“É um sonho tornado realidade!”, atira, sem hesitar, Núria Salgado, sorrindo. Bisneta de pescadores, filha do mar, encarnou a Senhora da Assunção na maior procissão da Póvoa de Varzim. Segue no cortejo religioso, todos os anos, “desde pequenina”. Este ano, no “grande dia”, recebeu a boa nova: seria a figura principal, a padroeira dos pescadores. Não esconde o orgulho e o nervosismo. “É uma honra e uma responsabilidade”, pela qual esperou “vários anos”.
“São os pescadores que carregam estes andores. As pessoas aqui têm muita fé na Senhora da Assunção. É sempre uma procissão muito, muito bonita”, afirma Conceição Matos, que veio de Barcelos de propósito para assistir à festa.
Núria Salgado
Foto. DR
Barcos abençoados
A Senhora da Assunção é uma procissão sentida. A festa tem mais de dois séculos. A maior parte dos cerca de 200 figurantes descende da comunidade piscatória ou tem família ligada ao mar e os muitos que carregam os dez andores são pescadores.
Conceição vê, uma a uma, as imagens saírem da Igreja da Lapa. Atravessa a rua e vai até à marginal. Ali, o andor da Senhora da Assunção vira-se para o mar, abençoando os barcos da terra que, engalanados com bandeirinhas coloridas, a saúdam. Os pescadores pedem-lhe proteção para mais um ano de faina. É aos céus que se agarram nas horas de aflição.
Neste dia, a Póvoa de Varzim enche-se de gente como nunca. Vêm de todo o país, muitos em excursões organizadas. Os trajes, muitos de veludo, são quentes e o dia foi de muito calor. O percurso é longo – mais de duas horas a andar – e a “Senhora” segue todo o caminho de braços no ar e olhos postos no céu, em oração. É duro, mas “quem anda por gosto não cansa”. Ser a padroeira dos pescadores exige fé, sentimento e, quase sempre, um percurso de anos a seguir na procissão.
Festas até dia 22
Núria enfeita os altares e veste a imagem da “Senhora” que segue no andor, há vários anos, com a avó. Corre-lhe no sangue a fé dos pescadores. Respira fundo, olha os céus, abre os braços e encarna a personagem na perfeição. A “honra” não se repete, que a lista de espera é grande. O orgulho de ter sido “a padroeira”, esse, fica para sempre. As festas terminam dia 22, com o beija-mão da Senhora entre as 9 e as 21 horas.