Cerca de uma semana antes do lançamento de Entitled: The Rise and Fall of the House of York, o livro do historiador britânico Andrew Lownie sobre o príncipe André, novas revelações vêm à tona, incluindo episódios de bullying a funcionários do palácio, relatos de encontros sexuais e a alegada intenção de Jeffrey Epstein de vender informações deste membro da realeza a serviços secretos.

Andrew Lownie publicou um excerto do livro este fim de semana no Daily Mail, onde fala de uma alegada luta entre o duque de Iorque e o sobrinho, o príncipe Harry, que já veio entretanto negar as afirmações. Agora a imprensa internacional avança com novos relatos, que corroboram a reputação já manchada do filho da rainha Isabel II, que se afastou das funções oficiais como membro da realeza em 2019, diante da polémica relação com Jeffrey Epstein.

O autor de Entitled: The Rise and Fall of the House of York alega que materiais comprometedores do príncipe André terão sido oferecidos à Mossad, às autoridades da Arábia Saudita e aos serviços secretos líbios sob o comando de Kadhafi. As informações do livro são baseadas no documentário feito pelo jornalista canadiano Ian Halperin, que de acordo com Lownie, terá ouvido “muitas fontes íntimas de André” que confirmaram as negociações com agências do Médio Oriente.

Em 2020 Halperin escreveu sobre o duque de Iorque no livro Controversy: Sex, Lies and Dirty Money by the World’s Powerful Elite, onde relata uma conversa que alegadamente terá tido com Epstein em 2001, em que este diz que a família real britânica é “completamente brilhante” por serem “os filhos da mãe mais ricos do mundo”, enquanto coletam dinheiro dos contribuintes britânicos. Andrew Lownie diz ao The Times que “não acredita em tudo” o que Halperin escreveu no livro, mas que foi capaz de “verificar” algumas das informações.

No livro, o autor diz ainda que “outras fontes” alegam que Epstein tinha conexões no Kremlin e pode ter sido um “agente de influência” para Vladmir Putin. Lownie cita que o empresário norte-americano condenado por fraude Steven Hoffenberg afirmou que Epstein pretendia vender segredos de André à Mossad. “O príncipe era um idiota útil que dava respeito e acesso a líderes políticos e oportunidades de negócios. Epstein achava-o fácil de explorar”, escreve Lownie no seu livro.

Lownie faz ainda um retrato cruel do príncipe André para com os seus empregados. Num episódio relatado no livro, o duque de Iorque terá chamado imbecil a um funcionário. A ofensa terá sido proferida depois de uma tempestade no norte da Irlanda em 2005, quando o príncipe André perguntou ao responsável pelo castelo de Hillsborough, uma das propriedades da realeza na região, se havia sido registado algum dano. “Sim, senhor. A árvore que foi plantada pela rainha Mãe”, terá respondido David Anderson, que terá sido interpelado pelo príncipe, a zombar: “Está a falar da rainha Elizabeth, a rainha Mãe?”

“Perguntou ao pobre homem há quanto tempo trabalha para a família real. Anderson respondeu: ‘juntei-me em 1984, senhor’. ‘E ainda não sabe como se referir propriamente à minha avó? Seu imbecil, saia“, terá dito o príncipe André, de acordo com o livro de Lownie. Outro funcionário do palácio, Colin Burgess, descreve André como um “homem muito desagradável”. A trabalhar por muitos anos para a rainha Mãe, Burgess diz que sempre foi tratado com desdém pelo duque de Iorque, diferente da forma como Carlos, William e Harry o tratavam. Já Wendy Berry, uma empregada de limpeza de Highgrove cujo filho trabalhou no Palácio de Buckingham, diz que para André os funcionários eram “praticamente invisíveis, estavam lá para servir, não para questionar”.

[Um jovem polícia é surpreendido ao terceiro dia de trabalho: a embaixada da Turquia está sob ataque terrorista. E a primeira vítima é ele. “1983: Portugal à Queima-Roupa” é a história do ano em que dois grupos terroristas internacionais atacaram em Portugal. Um comando paramilitar tomou de assalto uma embaixada em Lisboa e esta execução sumária no Algarve abalou o Médio Oriente. É narrada pela atriz Victoria Guerra, com banda sonora original dos Linda Martini. Ouça o terceiro episódio no site do Observador, na Apple Podcasts, no Spotify e no Youtube Music. E ouça o primeiro episódio aqui e o segundo aqui]

Entretanto, no excerto que Lownie publicou no Daily Mail no fim de semana, o autor dá grande destaque aos relatos de encontros sexuais e às acusações de assédio contra o príncipe. O autor alega que o príncipe André terá tido relações sexuais com mais de mil mulheres ao longo da vida, e relata vários encontros e alegados episódios de assédio sexual protagonizados pelo membro da realeza.

Entre os vários episódios relatados, uma correspondente da Reuters terá afirmado que André recebeu mais de 40 mulheres no seu quarto de hotel em Bangcoque em 2006, quando o príncipe viajou ao país para representar a rainha Isabel II nas celebrações do jubileu de diamante do Rei da Tailândia. Uma modelo que alega ter tido encontros com André em 1980 diz que o príncipe tinha um “casamento aberto” com Sarah Ferguson. Uma ama que trabalhou no palácio alega que deixou o emprego por causa das abordagens do príncipe. A massagista Emma Gruenbaum, que trabalhava num clube de golfe frequentado pelo príncipe, relata que André insistia em estar nu, apesar das suas objeções, e que as massagens decorriam no quarto, onde ele tentou abraçá-la e fez perguntas de cunho íntimo. O autor escreve mesmo que o duque de Iorque espiava bailarinas atraentes do Royal Ballet e fazia um funcionário enviar-lhes convites para o conhecerem depois do espetáculo. Lownie afirma que uma fonte terá dito que André “gosta de ter mulheres entregues numa bandeja e quanto mais curta a saia melhor”.

O retrato de um príncipe arrogante, egocêntrico e com compulsão sexual criado por Andrew Lownie neste livro, vem das entrevistas do historiador a cerca de 300 pessoas, das mais de três mil que o autor alega ter contactado, incluindo amigos de infância, colegas de trabalho, antigos funcionários, diplomatas, jornalistas, entre outros. “Abordei os Iorque para que pudessem ajudar a construir a narrativa ao encorajar amigos e associados a falarem comigo, mas decidiram não cooperar. Durante anos foi criada uma narrativa cuidadosa do casal, protegida por um exército de advogados e relações públicas. A equipa do casal foi forçada a assinar acordos de não divulgação”, escreve Andrew Lownie. O livro será publicado a 14 de agosto no Reino Unido e ainda não há previsão de quando será traduzido para o português.