“Foi tudo demasiado rápido”. O vento soprava forte e o incêndio, que começara há pouco mais de uma hora, avançava sem dar tréguas em Pêra do Moço, na Guarda. Carlos Dâmaso, na casa dos 40 anos, ex-presidente da junta de freguesia de Vila Franca do Deão tentava combater as chamas. Foi a primeira vítima mortal do fogo que deflagrou esta sexta-feira de manhã.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e o primeiro-ministro, Luís Montenegro, já apresentaram as condolências à família da vítima.
Com Carlos Dâmaso estava o actual presidente da junta, Pedro Prata, que recordou, em declarações à RTP3, como tudo aconteceu: “Tentámos combater o incêndio, mas o facto de o vento ser muito forte dificultou imenso e quando nos apercebemos, galgou aquela zona mais limpa [onde estavam].” Como o incêndio estava numa fase inicial, ainda não havia operacionais no terreno.
Entre as 11h e o meio-dia — hora que Pedro Prata não consegue precisar —, a ausência de Carlos Dâmaso começou a ser notada. Um homem com queimaduras graves nas costas conseguiu afastar-se do fogo e pedir ajuda. Foi levado para o hospital da Guarda e depois transferido para o hospital de Coimbra. Pouco tempo depois, confirmou-se que Carlos Dâmaso tinha morrido no combate às chamas. A morte foi confirmada à Lusa pelo presidente da Câmara da Guarda, Sérgio Costa. De acordo com a CNN Portugal, Carlos Dâmaso tentava manter as chamas afastadas do seu terreno, onde tinha gado.
Autarca durante 12 anos, eleito pelo PS, era uma figura conhecida e querida na freguesia. “Trabalhei com ele enquanto tesoureiro. Era um jovem da terra, uma pessoa bem-disposta, divertida. Não há mesmo palavras. É muito duro”, relatou.
Quatro anos depois de ter deixado a junta, Carlos Dâmaso era novamente recandidato ao cargo, desta vez pelo Movimento Independente.
Marcelo e Montenegro cancelam as férias
A morte do ex-autarca motivou mensagens de pesar do Presidente da República e do primeiro-ministro.
Numa nota no site oficial da Presidência publicada esta sexta-feira, lê-se que Marcelo Rebelo de Sousa, “que interrompeu as suas férias e regressou ontem ao Palácio de Belém, onde ficará nos próximos dias a acompanhar a grave situação dos incêndios rurais, apresentou, ao princípio da tarde, sentidas condolências ao presidente da Câmara Municipal da Guarda pelo falecimento do antigo autarca Carlos Dâmaso, vítima de um incêndio que combatia na sua freguesia, solicitando que as transmitisse à família”.
O chefe de Estado seguiu depois para a sede da Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil (ANECP), em Carnaxide, para uma reunião em que o primeiro-ministro, Luís Montenegro, também participou.
No final da reunião, o chefe do Governo, que também cancelou as férias que tinha até ao próximo dia 22, escreveu na rede social X: “Na Protecção Civil fizemos um ponto de situação sobre os terríveis incêndios que afectam Portugal e que provocaram um morto na Guarda. Deixo as nossas condolências aos seus familiares e a homenagem a todos os homens e mulheres que continuam bravamente a lutar.”