recente sobre antiguidades saqueadas e falsificação.

— Artisticamente, estou tão além de Kryptos que isso só me incomoda um pouco.