“Quero voltar a ser como antes”. Essa é uma frase que a ginecologista Maria Luiza Nagel ouve de suas pacientes que estão no climatério ou já estão passando pela menopausa. Isso porque esta é uma fase na vida de mulheres, que têm entre 45 e 55 anos, onde ocorrem mudanças significativas tanto físicas quanto mentais, que afetam, também, a produtividade e o foco no ambiente profissional, com as chamadas “névoas mentais”.
Continua depois da publicidade
A especialista em menopausa conta que este período propriamente dito acontece quando a mulher fica 12 meses consecutivos sem menstruar. É nesta fase que a produção de folículos reprodutivos e a produção de estrogênio e progesterona, essenciais para a fertilidade, cessa. Entretanto, existe o climatério, uma fase de transição entre a vida reprodutiva da mulher e a menopausa, que inicia por volta dos 40 anos.
Nesta fase, a mulher pode sentir muitos sintomas relacionados à queda dos hormônios, confundidos, muitas vezes, com exaustão no trabalho, por exemplo. De acordo com dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 30 milhões de mulheres no Brasil estão vivendo na faixa etária do climatério e menopausa, o que representa por volta de 7,9% da população feminina.
Em Santa Catarina, não há dados específicos sobre quantas mulheres estão nessa fase, mas considerando a faixa etária de 45 a 54 anos, 504.923 mulheres podem estar passando pela menopausa ou climatério, segundo dados do Censo 2022 do IBGE.
Nestas idades, muitas mulheres estão no auge da carreira profissional, com conquistas sendo feitas e a estabilidade no trabalho se formando. Entretanto, o climatério e a menopausa podem ser grandes obstáculos. Fogachos — os chamados “calorões” —, lapsos de memória, esquecimento e irritabilidade são sintomas de ambos os períodos, e podem aparecer a qualquer hora do dia, inclusive no trabalho.
Continua depois da publicidade
É assim com Lúcia Maria Garcia, de 55 anos, que começou a sentir os efeitos da menopausa há cerca de três anos. Ela trabalha como secretária em uma clínica médica e sempre sentiu que dava conta de tudo, mas agora observa que as coisas estão diferentes, com episódios de esquecimento e cansaço extremo cada vez mais frequentes.
— Antes, eu trabalhava o dia inteiro, sempre trabalhei muito, até tarde, dava conta em tudo. Hoje em dia, eu ainda trabalho bastante, mas sinto que eu não rendo como antes antigamente. Eu não consigo acabar tudo que eu tinha para acabar em um dia, por exemplo — lembra Lúcia.
Ela conta que se sente mais estressada, sem paciência, e que sua maior dificuldade, atualmente, é dormir uma noite inteira sem acordar no meio do sono. De acordo com a médica Maria Luiza, esse tipo de sintoma também é comum.
A médica, que já acumula quase 19 mil seguidores em uma rede social, explica que os lapsos de memória, por exemplo, atrapalham o desempenho profissional principalmente em profissões que exigem clareza mental, como os professores, palestrantes e, também, advogados. Já o estresse repentino pode fazer com que a mulher perca a paciência facilmente e, segundo Maria Luiza, pode ser difícil que outras pessoas compreendam.
Continua depois da publicidade
— Antigamente, essas mulheres mais sintomáticas nesse sentido eram consideradas loucas, porque realmente é uma fase difícil para elas — aponta a ginecologista.
Mudança de identidade
É comum nessa fase, segundo a médica, que a mulher sinta uma “mudança de identidade”, com dificuldades para se relacionar com amigos e romanticamente, porque “a mulher se sente diferente, então tudo muda”.
— Se a mulher chega no climatério tendo esse entendimento, tudo fica mais fácil. É mais fácil compartilhar com o companheiro, com os filhos, com as amigas. É super importante isso, pois a mulher é feita de conexões. É uma fase de mudanças que pode ser equilibrada — diz.
Muitas vezes, essa mudança pode ser confundida, também, com depressão, pois a mulher pode querer ficar mais quieta, isolada, mas a médica alerta: isso, na maioria dos casos, não é depressão.
Continua depois da publicidade
— Isso pode ser consequência dessas alterações hormonais que estão acontecendo. Ela pode desenvolver uma depressão? Pode. Isso tem que ser bem avaliado, mas na maioria das vezes quando ela está nesse momento, tem relação com o declínio hormonal — aponta.
Outros sintomas frequentes estão relacionados à perda da autoestima da mulher, como alterações metabólicas que a fazem ganhar peso. A médica conta que é comum que haja aumento de peso nesta fase de transição, já que o déficit estrogênico pode aumentar a vontade por doces, desacelerar o metabolismo e causar resistência à insulina, contribuindo para a obesidade.
Entenda outros sintomas comuns
- Cansaço e fadiga, que pode ser confundida com a rotina acelerada;
- Dificuldade para dormir;
- Taquicardia que, embora seja menos comum, pode levar a mulher a buscar especialistas;
- Diminuição da libido.
Terapia de reposição hormonal
Lúcia Maria conta que um dos únicos sintomas que não a afeta são os fogachos. Isso porque, desde os 49 anos, ela faz uso da terapia de reposição hormonal (TRH). Além disso, ela também faz uso do DIU Mirena, um método contraceptivo que também auxilia no equilíbrio de hormônios.
Continua depois da publicidade
A ginecologista também defende que a terapia de reposição hormonal (TRH), quando não há contraindicações, pode melhorar significativamente a fase de transição do climatério para a menopausa, ajudando em sintomas como a memória, libido, foco, qualidade de sono e prevenindo, ainda, doenças futuras como osteoporose e doenças cardiovasculares.
A reposição pode ser iniciada já no período do climatério, segundo a ginecologista, com o uso de estrogênio e progesterona. As principais contraindicações para a TRH incluem pacientes que já tiveram câncer de mama ou possuem histórico de trombose.
Entretanto, nesses casos, há outras formas de aliviar os sintomas desse período, como o uso de suplementos específicos recomendados pelo médico; a realização de atividade física, que é considerada fundamental pela especialista na melhora do sono e do metabolismo; e uma alimentação adequada.
Essa recomendações, inclusive, valem para todas as mulheres que estão passando pela menopausa ou pelo climatério, independentemente se estão fazendo a reposição hormonal, segundo a médica.
Continua depois da publicidade
— A gente usa, hoje, terapias diferentes das que eram usadas antigamente que vão melhorar muito a qualidade de vida da mulher. Precisamos tirar o medo e ter coragem de entender e de procurar um profissional para iniciar a terapia hormonal, se não tiver nenhuma contraindicação, com segurança — afirma Maria Luiza.
Leia também
Veja como o climatério e a menopausa afetam a saúde das mulheres
Como a menopausa pode ser um marco para o recomeço