São cerca de 80 minutos que levam o espectador diretamente para os anos 80. A refilmagem de Corra que a Polícia Vem Aí! (1988) é isso: curta, grossa e nostálgica. Não deve se dirigir ao cinema quem não gosta de um bom besteirol com piadas chulas, nem quem está em busca de algo inovador. É um filme de zoeira atrás de zoeira, que tenta fazer graça até nos créditos finais (há um teste oftalmológico entre os nomes de quem participou das gravações).

O tira atrapalhado Frank Drebin foi consagrado por Leslie Nielsen (1926-2010), um ator que em boa parte da carreira encarnou papeis sérios e se transformou em comediante somente depois dos 50 anos pelas mãos de Jim Abrahams e David e Jerry Zuckers, os criadores do Corra que a Polícia Vem Aí! original. E Nielsen mergulhou fundo nessa reinvenção. Tanto que levava para as entrevistas uma traquitana que emulava flatulências. Sua missão passou a ser fazer rir, tanto dentro como fora das telas.

No novo filme, o papel principal foi dado a Liam Neeson, ator da Irlanda do Norte que despontou em películas nobres, reinventou-se neste século como protagonista de filmes de ação e, aos 73 anos, pode estar iniciando uma metamorfose cômica. Ele faz Frank Drebin Jr., filho do lendário policial, com a mesma imperícia para viver em sociedade e executar as tarefas mais simples. Ao mesmo tempo, pode trucidar uma gangue de ladrões de banco com facilidade, como na cena que abre Corra que a Polícia Vem Aí!, que só não tem mais graça porque já tinha sido usada no teaser de promoção do filme.

O tenente, a loira e o cão

Drebin Jr precisa desvendar as conexões entre o tal assalto e um acidente de carro que vitimou o irmão de Beth Davenport (Pamela Anderson), que vira seu par romântico e companheira de palhaçadas. As investigações levam ao magnata Richard Cane (Danny Huston), que pretende transformar os habitantes da Terra em primatas com a ajuda de um artefato tecnológico. Batizado de Projeto Inferno, o plano será executado enquanto Cane e seus fieis escudeiros se refugiarão num bunker curtindo um show de “Weird Al” Yankovic (que também participa do filme de 1988).

A melhor sequência do longa se dá na primeira vez em que Beth vai para a casa de Drebin. Um capanga de Cane observa os pombinhos interagirem da cobertura de outro prédio usando binóculos que atravessam as cortinas e captam as silhuetas. Na presença do cachorro de Drebin, o casal faz uma série de estripulias na cozinha que, aos olhos do capanga, parecem mais cenas de uma fita pornográfica proibidona.  

Há também piadas com puns, disenteria e fezes de animais. Portanto, Corra que a Polícia Vem Aí! não é recomendado para estômagos fracos. Mas sua curta duração faz com que o pacote indigesto de gags não pese tanto. Com produção de Seth MacFarlane (Ted, Family Guy) e direção de Akiva Shaffer (autor de inúmeros quadros do Saturday Night Live), a comédia passa no teste do humor nonsense, sem qualquer concessão a modismos atuais, o que a conecta totalmente com o clima oitentista. No mínimo, é uma justa homenagem a Leslie Nielsen, que deve estar com sua máquina de peidos atazanando alguém lá no céu neste momento.

  • Corra que a Polícia Vem Aí!
  • 2025
  • 85 minutos
  • Indicado para maiores de 14 anos
  • Em cartaz nos cinemas

VEJA TAMBÉM: