Três ataques de colonos na noite de quinta-feira e manhã desta sexta deixaram vários feridos e dois deles, um casal, tiveram mesmo de ser hospitalizados, segundo o diário Times of Israel. Nenhum dos ataques resultou em prisões.
Os ataques aconteceram depois de o ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, de extrema-direita e ele próprio colono, ter anunciado um plano de construções de mais casas junto de um colonato que irá liga-lo a Jerusalém, cortando efectivamente a cidade que os palestinianos querem para capital de um futuro Estado do resto do território e deixando a Cisjordânia dividida em dois.
O ataque que terá deixado o homem e mulher feridos aconteceu em Susya, a sul de Hebron, uma de várias localidades onde tem havido violência, não muito longe, no mês passado, um colono israelita matou o activista palestiniano Awdah Muhammad Hathaleen, professor de inglês, colaborador da revista israelo-palestiniana +972 e participante no documentário No Other Land, que foi distinguido com um Óscar.
O colono, Yinon Levi, sujeito a sanções de alguns países por violência contra palestinianos, foi brevemente detido, passando para prisão domiciliária e entretanto libertado, com o tribunal a dizer que o caso contra ele tinha perdido força.
Outro ataque ainda na noite de quinta-feira aconteceu na localidade de Atara, a norte de Ramallah, onde foram incendiados vários veículos de palestinianos.
Na sexta-feira de manhã, a agência palestiniana Wafa relatava que três jovens palestinianos foram feridos a tiro numa aldeia a leste de Ramallah, não muito longe de onde foram mortos dois residentes, um deles cidadão americano, noutro ataque de colonos em Julho.
A Cisjordânia está cada vez mais a ser palco de violência de colonos e também de operações do Exército, com muitas organizações a dizerem temer uma “gazificação” do território.
Morreram mais de mil palestinianos na sequência de ataques de colonos ou do Exército desde 7 de Outubro de 2023, diz o diário The Guardian.
Os habitantes de algumas aldeias acabaram mesmo por as deixar depois do constante assédio de grupos de colonos. O grupo Peace Now contou recentemente como centenas de residentes de Ma’arjat, uma aldeia a norte de Jericó, acabaram por decidir sair depois de um ataque de colonos, a última gota após ameaças constantes de grupos que se vinham a estabelecer em torno da localidade.
Nas semanas anteriores à saída destes habitantes do local, os colonos começaram a entrar nas suas casas, a sentar-se, horas a fio, nos seus quintais, ameaçando-os e exigindo-lhes que saíssem.
A organização B’Tselem diz que foram já sujeitas a deslocação forçada mais de 30 comunidades na Cisjordânia ocupada.
No Haaretz, um artigo da jornalista Amira Hass debruça-se sobre as acções do Exército na Cisjordânia, onde “cada soldado israelita faz o que quer, agindo como um comandante, sem qualquer medo dos superiores”, disse um habitante de uma localidade em que soldados ocuparam casas e levaram bens sem deixar qualquer documento mostrando o que foi levado.
Antes, contou, os soldados obedeciam aos superiores e era possível contactar um superior e ter “algum tipo de diálogo”. Hoje, contrapôs, isso é impossível.
Em Julho, o Exército levou a cabo mais de 1300 operações em bairros palestinianos, diz o artigo, com os residentes a suportar controlo, assédio, ataques e até roubos.
O artigo conta os casos de duas mulheres de partes diferentes da Cisjordânia: de um foram levados mais de 10 mil shekels (mais de 2,5 mil euros) deixando-lhe um documento citando regras de emergência do mandato britânico de 1945, no outro caso levaram dinheiro e jóias, sem deixar qualquer documentação.
As duas mulheres não dizem os seus nomes por medo de retaliação dos soldados – já aconteceu num caso de um vizinho, diz uma delas. É um padrão, sublinha o Haaretz também documentado por agências de defesa de direitos humanos, o facto de as pessoas não quererem fazer queixa ou sequer dizer os seus nomes por medo de retaliação.
Estas acções não são comparáveis às operações militares nos campos de refugiados de Jenin ou Tulkarm, sublinha o Haaretz, mas depois de 7 de Outubro de 2023, o Exército aumentou a presença na Cisjordânia, com mais operações e mais checkpoints no interior do território ocupado.