Nos últimos anos, as injeções conhecidas como Ozempic tornaram-se quase um fenómeno global, inicialmente pelas suas propriedades para o controlo da diabetes tipo 2, mas rapidamente ganharam fama por uma razão diferente: ajudar na perda de peso.

Celebridades, digital influencers e pessoas comuns partilham online as suas experiências com este medicamento e, dado o sucesso, rapidamente surgiram outras variantes mais vocacionadas para o emagrecimento, como o Wegovy e o Zepbound. 

Enquanto a popularidade destes medicamentos cresce, também a comunidade científica se dedica a investigar o impacto mais alargado destas substâncias na saúde humana e as últimas descobertas são, no mínimo, curiosas.

Um estudo recente, publicado na prestigiada revista científica JAMA Network Open, sugere que estes medicamentos podem ter benefícios muito além da balança e da diabetes.

A investigação acompanhou 60 mil pessoas com obesidade e diabetes tipo 2 durante sete anos e metade dos participantes recebeu tratamentos com agonistas do receptor GLP-1 (peptídeo semelhante ao glucagon tipo 1, hormona envolvida na regulação do açúcar no sangue e no controlo do apetite), como o Wegovy e o Mounjaro, enquanto a outra metade tomou medicamentos antidiabéticos tradicionais.

Os resultados surpreenderam: quem estava a usar os tais medicamentos injetáveis apresentava, no final do estudo, um risco 37% inferior de desenvolver demência e uma redução de 19% no risco de sofrer um AVC (Acidente Vascular Cerebral).

Os autores do estudo sugerem que estas injeções poderão oferecer benefícios neuroprotetores e vasculares, para lá do simples controlo da glicose no sangue, e em adultos com diabetes tipo 2 e obesidade parecem melhorar as perspetivas de saúde a longo prazo.

No entanto, os cientistas sublinham que é necessário aprofundar a investigação para perceber se os efeitos sobre o cérebro e os vasos sanguíneos são diretos ou apenas consequência da melhoria geral da saúde metabólica. “É muito provável que controlar eficazmente a diabetes e a obesidade ajude a reduzir os riscos de demência e AVC, pois sabemos que são fatores de risco claros”, afirma professora Tara Spires-Jones, do Centro para Ciências do Cérebro da Universidade de Edimburgo.