Encontrei na “Ma Petite Librairie”, encantadora livraria francesa para os lados da Foz, um livro delicioso. Chama-se “Visa pour Le Portugal”, escrito por Ianis Periac, jornalista que nos conhece argutamente e, para os “viajantes curiosos”, condensa os nossos hábitos, tiques, manias e humores, num retrato cheio de perspicácia e simpatia.

Na letra M, em “Milagre”, diz, entre outras coisas: “O milagre português é também o do turismo no Porto e em Lisboa. O que salvou as duas cidades da agonia. É um milagre, dizemos muitas vezes. Este país tornou-se o mais atractivo do mundo. A gentileza dos habitantes, o sol, a cultura, a energia, a gastronomia, as paisagens, o oceano, a pujança criativa. Um milagre. E não há outras explicações”.

Comparado com o que arengam por aí alguns, estas palavras, ditas por gente de fora, compensam o chorrilho de lixo que nos entra em casa através de écrans e inefáveis redes sociais. Disseram-me que, na Baixa, não se vê um português e está tudo um caos. Lembram-se como estava a Baixa há dez, vinte anos? Ruína, abandono, decadência. E andam por lá os portuenses mas, com a revolução no vestuáio, não se distinguem dos estrangeiros. Libertaram-se dos preconceitos. E, sobretudo, ninguém, seriamente, pode afirmar como será o futuro da Baixa quando acabarem as obras gigantescas que a afectam, a requalificação estiver concluída e o turismo e a habitação forem colocados nos lugares certos, coexistindo no desenvolvimento da cidade. Estaremos a construir o futuro? Tenho esperança de que, com rigor e alguma inteligência, poderá ser melhor que o presente.

*O autor escreve segundo a antiga ortografia